O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, chamou de “ameaças” as exigências da União Europeia para a finalização de um acordo comercial com o bloco sul-americano Mercosul. A fala do brasileiro ocorreu nesta sexta-feira (23/06) durante a Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, evento em Paris convocado pelo presidente da França, Emmanuel Macron.
Lula defendeu a assinatura do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, mas criticou um documento adicional de Bruxelas que prevê sanções mais duras contra o desmatamento.
“Eu estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Mas não é possível, a carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta, e vamos mandar a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que nós temos uma parceira estratégica, e haja uma carta adicional que faça ameaça a um parceiro estratégico”, disse.
A negociação entre os blocos acontece desde 1999. As conversas avançaram para que em 2019 fossem fechadas as negociações no âmbito comercial e, em 2021, finalizadas as que são relacionadas em áreas da política e cooperação. Após esses dois períodos, o acordo está em estágio de revisão, quando será assinado.
O presidente brasileiro já havia falado durante sua visita a Roma, na Itália, que a proposta da União Europeia ao Mersocul era 'inaceitável'. Isso porque, segundo ele, europeus estabelecem “punições” aos países que não cumprem o Acordo de Paris, quando eles próprios não respeitam o acordado.
Lula disse que os países pobres são “exportadores de matéria-prima” e não ficam com os resultados do que produzem, ressaltando a necessidade de mudar essa realidade.
Ricardo Stuckert
Lula defendeu assinatura do acordo comercial UE-Mercosul, mas criticou um documento adicional
“Você sabe, Macron, que eu considero a UE como patrimônio democrático da humanidade. Após duas guerras mundiais, vocês construíram a União Europeia, conseguiram criar um Parlamento. É algo que eu quero para a América do Sul”, enfatizou Lula.
O discurso de Lula ainda abordou outros pontos, como a desigualdade, fome, meio ambiente e a defesa de uma moeda para comércio entre países. “Tem gente que se assusta quando eu falo que é preciso criar novas moedas em novos comércios. Não sei por que o Brasil e a Argentina tem que fazer comércio em dólar, por que a gente não pode fazer nas nossas moedas. Eu não sei por que o Brasil e a China não podem fazer nas nossas moedas, por que que eu tenho que comprar dólar”, declarou.
Já sobre a questão climática, Lula disse que o tema não é “secundário” e voltou a afirmar que o Brasil vai, até 2030, acabar com o desmatamento no Brasil: “e vamos e chamar os países do mundo para debatermos com seriedade as mudanças climáticas e o combate à desigualdade”.
O presidente brasileiro ainda criticou o funcionamento de instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial que, segundo ele, não representam hoje a mesma realidade de quando foram criadas.
“Não podemos deixar as instituições funcionando de maneira equivocada. A ONU precisa voltar a ter representatividade, ter força política”, enfatizou o líder brasileiro.
(*) Com Ansa e Sputnik News.