A reunião entre Emmanuel Macron e Antony Blinken não estava prevista na agenda. Em clima de seriedade, o presidente francês recebeu nesta terça-feira (05/10) em Paris o chefe da diplomacia norte-americana para preparar as “decisões concretas” que serão anunciadas no final de outubro, durante a cúpula entre Macron e Joe Biden, que visa superar a crise dos submarinos entre os dois aliados.
A longa reunião em Paris deve “contribuir para restaurar a confiança entre França e Estados Unidos”, após a crise inédita entre os dois países, que começou em meados de setembro, informou o Eliseu.
A tensão teve início após o anúncio de uma aliança estratégica no Indo-Pacífico entre Estados Unidos, Austrália e Reino Unido para conter a China na região. A nova parceria levou Camberra a cancelar o chamado “contrato do século” de compra de submarinos franceses, em prol de equipamentos norte-americanos, desencadeando uma reação indignada de Paris
A França convocou seus embaixadores na Austrália e nos Estados Unidos para consultas. A situação começou a se acalmar após uma conversa pelo telefone entre Macron e o presidente norte-americano Joe Biden. Paris decidiu então autorizar a volta do embaixador francês para Washington.
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Tensão entre Paris e Washington começou após aliança militar dos EUA com Reino Unido e Austrália
Grandes desafios
Segundo a Presidência francesa, a reunião com Blinken permitiu que os dois países “continuem os esforços de coordenação dos grandes desafios de interesse comum, seja na cooperação União Europeia-Otan, no Sahel ou na região Indo-Pacífico”.
De acordo com um alto responsável norte-americano, houve um consenso sobre “reforçar a coordenação” bilateral, embora ainda “seja muito difícil identificar as decisões concretas” que serão tomadas na cúpula entre os presidentes Biden e Macron em outubro na Europa.
A nova visita do chefe da diplomacia norte-americana a Paris foi menos calorosa que no passado, quando o secretário de Estado, que viveu na capital francesa, foi saudado com um “bem-vindo ao lar”. O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, recebeu Blinken, mas evitou aparecer com ele em público e nenhuma entrevista coletiva dos dois chanceleres foi organizada.
Desde o início da crise dos submarinos, o tom mudou completamente. Jean-Yves Le Drian denunciou “um golpe pelas costas” digno da era Trump.
França não está isolada
Para mostrar que a França não está isolada, o chanceler francês conversou na segunda-feira (04/10) com os ministros das Relações Exteriores da Alemanha, Espanha e Polônia, assim como com o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
“Essa crise coloca em jogo os interesses de todos os europeus sobre o funcionamento de nossas alianças e o compromisso dos europeus no Indo-Pacífico”, ressalta uma fonte da diplomacia francesa. A União Europeia já havia declarado seu apoio à França nessa crise.
O chefe da diplomacia americana veio a Paris participar nesta terça e quarta-feira de uma reunião ministerial da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE). Da capital francesa, ele viaja ao México em 8 de outubro.