Produto do fortalecimento do pensamento religioso e conservador na população, o governo da Malásia decidiu oferecer seminários para auxiliar professores e pais de alunos para identificar “sintomas” de crianças homossexuais.
Até agora, a Fundação de Professores da Malásia já organizou dez seminários em diferentes partes do país. Nada menos que 1.500 pessoas compareceram a uma das aulas mais recentes do curso nesta quarta-feira (12/09).
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Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o porta-voz da instituição classificou os encontros como “eventos multireligiosos e multiculturais”, já que “afinal, todas as religiões são basicamente contrárias a esse tipo de comportamento”.
A imprensa local teve acesso a uma cartilha distribuída pela fundação àqueles que se inscreveram no curso. Segundo o dossiê, pais e professores devem se atentar a “sinais” de homossexualidade, como a preferência de meninos por mochilas maiores e roupas mais apertadas e coloridas. No que diz respeito às meninas, os detalhes eram menos precisos. Garotas com “tendência ao lesbianismo” não possuem carinho por meninos e gostam de sair e dormir na companhia de mulheres.
O último seminário foi liderado pelo vice-ministro da Educação, Puad Zarkashi. Segundo a agência oficial de notícias Bernama, na ocasião ele se disse capaz de identificar os elementos que “contaminam” os jovens com uma vida “pouco saudável”. “Estudantes são facilmente influenciados por sites e blogs de grupos LGBT e isso pode se espalhar entre seus amigos”, alegou.
Homofobia
A intolerância institucionalizada contra gays na Malásia ganhou força nos últimos meses. Em 2011, o estado de Terengganu resistiu às críticas de organizações internacionais e construiu um “acampamento” para ensinar “garotos afeminados” a virarem homens. Em março, o governo anunciou que estava trabalhando para eliminar o “problema do homossexualismo”, especialmente entre as famílias muçulmanas, que compõem 60% da população.
A Malásia não aprova o sexo oral ou o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, argumentando que essas práticas vão contra a ordem natural. Segundo a legislação local, os “culpados”, sejam homens ou mulheres, podem ser multados, espancados ou mesmo presos por mais de 20 anos.
Denúncias desse tipo na justice não são comuns, ainda que o ex-vice-primeiro-ministro Anwar Ibrahim tenha sido julgado em duas ocasiões por supostos “crimes de sodomia”. O argumento do governo era de que aquilo representava uma conspiração política. Mesmo assim, o político permaneceu seis anos preso.