Num dia de manifestações oficiais simultâneas em 73 cidades do planeta, São Paulo voltou às ruas neste sábado (13/10) para clamar pelo cessar-fogo imediato e definitivo do Estado de Israel na Faixa de Gaza. Informalmente, integrantes da organização do ato, liderado pela Frente em Defesa do Povo Palestino, falaram em 5.000 presentes, um número menor que o das manifestações do final de 2023 (em 4 de novembro, falou-se em 10 mil pessoas na passeata pela avenida Paulista e pela rua da Consolação). A Polícia Militar do Estado de São Paulo não divulgou estimativa de público.
Participaram do ato bandeiras diversas de movimentos sociais, populares e da juventude, partidos políticos de esquerda, sindicatos de trabalhadores e entidades de defesa dos direitos humanos, mas, mais uma vez, os microfones do carro de som não registraram a voz de autoridades políticas de peso. Pelo Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo, falou um representante do diretório regional do Butantã, na capital.
Pontificaram falas de integrantes de partidos como Psol, PCB, PCO e PSTU, via de regra elogiosas ao apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ação apresentada pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça, em Haia, mas críticas ao fato de o governo federal não suspender relações diplomáticas e comerciais com o Estado israelense. Em várias falas, essas críticas se estenderam aos governos estaduais e às universidades brasileiras.
Coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino, a jornalista palestina-brasileira Soraya Misleh mencionou a maioria de crianças entre os mais de 30 mil palestinos mortos ou desaparecidos nos quase cem dias de duração da guerra. “Israel não tem o direito de exterminar o povo palestino”, completou Débora Lima, coordenadora nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), entre manifestações do MST (Movimento Sem Terra) e das Mães da Resistência, de apoio à juventude LGBTQIAP+.
As palavras “genocídio” e “apartheid” foram onipresentes nas falas de denúncia dos crimes de guerra por parte do Estado de Israel. Falando em nome do Movimento Negro Unificado (MNU), a codeputada estadual Simone Magalhães, do Psol, referiu-se a traços comuns entre as populações negras brasileira, sul-africana e da diáspora africana, remetendo ao simbolismo de ter sido a África do Sul o país a denunciar Israel em Haia: “O povo negro brasileiro, sul-africano e da diáspora africana está solidário com a Palestina porque só o povo que já viveu genocídio e apartheid, e que sofre com as armas de Israel nas favelas e periferias brasileiras, sabe o que é o etnocídio de Israel”.
Pedro Alexandre Sanches
Ao menos 5 mil pessoas participaram do ato na Avenida Paulista, em São Paulo
A caminhada teve momentos de tensão, o principal deles na esquina da avenida Paulista com a rua Haddock Lobo, quando manifestantes iniciaram um confronto com motoristas que, impedidos de seguir adiante, manifestavam descontentamento tocando insistentemente suas buzinas. A Polícia Militar isolou os dois grupos, mas os manifestantes prosseguiram com palavras de ordem exaltadas até que as buzinas se calassem.
Também afloraram tensões internas, por exemplo quando o geólogo Adriano Diogo, ex-vereador e ex-deputado estadual pelo PT, procurou defender o governo Lula ao microfone, foi interpretado repetidamente por um manifestante de outro partido e ameaçou interromper o discurso e deixar o ato. Diogo foi um dos poucos a declarar repúdio contra o ataque dos Estados Unidos ao Iêmen.
Tensões à parte, o tom foi menos elevado nos discursos ao microfone que nos cartazes e nas palavras de ordem. “Israhell = genocídio e apartheid”, dizia um cartaz, enquanto outros estampavam a imagem de crianças palestinas mortas ou do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu entre grades. Entre as palavras de ordem, destacavam-se “Estado de Israel, Estado assassino, viva a luta do povo palestino” e “chega de chacina, PM na favela, Israel na Palestina”.
Na ausência de mais autoridades veteranas, jovens do movimento estudantil e de grupos de judeus antissionistas predominaram ao microfone durante boa parte da caminhada. Falaram representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), UEE (União Estadual dos Estudantes), União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes), União da Juventude Comunista (UJC), União da Juventude Socialista (UJS), Juventude Pátria Livre (JPL), Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR)…
Na descida da rua da Consolação rumo à praça Roosevelt, a cantora Elza Soares, retratada num mural gigante, parecia olhar para a juventude em marcha e zelar pelo povo palestino no outro lado do planeta.