Uma decisão do prefeito da cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, aprofundou os conflitos internos da coalizão do ex-presidente Mauricio Macri, o Juntos por el Cambio (JxC). Pré-candidato a presidente, Larreta anunciou nesta segunda-feira (10/04) que as eleições para a Cidade Autônoma de Buenos Aires (Caba) acontecerão na mesma data das nacionais e com um sistema que afasta Larreta do candidato de Macri para a prefeitura da capital.
A eleição interna dos partidos é de votação popular na Argentina e funciona como um importante termômetro político e, neste ano, definirá os candidatos tanto para o cargo de presidente quanto para o governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires (Caba). A capital portenha é um reduto eleitoral de Macri e hoje governada por Larreta.
Contrariando figuras de peso de seu partido, o Proposta Republicana (PRO), Larreta anunciou em um vídeo que a eleição interna para chefe de governo portenho será realizada no mesmo dia que a eleição nacional, mas pelo sistema de Cédula Eletrônica Única.
Nesta modalidade, o eleitor seleciona seus candidatos em uma máquina, que, ao contrário da urna eletrônica, não registra a votação, mas imprime uma cédula para ser inserida na urna. Para os cargos nacionais, a votação seguirá a modalidade tradicional da eleição argentina, em cédulas de papel para cada lista, ou composição, dos partidos e coalizões.
No vídeo, Larreta reforça em duas oportunidades que a Cédula Eletrônica Única foi uma iniciativa defendida pelo próprio Mauricio Macri, para as eleições de 2015 e 2019.
A decisão de Larreta convoca a uma eleição concorrente, em um movimento comum em algumas províncias, chamado de “desdobramento” da eleição nacional. Ao separar a eleição nacional da local, serão necessárias cédulas diferentes, em lugar de ser uma única para cada chapa. Dessa maneira, Larreta deixa de apontar na cédula de sua coalizão o candidato de Macri para sucedê-lo no cargo de prefeito de Buenos Aires. Macri defende a candidatura de seu primo, Jorge Macri.
Dessa forma, Larreta não apenas marca uma distância com Mauricio Macri, disputando o lugar de liderança na coalizão com o ex-presidente, mas também o aproxima de outros partidos como Unión Cívica Radical (UCR) e Coalición Cívica (CC), que compõem a coalizão de JxC. A UCR e a CC compõem o radicalismo, movimento político argentino.
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Larreta, prefeito de Buenos Aires, diz que o próprio Macri já defendeu a Cédula Eletrônica Única
Larreta é criticado pelo seu partido
Após o anúncio, a deputada e ex-governadora da província de Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal, logo twittou: “o Pro e o JxC que prometemos aos argentinos não é este. Não há ambição pessoal que possa estar acima dos nossos valores e da equipe. Somos a mudança ou não somos nada”.
Mauricio Macri compartilhou a mensagem de Vidal, dizendo concordar com seu posicionamento. E agregou: “que profunda desilusão”.
Após uma segunda-feira de tensão no partido, a presidenta do PRO, Patricia Bullrich, possível pré-candidata à presidência também pelo JxC, convocou uma reunião nesta terça (11), sem Larreta. Segundo o jornal Página 12, fontes próximas ao chefe de governo portenho garantem que ele não foi convidado para a reunião.
As falas da reunião foram reproduzidas na mídia com uma chuva de críticas ao chefe de governo portenho, representado, na reunião virtual, por dois políticos reconhecidos como larretistas, o deputado nacional Diego Santilli e o secretário-geral do Pro, Eduardo Macchiavelli. “Não venham com um argumento legal quando isso teve clara motivação política”, disse Macri em resposta às explicações que teriam fundamentado a decisão de Larreta.
“Me sinto enganado”, disse Macri.
Contra todos os indicadores do seu partido, Larreta assegurou que não haverá ruptura. “Sempre trabalho pela unidade, por isso nunca me escutarão criticar ou questionar outro membro”, disse.