A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro teria recebido pessoalmente um segundo pacote de joias da Arábia Saudita trazido pela comitiva do então ministro de Minas e Energia, Bento Alburquerque, de acordo com o depoimento de uma funcionária do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) à Polícia Federal. A informação foi revelada pelo jornal O Estado de S.Paulo nesta terça-feira (25/04).
As joias teriam entrado ilegalmente no país em outubro de 2021 na bagagem de Bento Albuquerque. Um outro pacote com peças avaliadas em R$ 16,5 milhões foi, porém, apreendido pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos.
De acordo com o depoimento da então coordenadora do GADH Marjorie de Freitas Guedes, em meados de outubro de 2021, foi aberto um processo no sistema referente aos trâmites relacionados aos presentes. O cadastro, porém, foi aberto ainda antes da comitiva do Ministério de Minas e Energia ter retornado ao Brasil da Arábia Saudita.
O processo teria ficado parado até novembro de 2022, quando o então coordenador-geral do GDAH, Erick Moutinho Borges, informou que os presentes seriam recebidos pelo órgão e incluídos no cadastro aberto no ano anterior – algo que, segundo a testemunha, não era comum. As peças seriam incorporadas ao acervo de Jair Bolsonaro.
O chefe do GDAH na época, Marcelo Vieira, teria determinado que, pelo valor das joias, as peças deveriam ser entregues no Palácio do Alvorada. Posteriormente, um funcionário do Alvorada relatou à servidora que “a caixa com as joias já estava na posse da primeira-dama, Michelle Bolsonaro”. O estojo incluía cinco itens: relógio da marca Chopard, caneta, anel, par de abotoaduras e um rosário. Somente o relógio é avaliado em cerca de R$ 800 mil. O valor total do kit deve ultrapassar R$ 1 milhão.
Escândalo revelado após apreensão de joias para Michelle
Essa é a segunda vez que Michelle é citada no escândalo envolvendo a entrada ilegal de joias da Arábia Saudita no país. Uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo expôs o caso, e novas revelações envolvendo os supostos presentes sauditas ao ex-presidente e à sua esposa surgiram desde a publicação da primeira notícia, em 3 de março.
De acordo com a reportagem que revelou o caso, as joias foram apreendidas quando uma comitiva do governo Bolsonaro retornava ao Brasil após uma viagem oficial à Arábia Saudita, em outubro de 2021. As peças estariam na mochila de um militar que era assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
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Joias teriam entrado ilegalmente no país em outubro de 2021 na bagagem de Bento Albuquerque, então ministro de Minas e Energia
Segundo o documento da Receita Federal sobre o ocorrido no aeroporto de Guarulhos, o militar da comitiva de Bolsonaro disse não ter nada a declarar, mas, ao passar pela alfândega, um fiscal solicitou que ele colocasse sua mochila no raio-x, onde “observou-se a provável existência de joias”. A bagagem então foi revistada, e os agentes encontraram um par de brincos, um anel, um colar e um relógio com diamantes. Avaliados em R$ 16,5 milhões, os objetos foram apreendidos.
De acordo com o documento, o militar informou o ocorrido ao ministro Bento Alburquerque, que tentou liberar as peças alegando se tratar de um presente para a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro. A Receita, porém, manteve a apreensão.
Durante o restante do mandato de Bolsonaro, o governo fez várias tentativas para rever as joias apreendidas, porém, sem cumprir os ritos para regularizá-las. Depois da revelação do caso, a Polícia Federal abriu uma investigação para apurar se houve crime no caso.
Depois de fazer piada, Michelle admite ter conhecimento das joias
Logo após a publicação da reportagem no início de março, a primeira reação de Michelle foi fazer piada sobre o caso e negar ter conhecimento da existência das peças. Em redes sociais, a ex-primeira-dama disse estar “rindo da falta de cabimento dessa imprensa vexatória”.
Nesta quinta-feira, depois da revelação do depoimento que contesta a até então narrativa de Michelle de não ter conhecimento do caso, a ex-primeira-dama admitiu pela primeira vez saber da existência das peças. A jornalistas, Michelle disse que as joias foram recebidas no Alvorada, porém, negou que as tenha recebido em mãos. Ela disse ainda que “foi tudo feito pelo trâmite administrativo”.
Michelle alegou que, quando disse desconhecer as joias, se referia apenas aos itens femininos avaliados em cerca de R$ 16,5 milhões e que ficaram retidos em Guarulhos em março e não a “joias masculinas”.
“Essas joias que chegaram no Alvorada foram joias masculinas. Então, estão me associando ao primeiro caso, quando eu falei que não sabia, e não sei mesmo, tanto que essas joias continuam apreendidas, e essa, do Alvorada, está na Caixa Econômica Federal. O que que eu tenho a ver com isso?”, questionou Michelle.