O Ministério Público da Bolívia informou nesta segunda-feira (05/07) que aceitou uma denúncia pelo crime de genocídio contra a ex-presidente autoproclamada Jeanine Áñez no âmbito dos massacres de Senkata e Sacaba.
Segundo o documento oficial, o Procurador-Geral do Estado, Juan Lanchipa, admitiu a proposta de denúncia contra Áñez por “ferimentos graves e leves seguidos de morte” e por genocídio.
Em 2019, cerca de 30 pessoas foram assassinadas e centenas ficaram feridas após agentes das forças armadas reprimir protestos que ocorriam nas cidades de El Alto, Senkata, Cochabamba e Sacaba pelo retorno ao poder do presidente Evo Morales, forçado a renunciar dias antes devido a um golpe de Estado.
Com a admissão da proposta acusatória e apreciada pelo Ministério Público no começo de julho, a procuradoria tem 30 dias úteis para determinar se há fundamento legal para a denúncia contra a direitista. Depois de passar para o Supremo Tribunal de Justiça (TSJ), o processo segue para a Assembleia Legislativa Plurinacional, que deverá analisar se o julgamento de responsabilidade contra Áñez é cabível.
Gloria Quisbert, que preside uma associação com familiares das vítimas dos massacres, saudou de imediato a admissão do processo e disse estar esperançosa de que o ocorrido seja investigado.
Ricardo Carvallo Terán/ ABI
Áñez está sob custódia preventiva desde março sob a acusação de terrorismo, sedição e conspiração por conta do golpe de Estado
“Não tem esquecimento nem perdão”, declarou Quisbert em relação ao que Áñez e seu ex-ministro Arturo Murillo fizeram: na ocasião, houve a aprovação do Decreto Supremo 4.078, que isentou militares de responsabilidade pela repressão ao povo nas manifestações de 2019 e que, segundo ela, permitiu “fuzilar gente pobre e humilde”.
“Não temos medo e vamos até às últimas consequências para que o caso seja apurado, para esses jovens que morreram em Senkata, queremos que seja investigado em profundidade. Esta não é uma organização política ”, disse Quisbert.
O diretor nacional do Serviço Plurinacional de Atendimento à Vítima, Tito Tornero, considerou, por sua vez, que a admissão da proposta acusatória no Ministério Público é “uma grande conquista” após um longo processo de recolha de provas.
Áñez está sob custódia preventiva desde março sob a acusação de terrorismo, sedição e conspiração por conta do golpe de Estado que retirou Morales da Presidência. Ela também está sendo investigada pela compra de gás lacrimogêneo usado para reprimir protestos populares.
A ex-presidente autoproclamada também está envolvida em outros processos relacionados a abuso de poder, suborno e tráfico de influência, segundo autoridades judiciais.
(*) Com Agência Boliviana de Informação.