O ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, ironizou neste domingo (04/08) a “emergência capilar” que levou Jair Bolsonaro a cancelar o encontro com ele na segunda-feira (29/07), durante sua viagem ao Brasil, em uma entrevista no Journal du Dimanche (JDD). É a primeira vez que ele fala publicamente sobre a “desfeita” do presidente brasileiro.
Infeliz com a decisão do ministro das Relações Exteriores da França de se encontrar com ONGs brasileiras, que são em sua maioria hostis a ele, o chefe de Estado brasileiro cancelou sua entrevista no último minuto e postou no Facebook uma live em que cortava o cabelo, no momento em que deveria estar reunido com Le Drian.
“Todo mundo conhece as restrições que acompanham as agendas dos chefes de Estado. Então, obviamente, houve uma emergência capilar. Essa é uma preocupação que é estranha para mim”, disse nesta entrevista ao JDD. Drian, quase careca.
Ele mesmo assim descreveu sua visita ao Brasil como “muito positiva”. “Eu tive conversas com minha contraparte, com a sociedade civil brasileira, particularmente com ONGs, mas também com a sociedade civil econômica. Também falei com os governadores de vários Estados. Esse é o interesse da França falar ao Brasil, a todos os Brasis “, afirmou.
ONGs
O presidente brasileiro justificou sua decisão de não honrar essa nomeação com Jean-Yves Le Drian, alegando que este planejara se encontrar com ONGs no Brasil.
“O que ele veio discutir com ONGs aqui? Assim que falamos sobre ONGs, há um alarme (que se acende) na mente de quem tem um mínimo de bom senso”, disse o presidente da extrema direita a repórteres em Brasília.
Jean-Yves Le Drian “tinha uma agenda marcada comigo em sua agenda, então percebi que ele também tinha (uma reunião agendada com o vice-presidente Hamilton) Mourão e ONGs. Quem está prejudicando o Brasil? As ONGs”, acrescentou.
O encontro entre os dois homens, que deveria ter ocorrido na tarde de segunda-feira (29/07), foi oficialmente cancelado “por questões de agenda”.
Em uma mensagem postada no Twitter, a Embaixada francesa no Brasil disse que Jean-Yves Le Drian havia conhecido no Brasil “membros da sociedade civil para enfrentar conjuntamente os desafios da mudança climática e da proteção ambiental, na perspectiva da #COP25 “.
Em um comunicado para a imprensa, durante a semana passada, o Ministério das Relações Exteriores francês disse que não comentaria a recusa de Bolsonaro em receber Le Drian.
Reprodução
Presidente brasileiro cancelou encontro com ministro francês e foi cortar o cabelo
“Tema delicado”
O ambiente é um tema delicado para o presidente Bolsonaro, um célebre negacionista climático. Recentemente, provocou um alvoroço ao questionar dados oficiais que mostram um aumento recente no desmatamento.
Na entrevista ao JDD, Le Drian falou ainda que o Brasil é um parceiro importante para a França. “Nós temos um relacionamento bilateral muito forte. Temos tantos investimentos franceses no Brasil quanto na China. Quase mil empresas francesas estão presentes no Brasil. Em defesa, energias não renováveis, meio ambiente, agro-alimentar etc.”.
Ao ser questionado se a França podia confiar em Bolsonaro, em relação à permanência no Acordo de Paris e ao engajamento para que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia seja ratificado, Jean-Yves le Drian não deu uma resposta direta:
“Eu fui muito transparente ao esclarecer nossos compromissos recíprocos sobre o aquecimento global. Eu obtive do meu colega das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, a criação de um grupo de trabalho sobre questões ambientais e a implementação do Acordo de Paris antes da COP25 em Santiago, de 2 a 13 de dezembro. Espero que este processo possa ser implementado. Também devemos ser transparentes sobre o Mercosul. Os compromissos lançados devem ser respeitados”, disse.
“É por isso que o primeiro-ministro [Édouard Philippe], a pedido do presidente [Emmanuel Macron], iniciou a implementação de uma comissão de avaliação para assegurar a plena conformidade com o Acordo de Paris, as normas fitossanitárias e a proteção de nossos setores agrícolas. É uma grande exigência que pedimos. Este relatório, tornado público, servirá de guia para a nossa posição final”; acrescentou o ministro “rejeitado” por Bolsonaro.