No mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos Barak Obama voltou a afirmar que não vê um “cenário” onde o presidente da Síria, Bashar Al Assad, continue no poder, o embaixador do país árabe na Venezuela, Ghassan S. Abbas, afirmou que a única maneira do presidente sírio deixar o poder é com o país sendo ocupado à força. “Estamos tratando de nossos direitos inalienáveis sobre nossa independência e soberania. Não podemos negociar. Ou vão nos ocupar e nos humilhar, ou nós vamos levantar as armas em nome de nossa independência. Não há negociação sobre nossos direitos”, disse o diplomata, em uma palestra para estudantes na tarde desta terça-feira (19/06).
Jonatas Campos
Ghassan S. Abbas: “Muitos países escolheram armar a oposição. Estão exigindo tudo do Estado (sírio), mas nada da outra parte”
No encontro organizado pelo Centro de Estudantes da Escola de Estudos Políticos da UCV, o diplomata chamou a missão de observadores da ONU em seu país de “cavalo de Troia”, em referência a história do enorme cavalo de madeira que os gregos ofereceram aos troianos, mas que serviu de esconderijo para soldados que abriram os portões da cidade. A provocação foi em referência às declarações do general norueguês Robert Mood, chefe do grupo, que afirmou ser impossível continuar as inspeções na Síria por causa do clima hostil contra os observadores.
“(As missões) não são boas para resolver (problemas). No caso da Síria, podem ser até para complicar. Mas como somos inteligentes, aceitamos o desafio jogando o mesmo jogo internacional”, disse, acusando a missão de “proteger mercenários”, como chamou os militantes armados que se opõe ao regime.
Na último sábado (16/06), o grupo de 300 observadores, enviados à Síria no âmbito do plano de paz negociado pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, anunciou a suspensão de suas atividades alegando falta de segurança.
Ghassan S. Abbas afirmou que o governo de Damasco está tentando cumprir o cessar fogo acordado em 12 de abril, mas a chegada da missão coincidiu com o aumento da violência por parte da oposição. “A força oficial respeita os compromissos, o que não acontece com a oposição”, afirmou. “Muitos países escolheram armar a oposição. Estão exigindo tudo do Estado (sírio), mas da outra parte não estão pedindo nada”, lembrou Abbas, também fazendo acusações de bombardeios por parte dos países interessados em derrubar o governo. “Nos bombardeiam com aviões não tripulados. Se fosse no homem a homem, não ganhariam. Somos um povo guerreiro”, disse. O presidente sírio resiste no cargo há 16 meses, apesar de toda a pressão internacional.
Para o embaixador, atrás de toda essa pressão internacional está a questão do petróleo. “Cinco países árabes mais o Irã detém 70% do petróleo no mundo”, disse. Para ele, países com situações sociais bem piores que a Síria não são “atacados” pelos Estados Unidos e outros países ricos porque aceitaram o pacto que ele chamou de “Petróleo por Segurança”.
“Alguém sabe que há 22% de pobreza extrema na Arábia Saudita, onde se produz quase cinco vezes mais petróleo que na Venezuela, 11 milhões de barris de petróleos diários?”, questionou. “Não se fala da pobreza que existe nesses países. É a troca do petróleo por segurança”. Ghassan S. Abbas lembra que após as primeiras manifestações de março de 2011, o governo promoveu imediatas reformas no Estado e se comprometeu em discutir o “princípio da alternância de poder”.
Ainda sobre a abertura democrática no país, o diplomata afirmou que não é possível desenhar uma democracia no estilo europeu para, logo após, justificar que seu país há muitos elementos democráticos .“Em 1948, já havia o direito do voto para as mulheres, antes de muitos países europeus, e existem partidos políticos”. “Não há eliminação da vida política. Tem quem critique, tem quem insulte, há segurança, a saúde é gratuita”.
Também sobraram críticas à imprensa. “O que publicaram sobre meu governo é um dos maiores absurdos, porque cada vez que vem um enviado especial à Síria há um massacre e é o Exército sírio o culpado. Como teríamos valor enquanto Exército de um povo se estivéssemos fazendo esse massacre?”, questiona.
Na palestra, o diplomata fez uma análise histórica dos mais de quatro mil anos de comércio e conflitos da região onde hoje é a Síria e acusou os movimentos organizados pela internet de estarem manipulando fotos de mobilizações pró-Assad e transformando-as em eventos contra, através da edição das imagens.
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