A agência de notícias britânica Reuters destacou, em artigo sobre o legado da rainha Elizabeth II, que a monarca poderá ser vista como “a última de sua espécie”, segundo historiadores, após sua morte, aos 96 anos, nesta quinta-feira (08/09).
“Alguns historiadores dizem que a rainha será vista como a última de sua espécie, uma monarca de uma época em que as elites impunham respeito inquestionável”, escreveu o veículo. O texto questiona ainda se o reinado de Elizabeth teria representado uma “era dourada” ou “as últimas brasas de uma era passada”.
A monarca britânica faleceu em Balmoral, na Escócia, conforme informou um comunicado do Palácio de Buckingham, e agora Charles, seu filho primogênito, assume o trono, com o título de rei Charles III.
A emissora multiestatal venezuelana Telesur, por sua vez, mencionou que, embora a rainha tenha sido considerada “o pilar da instituição monárquica britânica” como governante de 15 outros países e chefe da Comunidade das Nações de 36 outros territórios, “a Coroa Britânica não goza do prestígio pois está associada aos crimes coloniais que construíram o Império Britânico”.
Já a rede de televisão norte-americana MSNBC afirma que “Charles reinará sobre uma Grã-Bretanha que se afastou do mundo”, ao destacar que o filho de Elizabeth assume o reinado no Reino Unido.
O veículo ressalta ainda que o Reino Unido possuía “mais de 70 territórios ultramarinos” quando Elizabeth II foi coroada. O “Império Britânico desmoronou pois país após país tomou o controle de seu próprio destino”, descreveu.
O jornal norte-americano The Washington Post, por sua vez, relembrou de escândalos relacionados à família real, como o acidente de carro da princesa Diana, em 1997, a saída do príncipe Harry da família real após seu casamento com Meghan Markle em 2020, e as acusações de má conduta sexual feitas contra o príncipe Andrew em 2021.
Para o veículo, o maior “paradoxo” e “façanha” do reinado da monarca teria sido a sua capacidade de passar tanto tempo sendo visivelmente obediente, sem revelar “seu eu interior”.
Pelo Twitter, uma das colunistas do jornal, Karen Attiah, escritora e editora ganense-americana, escreveu: “As pessoas negras e marrons em todo o mundo que estavam sujeitas a crueldades horrendas e privação econômica sob o colonialismo britânico podem ter sentimentos [negativos] sobre a Rainha Elizabeth. Afinal, eles também eram seus ‘súditos’”.
Black and brown people around the world who were subject to horrendous cruelties and economic deprivation under British colonialism are allowed to have feelings about Queen Elizabeth.
After all, they were her “subjects” too.
— Karen Attiah (@KarenAttiah) September 8, 2022
Quem foi a rainha Elizabeth II
Nascida em 21 de abril de 1926, em Mayfair, Londres, Elizabeth Alexandra Mary assumiu o trono em 6 de fevereiro de 1952, com a morte de seu pai, Jorge VI, mas a coroação em si ocorreu em junho de 1953.
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Elizabeth II morreu nesta quinta-feira (08/09) e agora Charles, seu filho primogênito, assume o trono, com o título de Charles III
Em junho deste ano, foi inclusive celebrado o Jubileu de Platina pelos 70 anos de reinado. A rainha é a primeira na história do Reino Unido a permanecer tanto tempo à frente do cargo e é a monarca mais idosa a estar na função.
Outro recorde de longevidade é o fato de ter o segundo reinado mais longo da história mundial, ficando atrás apenas do rei Luís XIV da França (1638-1715), que permaneceu 72 anos e 110 dias à frente do país.
Elizabeth casou-se com o príncipe Philip em novembro de 1947 e ambos ficaram juntos até a morte do marido, em 2021. O casal teve quatro filhos: Charles, Anne, Andrew e Edward, sendo que o primeiro será seu sucessor natural.
Cerca de uma década antes de assumir o cargo, Elizabeth chegou a atuar na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em diversas funções de auxílio, sendo treinada como motorista e mecânica.
Mas a principal marca de seu reinado foi ver a transformação do reino britânico para a chamada “Commonwealth de Nações”.
Além disso, Elizabeth testemunhou muitos dos fatos marcantes do século passado e conseguiu manter a relevância da família real mesmo com tantas mudanças na sociedade britânica.
Um dos momentos mais polêmicos de sua longa permanência no poder, na década de 1990, envolveu seu filho e herdeiro Charles com a princesa Diana.
O casamento de ambos era alvo de notícias de tabloides constantemente e, após a separação, quando Diana morreu em um acidente de carro, a rainha foi duramente criticada por não se manifestar publicamente e por não fazer homenagens formais, como colocar a bandeira do país a meio mastro em sinal de luto.
Após muita pressão, Elizabeth II aceitou fazer uma transmissão nacional ao vivo um dia antes do funeral e ela conseguiu contornar a crise de imagem provocada pelo episódio.
Em outro caso familiar polêmico, no início de 2020, precisou lidar com a decisão de seu bisneto Harry de deixar suas funções na família real após o casamento com Meghan Markle. O caso abalou os Windsor e, até hoje, é alvo de muita especulação de brigas entre Harry, William, seu irmão, e Charles.
A rainha visitou mais de 110 países durante todo o seu reinado, sendo considerada a monarca que mais viajou na história do país.
No entanto, nos últimos anos, o ritmo de aparições públicas foi diminuindo cada vez mais por conta do estado de saúde mais frágil da rainha.
Em fevereiro desse ano, a monarca ainda contraiu Covid-19, tendo sintomas leves por conta da vacinação, mas fazendo com que ela se tornasse ainda mais reclusa e protegida.
A última aparição pública de Elizabeth II aconteceu na terça-feira (6), na própria residência de Balmoral, quando ela aceitou a renúncia do ex-premiê Boris Johnson e empossou a nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss – a 15ª chefe de governo britânico a tomar posse com a bênção da rainha.
(*) Com Ansa.