Morreu nesta terça-feira (06/05) na Alemanha o colecionador de arte Cornelius Gurlitt, aos 81 anos, segundo informou seu porta-voz, Stephan Holzinger. Gurlitt era conhecido por ter guardado em ccasa, durante décadas, uma coleção considerada um tesouro, com cerca de 1.400 obras de arte, muitas das quais foram roubadas ou confiscadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Filho do comerciante de arte Hildebrandt Gurlitt, um dos únicos a possuir autorização para negociar as chamadas obras de “arte degenerada”, Cornelius Gurlitt morreu poucas semanas depois de seus representantes terem feito um acordo com as autoridades da Baviera, onde morava, para que as peças que possuía fossem inspecionadas e, eventualmente, devolvidas aos donos originais.
Gurlitt estava seriamente doente havia meses e não conseguiu se recuperar de uma cirurgia cardíaca. Em seus últimos momentos, esteve acompanhado por seu médico e um enfermeiro.
O caso
O colecionador de arte tornou-se alvo da polícia alemã por acaso: em 2011, ele foi parado em um posto de imigração quando voltava da Suíça, com mais dinheiro do que o permitido pela legislação alfandegária. Quando as autoridades pediram seus documentos, ele entregou a eles um passaporte austríaco em nome de Rolf Nikolaus Cornelius Gurlitt, residente em Salzburgo.
Reprodução
Gurlitt em sua única entrevista, à revista alemã Der Spiegel: ele afirmava que o pai adquirira os quadros legalmente
Investigando-o, a polícia descobriu que apresentara documentos falsos e conseguiram um mandado de busca para revistar seu apartamento em Munique, onde esperavam encontrar provas de depósitos ilegais. Encontraram-nas, mas, além disso, descobriram mais de 1.400 telas em más condições de armazenamento. Com obras de Picasso, Matisse, Chagall, Gauguin, Otto Dix e muitos outros artistas, a coleção chega a valer U$S 1 bilhão no mercado.
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A maioria das telas foi obtida pelos nazistas através de saques e roubos nas casas de famílias judias. Houve casos até de subornos propostos por oficiais nazistas para que negociadores de arte judeus (que controlavam a maior parte do comércio de arte na época) conseguissem transporte de maneira segura para escapar dos massacres, em geral para destinos como Reino Unido.
Disputa judicial
Depois que as obras foram confiscadas pelas autoridades, a Alemanha se deparou com o problema de devolvê-las a seus herdeiros legítimos. A princípio, Gurlitt recusou-se a ajudar a Justiça na restituição e afirmou que não o faria “voluntariamente”.
Agência Efe
Apartamento de Cornelius Gurlitt em Munique, onde as obras foram encontradas pela polícia
Ele insistiu que seu pai havia adquirido todas as obras legalmente e afirmou que tanto a Justiça quanto a opinião pública deram uma versão “literalmente falsa” da origem de sua coleção. Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, Gurlitt disse que seu único propósito era “viver em casa” com suas peças. “Poderiam ter esperado até que eu estivesse morto”, disse, sobra a apreensão dos quadros que, segundo ele, eram o que mais amava na vida.
Em abril deste ano, entretanto, ele voltou atrás e aceitou colaborar com as autoridades para distinguir quais obras haviam sido tomadas de seus proprietários originais e seus representantes fizeram um acordo com a polícia.
Com a morte de Gurlitt, o processo é suspenso automaticamente. O testamento dele pede expressamente, segundo o Süddeutsche Zeitung, que as obras permaneçam juntas e sejam levadas para fora da Alemanha. Ainda não se sabe, de acordo com o jornal, em que lugar os quadros serão guardados.