A morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner (2003-2007), um dos nomes mais influentes da política atual do país e do Partido Justicialista (PJ, peronista), trará mudanças às perspectivas locais a um ano das eleições que escolherão o sucessor no Executivo de sua esposa, Cristina, afirmam analistas.
“Me parece cedo para fazer uma avaliação, mas vejo dois cenários possíveis: a polarização política é intensificada, ou relaxa na busca de governabilidade; se reforçam os setores duros do governo ou emergem os conciliadores”, opinou a historiadora Graciela Römer à ANSA, dizendo ser “evidente o impacto político” causado pelo acontecimento devido à influência de Kirchner.
O também historiador Norberto Galasso assinalou que a morte do líder — ocorrida nesta manhã por complicações cardíacas — se configura uma “tragédia” face ao apoio necessário por Cristina para continuar a política “que traç aram” para a Argentina.
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Apesar do questionamento de figuras da oposição — tanto nos contrários ao governo dentro do PJ, como nos radicais, junto à direita e a setores da esquerda –, as declarações registradas hoje foram de respeito a Kirchner, um dos mais cotados candidatos ao pleito de 2011.
O pré-candidato presidencial e integrante da oposição dentro do partido Felipe Solá, forte adversário do casal, definiu o ex-chefe de Estado como um “líder especial e um lutador formidável”, “uma pessoa que divide a história em um antes e um depois”.
Segundo ele, o ex-mandatário tirou o espírito de resignação dos argentinos diante do desastre após a crise econômica de 2001, que trouxe o encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) junto à moratória da dívida, à desvalorização do peso e à instabilidade política.
Direitos humanos
Solá afirmou ainda que os Kirchner imprimiram novamente uma mística de militância dentro da corrente justici alista, nos círculos nacionais e populares, mas também geraram intensos debates e confrontação política.
As políticas de revisão das violações aos direitos humanos ocorridos durante a ditadura militar (1976-1983), a tentativa de retenção das exportações de cereais e a reforma da lei da imprensa polarizaram a política nacional, e hoje foram assinaladas, inclusive pelos adversários, como mostras de determinação e convicção.
A tentativa de Kirchner e Cristina para recuperar tradições do partido como planos sociais e políticas assistencialistas foram base de um confronto que se refletiu na atitude de grupos de moradores de Buenos Aires e setores da província de Córdoba, que soaram cornetas ao saber da morte do ex-presidente.
Ele exercia atualmente a titularidade do PJ, à qual havia renunciado em junho de 2009, depois que o casal sofreu uma dura derrota nas eleições legislativas, quando o governo perdeu sua maioria no Co ngresso. O Conselho Nacional do partido, porém, não aceitou a renúncia em novembro, e Kirchner foi reconduzido formalmente ao cargo.
Solá e o cineasta e ex-presidenciável Fernando Pino Solanas, também opositor, comentaram a política externa defendida pelo casal, voltada fortemente a alianças com governos sul-americanos de orientação esquerdista e que, em 2005, derivou em um rechaço à Área de Livre Comércio das Américas (Alca) na presença do então mandatário norte-americano, George W. Bush.
O dirigente opositor e outro possível candidato à sucessão presidencial Ricardo Alfonsín — filho do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) — se negou a recordar as diferenças que mantém com as ideias e políticas de Kirchner, preferindo enumerar as coincidências em áreas como Justiça, ciência e tecnologia e planos sociais.
Solanas, por sua vez, recusou fazer previsões sobre o futuro político imediato. “Por favor, não é o momento, é preciso retirar o espírito canibal de muitos políticos”, comentou o centro-esquerdista.
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