Peu Robles
Manifestantes na praça Tahrir comemoram anúncio extra-oficial de vitória para Mohammed Mursi; resultado sai na quinta
Os dois candidatos à Presidência do Egito se declararam vencedores do 2º turno da votação finalizada no último domingo (17/06). Apesar de ainda não haver resultados oficiais, tanto Mohammed Mursi , da Irmandade Muçulmana, quanto o militar aposentado Ahmed Shafiq, ex-premiê de Hosni Mubarak, disseram nesta terça-feira (19/06) ter levantamentos que garantem suas vitórias nas urnas.
Por meio de porta-vozes, Mursi já vem “cantando vitória” desde antes da votação e reafirmou essa posição hoje. Já a campanha de Shafiq declarou hoje que o candidato recebeu 51,5% dos votos. “Temos os números corretos. Temos certeza que o próximo presidente do Egito será Ahmed Shafiq”, disse Ahmed Sarhan, porta-voz do ex-militar.
De acordo com agência Efe, a campanha de Shafiq acredita que o candidato obteve cerca de 500 mil votos a mais do que Mohammed Mursi. O resultado oficial da eleição será divulgado nesta quinta-feira (21/06).
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A maioria dos meios de comunicação, no entanto, vem apontando o candidato do PLJ (Partido Liberdade e Justiça) – braço político da Irmandade – como o vencedor. Segundo um outro representante da campanha de Shafiq, Karim Salem, isso ocorre porque a maior parte da imprensa não tem correspondentes nas zonas eleitorais , e por isso “se baseiam nos resultados oferecidos pela Irmandade Muçulmana”.
Comemoração e confronto
As declarações extraoficiais que apontavam Mohammed Mursi como vencedor das eleições presidenciais – o que representa uma derrota do “antigo regime” – encheu de novo as ruas do Cairo e principalmente a Praça Tahrir, símbolo da revolução e da queda de Hosni Mubarak. Na noite da segunda-feira a praça estava tomada de gente cantando com bandeiras e fotos de Mursi e do PLJ.
Porém, o dia não foi só de comemorações. No centro da cidade, na rua Talat Hab, foi registrada uma grande briga entre partidários de Mursi e de Shafiq.
Os primeiros, que vinham em manifestação de apoio a Mursi, pararam na frente ao grupo de apoiadores de Shafiq e ambos começaram a trocar ofensas, gestos obscenos e xingamentos. O clima esquentou e o confronto descambou para as agressões físicas.
Começaram a voar pedras dos dois lados e troca de socos entre os partidários. Lojas cerraram as portas e cafés repletos de turistas também foram fechados, com todo mundo dentro. A briga parou quando a policia chegou e dispersou os manifestantes.
E em meio a comemorações e brigas, o futuro político do Egito continua incerto. A grande maioria da população e principalmente os revolucionários da Praça Tahrir acreditava que Shafiq iria levar o pleito, ou seja, que a Junta Militar daria um jeito de continuar com o regime nos moldes da Era Mubarak. O temor agora, depois do anúncio oficial, que deve sair apenas na quinta-feira, é de como a Junta Militar vai reagir diante da suposta vitória do candidato da Irmandade Muçulmana. Resta saber se ele vai realmente ganhar as eleições e, mais que isso, assumir a presidência e conseguir cumprir os quatro anos de seu mandato.
No domingo, o Conselho Supremo das Forças Armadas, conhecido pela sigla SCAF, impôs um decreto que limita os poderes do futuro presidente. As oito emendas constitucionais reafirmam as medidas enunciadas pelos militares na quinta-feira (15/06), quando dissolveram o recém-eleito Parlamento e restabeleceram a lei marcial no país.
Com as mudanças constitucionais, o futuro presidente egípcio perde os poderes de controlar o orçamento militar e de declarar guerra sem o consentimento das Forças Armadas, que ficam imbuídas também do Poder Legislativo até novas eleições parlamentares, incluindo a redação da nova Constituição.