O candidato e líder do Partido de Esquerda, Jean-Luc Mélenchon, atingiu pela primeira vez na campanha para a Presidência da França 10% das intenções de voto, de acordo com levantamento da empresa CSA March 5. Se trata de um dado positivo para a esquerda francesa, que viu sua popularidade cair nas últimas eleições do país.
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Para analista político, Mélenchon conseguiu atrair o eleitorado trotskista e os Verdes
No primeiro turno da votação em 2002, o bloco político conseguiu cerca de 14% dos votos. Em 2007, caiu para 8%. A pergunta agora é se a tendência de queda se reverteu de verdade e, principalmente, de quem Mélenchon estaria tirando votos.
Em entrevista ao jornal francês Atlântico, o analista político Vincent Tiberj, doutor em Ciência Política do Institut d'Etudes Politiques de Paris, analisou que a esquerda se tornou uma “arena competitiva”, em que não há grande filiação de eleitores e sim, o voto orientado conforme o candidato do momento. “Não há tendências destoantes na esquerda: se trata do mesmo universo, com os mesmos eleitores”, diz Tiberj.
“Entre dezembro e janeiro, Mélenchon pescou o eleitorado trotskista e os Verdes. Agora ele começa a pegar alguns eleitores de François Hollande [centro-esquerda]. Isso é facilitado pelo baixo risco de acontecer um novo “21 de abril”, porque o candidato do PS está no topo das pesquisas. E, ao invés de cobiçar o eleitorado de François Bayrou [centro], como em 2007, muitos dos eleitores ainda preferem votar à esquerda”, afirma Tiberj.
O citado 21 de abril aconteceu em 2002, quando o ultradireitista da FN (Frente Nacional) Jean-Marie Le Pen eliminou o candidato socialista, o primeiro-ministro Lionel Jospin, para enfrentar no segundo turno o candidato da direita, o presidente em fim de mandato Jacques Chirac.
Para o cientista político, a entrada na campanha oficial deve ser benéfico para o candidato da Frente de Esquerda, pois o espaço na mídia para “pequenos candidatos” deve aumentar. “Eles também devem se beneficiar do fato de que os franceses estão decepcionados até o momento com a campanha.”
Imigração
Um dos principais temas dessas eleições, a imigração desempenha papeis diferentes tanto para eleitores de Mélenchon como os de Marine Le Pen, da FN. Ela computou 15% das intenções de voto na pesquisa da CSA March 5. Ao longo dos anos, parte da classe trabalhadores francesa, tradicionalmente alinha à esquerda, teria migrado para as propostas da FN. Isso estaria acontecendo novamente?
“Se você estudar o perfil dos franceses que estão se preparando para votar em Mélenchon, eles são diametralmente contrários aos valores culturais impostos pela lógica de Le Pen. Eles tendem a favorecer o casamento gay e a imigração, enquanto os eleitores de Le Pen pensam exatamente o contrário”, explica o cientista político.
Para Tiberj, o que liga esses eleitorados artificialmente são os trabalhadores que compartilham valores culturais bastante fechados, mas orientados por elementos socioeconômicos. “Os trabalhadores que votam Le Pen o fazem pela questão da imigração em primeiro lugar, enquanto os trabalhadores que votam à esquerda estão colocando seus valores socioeconômicos em primeiro lugar.”
E quanto às chances de Mélenchon se tornar um terceiro colocado nesse páreo? “É difícil dizer. É possível, porque a dinâmica dentro da esquerda é em seu favor. François Hollande deve ser cuidadoso. Não podemos, em qualquer caso, dizer que Mélenchon acabará atrás de François Bayrou”, concluiu.
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