Em reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta sexta-feira (07/07), os representantes diplomáticos da China e da Rússia se posicionaram contra a proposta apresentada pelos Estados Unidos para criar uma nova missão internacional visando intervir militarmente no Haiti, como forma de enfrentar a crise social e política vivida no país caribenho.
A Rússia foi o país que apresentou a postura mais enfática contra a possibilidade de uma nova intervenção em solo haitiano. “Alguns países querem acreditar que uma força multinacional serviria como uma panaceia, mas a história nos mostra que tais ações estrangeiras fizeram mais mal do que bem ao Haiti”, disse Dimitri Polianski, vice-embaixador da Rússia no Conselho de Segurança.
O representante russo também solicitou que a ONU não escute apenas o governo do país e dê voz a outras figuras da sociedade haitiana, que defendem medidas alternativas para lidar com a questão da segurança.
Por sua vez, o embaixador chinês, Zhang Jun, pediu uma análise mais profunda da situação para propor outras iniciativas, ao mesmo tempo em que destacou que os haitianos devem decidir seu próprio destino.
“Ouvimos muitos discursos de apoio a esta força, mas nenhum país anunciou ações concretas e realmente eficazes. É preciso realizar um parecer mais aprofundado antes de se tomar uma posição mais enérgica, e quem sabe buscar uma proposta viável e menos dolorosa para os haitianos”, disse o representante de Pequim.
O debate sobre o tema do Haiti ocorre quando se completam dois anos do magnicídio do ex-presidente Jovenel Moïse. Em 7 de julho de 2021, o então mandatário, que governava o país desde 2017, foi alvo de ataque orquestrado por um comando de mercenários fortemente armados, fato que acentuou a crise política na nação caribenha.
Em outubro de 2022, o líder haitiano Ariel Henry, que passou a acumular os cargos de presidente e primeiro-ministro do país desde o assassinato de Moïse, pediu ajuda internacional para enfrentar a crise, mas não obteve resposta.
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Histórico das intervenções estrangeiras no Haiti é marcada por abusos aos direitos humanos e fracasso no controle das crises no país
Nesta quinta-feira (06/07), o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, se reuniu com Henry em Trinidad e Tobago para afirmar a posição dos Estados Unidos a favor da intervenção estrangeira.
“Conversamos sobre a urgência de se chegar a um acordo político inclusivo que viabilizasse o pedido do Haiti de apoio internacional, com o objetivo de conter a violência das gangues”, comentou o chanceler norte-americano.
Em sintonia com Washington, o secretário-geral da ONU, António Guterres, também defendeu a constituição imediata de uma força militar estrangeira para combater os grupos armados.
“Não se trata de uma nova missão política ou militar da ONU, mas de uma força multinacional robusta, respaldada pela comunidade internacional e atuando de mãos dadas com a polícia haitiana”, explicou Guterres.
Fantasma das intervenções passadas
A ideia de uma nova intervenção militar estrangeira no Haiti remete ao controverso caso da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH, por sua sigla em francês), criada pelo mesmo Conselho de Segurança da ONU e que atuou no país insular entre setembro de 2004 e abril de 2017.
Durante os sete 13 anos de presença das forças de segurança no Haiti, a crise social e de segurança no país viveu altos e baixos, mas nunca foi controlada totalmente. Além disso, diversos informes de organizações de direitos humanos revelaram violações cometidas por militares das forças da ONU no país, especialmente casos de abusos sexuais a menores de idade.
As denúncias de violações apontavam inclusive a militares brasileiros. O Brasil enviou tropas para a MINUSTAH entre 2004 e 2010. Muitos dos oficiais que participaram daquela missão se tornaram políticos de extrema-direita anos depois, incluindo alguns que são figuras destacadas do bolsonarismo, como o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Alberto Heleno, e o ex-ministro da Infraestrutura e atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Com informações de TeleSur e Brasil de Fato.