Quinta-feira, 10 de julho de 2025
APOIE
Menu

Se por um lado a morte da rainha Elizabeth II na última quinta-feira (08/09) foi motivo de comoção e repercussão midiática, com a reprodução de declarações de líderes globais, como Emmanuel Macron, Joe Biden, Justin Trudeau e Olaf Scholz, na imprensa internacional, por outro lado, houve quem comemorou a morte da monarca.  

“Hoje é dia de abrir uma cerveja para comemorar”, escreveu Gabriel Colombo, candidato ao governo de São Paulo pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), no Twitter, acrescentando que a rainha teria vivido “uma vida de luxo, às custas da miséria de países colonizados pelo Reino Unido” e que, portanto, “não há o que lamentar”. 

Na argentina, o jornalista Santiago Cúneo, apresentador de um programa de televisão transmitido pelo canal 22, também comemorou. “A velha morreu, velha de merda, e eu havia prometido que iríamos brindar”, declarou, enquanto abria um espumante para repercutir o acontecimento.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

Nas redes sociais, diversos memes repercutiram e satirizaram a morte da monarca. Opera Mundi fez uma seleção dos melhores. Veja abaixo.

“Era uma senhora muito perfumada. Adorava uma colônia”, brinca um usuário do Twitter, ao relembrar o legado colonialista do Reino Unido durante o reinado de Elizabeth II.

“Imagina começar a trabalhar aos 73 anos de idade”, disse um outro usuário no Twitter, ironizando o fato de que Charles III assumiu o trono britânico em uma idade avançada.

Em uma postagem da noite da última quinta-feira (08/09), com a legenda, “Estádio de Tallaght em Dublin hoje à noite”, irlandeses cantam “Lizzy’s in a box”, ou “Lizzy está em uma caixa”.

Uma montagem que aparenta ser Elizabeth II tentando abrir uma porta é acompanhada da legenda: “Rainha Elizabeth tentando entrar nos portões do paraíso depois de viver 96 anos as custas do genocídio e exploração britânicos na África, América e Ásia”.

Outro tweet faz uma referência aos artigos históricos que foram roubados de diversos países ao longo dos séculos pelo Reino Unido para serem expostos em museus, dizendo: “Nações, todos na Inglaterra estão distraídos. É o momento perfeito para recuperar suas coisas do Museu Britânico”.

“7 membros da família real num mesmo vôo. Um vacilo do piloto e o Reino Unido vira uma república”, ironiza uma postagem sobre jato utilizado por familiares de Elizabeth II para ir para a Escócia encontrá-la.

Repercussão ambígua do falecimento de Elizabeth II parte de legado do colonialismo e imperialismo britânico da metade do século XX até o século XXI

Domínio Público

Rainha Elizabeth II ao lado de Ronald Reagan e Margaret Thatcher em 1984

Afinal, quem foi a rainha Elizabeth II e por que sua morte desperta reações tão ambíguas? Nascida Elizabeth Alexandra Mary, em 21 de abril de 1926, em Mayfair, Londres, a monarca herdou o trono após a morte de seu pai, George VI, em 6 de fevereiro de 1952.

Na linha de sucessão era o irmão de seu pai, Edward VIII, quem arrumiria o reinado. Ele nutria simpatia pelo nazismo e chegou a dizer, em 1933, enquanto ainda era rei, que “ditadores são muito populares hoje em dia” e que “podemos querer um na Inglaterra em breve”. 

Edward VIII, no entanto, abdicou do trono para se casar com Wallis Simpson, uma socialite norte-americana fora da linhagem real, em 11 de dezembro de 1936.

Até a Primeira Guerra Mundial, a família de Elizabeth II carregou o sobrenome Saxe-Coburg-Gotha, passando a adotar o Windsor em seguida para se desassociar das origens alemãs.

Quando a rainha é coroada, o país colonizava mais de 70 territórios ultramarinos, algo que foi se desmantelando com o fortalecimento de revoltas nacionais por soberania e independência. Nesse sentido, a monarca testemunhou importantes transformações do imperialismo no governo britânico, que foram assumindo novas formas.

O interesse da monarquia era explorar economicamente suas colônias e ex-colônicas, com destaque para a presença em países do continente africano, incluindo Gâmbia, Zanzibar, Serra Leoa e Nigéria, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Esse processo foi marcada por violência contra os habitantes dos territórios.

Com o crescimento do discurso anti-imperialista e as retiradas silenciosas de tropas das antigas colônias, entre as décadas de 1945 e 1965, o número de pessoas sob domínio britânico fora do próprio Reino Unido caiu de 700 milhões para cinco milhões, dos quais três milhões estavam em Hong Kong.

Conflitos violentos, como a Guerra das Malvinas, em 1982, em que a Argentina defendeu soberania sobre os arquipélagos, e o conflito na Irlanda do Norte, chamado em inglês de The Troubles, que teve início durante a década de 1960 e perdurou até a década de 1990, deixando mais de 3 mil mortos, aconteceram sob o reinado de Elizabeth II.

Margaret Thatcher teve um papel de destaque neste contexto, atuando como primeira-ministra britânica de 1979 até 1990. Seu governo também foi marcado por greves e manifestações dos sindicatos trabalhistas.

Escândalos na família real

As polêmicas dentro da família britânica receberam destaque desde as décadas de 1980 e 1990, com a cobertura extensiva dos tabloides britânicos de casos como o casamento entre o agora rei Charles III e a princesa Diana, em 29 de julho de 1981, sem aprovação de Elizabeth II.

Depois da separação do casal, ocorrida em 1992, mas oficializada apenas em 1996, a princesa sofreu um acidente de carro, em 31 de agosto de 1997, após ser perseguida por paparazzis. A rainha não prestou condolências.

Em um escândalo mais recente, de janeiro de 2020, o príncipe Harry, neto de Elizabeth II, e a duquesa Meghan Markle anunciaram que iriam se afastar das funções e deveres na família real britânica após entrevista à Oprah, ocasião em que mencionaram não apenas o escrutínio da mídia, mas também colocações racistas de membros da monarquia.

Já em 2021, o príncipe Andrew, um dos filhos de Elizabeth II, foi acusado de má conduta sexual, tendo feito um acordo para encerrar o processo em fevereiro de 2022. Andrew mantinha vínculo com Jeffrey Epstein, bilionário norte-americano que foi condenado por abuso sexual e enfrentou alegações persistentes de aquisição e tráfico sexual de menores de idade.

Elizabeth II, em 2019, era dona de um patrimônio líquido estimado em 500 milhões de dólares  — valor correspondente a cerca de 2,5 bilhões de reais — e outras propriedades estimadas em 25 bilhões  — cerca de 128 bilhões de reais. Um cidadão médio do Reino Unido ganha cerca de US$ 43.300, ou R$ 223.340,01 anualmente.