Se por um lado a morte da rainha Elizabeth II na última quinta-feira (08/09) foi motivo de comoção e repercussão midiática, com a reprodução de declarações de líderes globais, como Emmanuel Macron, Joe Biden, Justin Trudeau e Olaf Scholz, na imprensa internacional, por outro lado, houve quem comemorou a morte da monarca.
“Hoje é dia de abrir uma cerveja para comemorar”, escreveu Gabriel Colombo, candidato ao governo de São Paulo pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), no Twitter, acrescentando que a rainha teria vivido “uma vida de luxo, às custas da miséria de países colonizados pelo Reino Unido” e que, portanto, “não há o que lamentar”.
Hoje é dia de abrir uma cerveja para comemorar a morte da Rainha Elizabeth. Ainda que tenha demorado e não tenha sido pelas mãos da classe trabalhadora. A mídia liberal vai fazer o de sempre: homenagear a monarca. Na história, prefiro ver os reis e rainhas sob a guilhotina.
— Gabriel Colombo (@colombopcb) September 8, 2022
Na argentina, o jornalista Santiago Cúneo, apresentador de um programa de televisão transmitido pelo canal 22, também comemorou. “A velha morreu, velha de merda, e eu havia prometido que iríamos brindar”, declarou, enquanto abria um espumante para repercutir o acontecimento.
Enquanto isso, na TV da Argentina, as feridas das Malvinas seguem abertas: olha a festa pela morte da Rainha Elizabeth! ? pic.twitter.com/ig1mX6G4m1
— William De Lucca (@delucca) September 8, 2022
Nas redes sociais, diversos memes repercutiram e satirizaram a morte da monarca. Opera Mundi fez uma seleção dos melhores. Veja abaixo.
Era uma senhora muito perfumada. Adorava uma colônia
— Ulisses Mattos (@ulissesmattos) September 8, 2022
“Era uma senhora muito perfumada. Adorava uma colônia”, brinca um usuário do Twitter, ao relembrar o legado colonialista do Reino Unido durante o reinado de Elizabeth II.
Imagina começar a trabalhar aos 73 anos de idade pic.twitter.com/0X4OtgKkc6
— Sttenio (@Sttenio) September 8, 2022
Tallaght stadium in Dublin tonight pic.twitter.com/FhHtoVGT1L
— Dublin Bhoy (@dublincelticfan) September 8, 2022
Em uma postagem da noite da última quinta-feira (08/09), com a legenda, “Estádio de Tallaght em Dublin hoje à noite”, irlandeses cantam “Lizzy’s in a box”, ou “Lizzy está em uma caixa”.
Rainha Elizabeth tentando entrar nos portões do paraíso depois de viver 96 anos as custas do genocídio e exploração britânicos na África, América e Ásia pic.twitter.com/sjJ8qbMoEP
— Marcello Pablito #1655 (@PablitoMarcello) September 8, 2022
Uma montagem que aparenta ser Elizabeth II tentando abrir uma porta é acompanhada da legenda: “Rainha Elizabeth tentando entrar nos portões do paraíso depois de viver 96 anos as custas do genocídio e exploração britânicos na África, América e Ásia”.
Nations, everyone in England is distracted. It’s the perfect time to get your stuff back from the British Museum.
— Will Choy (@thewillchoy) September 8, 2022
Outro tweet faz uma referência aos artigos históricos que foram roubados de diversos países ao longo dos séculos pelo Reino Unido para serem expostos em museus, dizendo: “Nações, todos na Inglaterra estão distraídos. É o momento perfeito para recuperar suas coisas do Museu Britânico”.
7 membros da família real num mesmo vôo. Um vacilo do piloto e o Reino Unido vira uma república.
— Sergio Arenillas (@sergeta) September 8, 2022
“7 membros da família real num mesmo vôo. Um vacilo do piloto e o Reino Unido vira uma república”, ironiza uma postagem sobre jato utilizado por familiares de Elizabeth II para ir para a Escócia encontrá-la.
Domínio Público
Rainha Elizabeth II ao lado de Ronald Reagan e Margaret Thatcher em 1984
Afinal, quem foi a rainha Elizabeth II e por que sua morte desperta reações tão ambíguas? Nascida Elizabeth Alexandra Mary, em 21 de abril de 1926, em Mayfair, Londres, a monarca herdou o trono após a morte de seu pai, George VI, em 6 de fevereiro de 1952.
Na linha de sucessão era o irmão de seu pai, Edward VIII, quem arrumiria o reinado. Ele nutria simpatia pelo nazismo e chegou a dizer, em 1933, enquanto ainda era rei, que “ditadores são muito populares hoje em dia” e que “podemos querer um na Inglaterra em breve”.
Edward VIII, no entanto, abdicou do trono para se casar com Wallis Simpson, uma socialite norte-americana fora da linhagem real, em 11 de dezembro de 1936.
Até a Primeira Guerra Mundial, a família de Elizabeth II carregou o sobrenome Saxe-Coburg-Gotha, passando a adotar o Windsor em seguida para se desassociar das origens alemãs.
Quando a rainha é coroada, o país colonizava mais de 70 territórios ultramarinos, algo que foi se desmantelando com o fortalecimento de revoltas nacionais por soberania e independência. Nesse sentido, a monarca testemunhou importantes transformações do imperialismo no governo britânico, que foram assumindo novas formas.
O interesse da monarquia era explorar economicamente suas colônias e ex-colônicas, com destaque para a presença em países do continente africano, incluindo Gâmbia, Zanzibar, Serra Leoa e Nigéria, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Esse processo foi marcada por violência contra os habitantes dos territórios.
Com o crescimento do discurso anti-imperialista e as retiradas silenciosas de tropas das antigas colônias, entre as décadas de 1945 e 1965, o número de pessoas sob domínio britânico fora do próprio Reino Unido caiu de 700 milhões para cinco milhões, dos quais três milhões estavam em Hong Kong.
Conflitos violentos, como a Guerra das Malvinas, em 1982, em que a Argentina defendeu soberania sobre os arquipélagos, e o conflito na Irlanda do Norte, chamado em inglês de The Troubles, que teve início durante a década de 1960 e perdurou até a década de 1990, deixando mais de 3 mil mortos, aconteceram sob o reinado de Elizabeth II.
Margaret Thatcher teve um papel de destaque neste contexto, atuando como primeira-ministra britânica de 1979 até 1990. Seu governo também foi marcado por greves e manifestações dos sindicatos trabalhistas.
Escândalos na família real
As polêmicas dentro da família britânica receberam destaque desde as décadas de 1980 e 1990, com a cobertura extensiva dos tabloides britânicos de casos como o casamento entre o agora rei Charles III e a princesa Diana, em 29 de julho de 1981, sem aprovação de Elizabeth II.
Depois da separação do casal, ocorrida em 1992, mas oficializada apenas em 1996, a princesa sofreu um acidente de carro, em 31 de agosto de 1997, após ser perseguida por paparazzis. A rainha não prestou condolências.
Em um escândalo mais recente, de janeiro de 2020, o príncipe Harry, neto de Elizabeth II, e a duquesa Meghan Markle anunciaram que iriam se afastar das funções e deveres na família real britânica após entrevista à Oprah, ocasião em que mencionaram não apenas o escrutínio da mídia, mas também colocações racistas de membros da monarquia.
Já em 2021, o príncipe Andrew, um dos filhos de Elizabeth II, foi acusado de má conduta sexual, tendo feito um acordo para encerrar o processo em fevereiro de 2022. Andrew mantinha vínculo com Jeffrey Epstein, bilionário norte-americano que foi condenado por abuso sexual e enfrentou alegações persistentes de aquisição e tráfico sexual de menores de idade.
Elizabeth II, em 2019, era dona de um patrimônio líquido estimado em 500 milhões de dólares — valor correspondente a cerca de 2,5 bilhões de reais — e outras propriedades estimadas em 25 bilhões — cerca de 128 bilhões de reais. Um cidadão médio do Reino Unido ganha cerca de US$ 43.300, ou R$ 223.340,01 anualmente.