Os separatistas armênios de Nagorno-Karabakh afirmaram, nesta sexta-feira (22/09), que estão negociando a retirada de suas tropas do enclave. O Azerbaijão reivindicou o controle da região após uma ofensiva militar relâmpago.
De acordo com um comunicado divulgado pelas autoridades da região, “as negociações estão em curso com a parte azerbaijana, com a mediação dos soldados russos de manutenção da paz, para organizar o processo de retirada das tropas e garantir o retorno para casa dos cidadãos deslocados pela agressão militar”.
As partes também estão discutindo “o procedimento de entrada e saída dos cidadãos” de Nagorno-Karabakh, que tem ligação com a Armênia por uma única rodovia, o corredor de Lachin.
O governo do Azerbaijão e os separatistas armênios realizaram na quinta-feira a primeira rodada de negociações para a “reintegração” do enclave, que terminou com o anúncio de que outra reunião acontecerá em breve.
Os separatistas se comprometeram a entregar as armas como parte de um acordo de cessar-fogo que acabou com a ofensiva de um dia do Azerbaijão na região de maioria armênia. Moscou anunciou, nesta sexta, que as tropas separatistas armênias já tinham entregue seis blindados e mais de 800 armas leves com munições.
O ministério da Defesa russo também informou, por meio de nota, ter detectado duas violações do cessar-fogo acordado na quarta-feira, um número inferior ao da véspera. Segundo os separatistas armênios, a operação militar do Azerbaijão deixou pelo menos 200 mortos e 400 feridos.
Nagorno-Karabakh já foi sacudida por duas guerras entre as antigas repúblicas soviéticas do Cáucaso, Azerbaijão e Armênia: uma, de 1988 a 1994, com 30.000 mortos; outra, em 2020, com 6.500 mortos.
Capital sitiada
Segundo Armine Hayrapetyan, porta-voz das autoridades de Nagorno-Karabakh, as tropas do Azerbaijão cercaram Stepanakert, capital da região separatista, e a população está “escondida nos porões”.
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Região de Nagorno-Karabakh foi palco de conflitos esta semana entre tropas do Exército do Azerbaijão e grupos separatistas armênios
“As pessoas temem que os soldados azerbaijanos entrem na cidade a qualquer momento e comecem a matar”, acrescentou a porta-voz. Segundo os separatistas armênios, a operação militar do Azerbaijão deixou pelo menos 200 mortos e 400 feridos.
Longa espera
No corredor de Lachin, várias pessoas esperavam nesta sexta-feira, perto de um posto de controle, o retorno de familiares bloqueados no enclave.
Criticado por não ter enviado ajuda a Nagorno-Karabakh, o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, admitiu, no Conselho de Ministros, que “a situação” continua “tensa”. Mas “há esperança de uma dinâmica positiva”, acrescentou o chefe do governo armênio, segundo o qual o cessar-fogo que entrou em vigor na quarta-feira entre os separatistas armênios e o Azerbaijão está sendo “globalmente” respeitado.
Protestos
Ainda nesta sexta, novas manifestações contra Pashinyan ocorreram nas ruas da capital armênia, Yerevan, que terminaram com 98 novas detenções.
O primeiro-ministro acusou a Rússia, que tem um contingente destacado em Nagorno-Karabakh desde a última guerra, em 2020, de ter falhado em sua missão de manutenção da paz. Segundo o Azerbaijão, seis soldados russos desta unidade morreram durante a ofensiva. O presidente Ilham Aliyev pediu desculpas a seu homólogo russo, Vladimir Putin, por estas mortes.
A vitória do Azerbaijão poderia levar a um deslocamento maciço de 12 mil habitantes de Nagorno-Karabakh, embora a Armênia tenha garantido que não prevê qualquer evacuação em massa. Yerevan informou, no entanto, estar pronta para receber “40 mil famílias” de refugiados.
De acordo com a agência estatal de notícias do Azerbaijão, a Azertag, Baku enviou 40 toneladas de ajuda humanitária para a região nesta sexta-feira. Mais de 10 mil pessoas, incluindo mulheres, crianças e idosos, já foram retiradas.