O advogado e historiador norte-americano Alfred de Zayas, especialista independente da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Promoção da Ordem Internacional Democrática e Equitativa, afirmou que “não há crise humanitária” na Venezuela, e que o termo vem sendo usado como desculpa para intervir no país e derrubar o governo atual.
“Comparei as estatísticas da Venezuela com a de outros países e não há crise humanitária. É claro que há escassez, mas quem trabalhou por décadas para as Nações Unidas e conhece a situação de países da Ásia, África e alguns da América, sabe que a situação na Venezuela não é uma crise humanitária “, disse Zayas, em uma entrevista nesta terça-feira (20/02) a um programa da emissora multiestatal teleSUR.
O especialista esteve na Venezuela no final do ano passado e participou de reuniões com funcionários do governo, vítimas de violações de direitos humanos e da violência das chamadas “guarimbas” (protestos violentos da oposição) a fim de conhecer a situação política, econômica e social do país. Em março, deve apresentar seu relatório às Nações Unidas.
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Sanções pioram “escassez de alimentos e remédios”, diz Zayas
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Ele explicou que, embora muitos pensem que o país está à beira de um desastre, como mostram os meios de comunicação do exterior, “a Venezuela sofre uma guerra econômica, um bloqueio financeiro, sofre um alto nível de contrabando e, claro, necessita de solidariedade internacional para resolver esses problemas”.
Zayas ainda acredita que a comunidade internacional deve trabalhar em solidariedade à Venezuela para suspender as sanções, “pois são essas que pioram a escassez de alimentos e remédios”. “É insuportável pensar que, tendo uma crise de malária na Amazônia venezuelana, a Colômbia bloqueou a venda de medicamentos e a Venezuela teve que importá-los da Índia”, disse.
O especialista afirma que o discurso atual de crise humanitária por parte de porta-vozes dos EUA, além de não ser válido, somente visa à troca de governo na Venezuela, e que “desde 1999, uma série de Estados querem a troca de regime na Venezuela, esse desejo de destruir a Revolução Bolivariana e revogar todas as leis sociais adotadas nos mandatos de [Hugo] Chávez e [Nicolás] Maduro”.
“É como se eu não tivesse visitado a Venezuela”
Zayas denunciou a ausência de notícias sobre sua visita à Venezuela nos meios de comunicação dominantes que, segundo ele, não estão interessados em disseminar uma imagem completa da situação do país.
O especialista contou à TeleSur que o comum, sendo ele um antigo funcionário das Nações Unidas, secretário do comitê de Direitos Humanos e chefe do departamento de reclamações do Alto Comissionado da ONU, seria que meios como BBC e The New York Times publicassem suas declarações quando ele se pronunciasse sobre algum tema.
“No caso da Venezuela, tanto a CNN como a BBC me ignoraram, é como se eu não tivesse visitado a Venezuela”, o que ele qualifica como manipulação pública, acrescentando que apenas teleSUR e Sputinik o entrevistaram.
O historiador norte-americano também apontou que certas organizações ditas não governamentais, “mas cujas lealdades são duvidosas”, não querem especialistas independentes, “desejam especialistas que venham ao país para condenar, por isso quando me nomearam, disseram que eu não era o relator pertinente para falar da Venezuela”.
“Recebi cartas com insultos ao anunciar visita à Venezuela”
O escritório das Nações Unidas recebeu cartas do exterior com reclamações sobre a visita de Zayas à Venezuela, nas quais se exigia quais pontos deveriam ser investigados. “Considerei isso uma ingerência à minha independência, eu sou o relator, eu determino meu programa, eu sei qual informação é pertinente para meu relatório, no entanto, não quero que o relatório seja ditado para mim e algumas organizações não governamentais me sugeriram de forma pouco cortês, com cartas com insultos, dizendo o que eu tinha que fazer quando estivesse na Venezuela”
Para elaborar o relatório sobre a situação da Venzuela, Zayas viajou para visitar setores da oposição, Fedecamaras, a sociedade civil e Igreja. Falou com 16 ministros do governo, visitou as Missões Sociais e supermercados, “não para ter uma impressão completa em oito dias, mas de boa fé sobre a situação”.
Ele constatou que existem problemas de abastecimento, de distribuição de alimentos e medicamentos, porém o mais grave são as sanções e a guerra econômica pois prejudicam o comércio de remédios e comida subsidiados na fronteira com a Colômbia.