Terça-feira, 24 de junho de 2025
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Após uma semana no cargo, a nova Ministra da Economia argentina, Silvina Batakis, anunciou o primeiro pacote de medidas de sua gestão nesta segunda-feira (11/07). 

Reforçando “acreditar no equilíbrio fiscal”, a ministra anunciou um maior controle de gastos do Estado e outras medidas de austeridade para controlar as contas do país, endividado em moeda local, pesos argentinos, e em dólares.

“Não vamos gastar mais do que temos”, anunciou. Propôs, para isso, o congelamento de contratação em todos os órgãos do Estado Nacional e a execução de recursos à medida em que cada repartição disponha de dinheiro. Este último ponto, como ressaltou Batakis, implicará em mudanças na Lei de Administração Financeira. 

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“Todos os órgãos do Setor Público Nacional devem estar contemplados na administração eficiente do Orçamento e dos desembolsos”, destacou.

Em relação às dívidas, Batakis voltou a afirmar que o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) será mantido, e assegurou que não haverá desvalorização acelerada da moeda local. Ela também anunciou a criação de um comitê assessor de dívida para avaliar e realizar propostas em termos de dívida soberana em pesos.

“Esse acordo é consequência da chegada do FMI à Argentina, em um momento de máxima especulação”, disse Batakis, em referência à gestão neoliberal de Mauricio Macri. “Nos 4 anos da gestão anterior, se emitiram US$ 6 bilhões, quase 50% com o FMI, e além disso se emitiu dívida a 100 anos. Essa situação de dívida externa em dólares é um caminho de sustentabilidade que temos que transitar.”

A emissão monetária é apontada pela oposição como o grande causador da inflação no país, enquanto o governo aponta para o mercado, que especula e estabelece os preços de produtos básicos, como os alimentos. 

Após renúncia de ministro anterior, Silvina Batakis anuncia aposta na austeridade fiscal e compromisso com dívida do Fundo Monetário Internacional

Silvina Batakis durante o anúncio do pacote de medidas de sua gestão

Ministério da Economia Argentina

Batakis chega em um momento crítico do governo, com uma coalizão governista dividida, uma inflação fora do controle e um setor privado que não cede. O anúncio do primeiro pacote de medidas dá respostas ao mercado, garantindo recursos e disposição para atender às demandas do setor e ajustes que não afetam suas atividades (como seria o caso de proibir exportações, por exemplo).

Perspectivas

“Ajuste” costuma ser um termo sensível para o bolso da população na Argentina, sinônimo de cortes de gastos públicos. Em um país que atravessa uma crise inflacionária (que deve exceder 5% na taxa de junho, na variação mensal), o ajuste cai mais pesado para os setores populares, os primeiros que sentem o impacto dessas medidas.

Assim, as primeiras medidas da nova Ministra da Economia da Argentina geraram inquietação. Prometendo maior controle fiscal, o primeiro pacote de medidas anunciado pela pasta sob seu comando deu respostas apenas ao mercado, sem mencionar projetos já em discussão para atender à população — como é o caso do Salário Básico Universal, um programa de transferência de renda para trabalhadores abaixo da linha da pobreza.

O gesto é considerado um aceno para o mercado em uma semana de forte corrida cambial, acentuada pela troca no ministério após a renúncia repentina de Martín Guzmán. Organizações sociais e sindicais têm exigido medidas para a população, para recuperar os salários no contexto de alta inflação, com incremento de programas de geração de emprego e incentivo às cooperativas e à economia popular.

Medidas de combate à inflação por meio do tabelamento de preços e também limites às exportações têm gerado efeitos limitados. O presidente Alberto Fernández afirma, desde o início de sua gestão, que essas ações têm gerado justamente a especulação e uma disputa de poder.

Assim, a coletiva de imprensa da nova ministra parece ter sido direcionada a buscar tranquilizar os formadores de preço e os empresários. O dólar paralelo foi de $239 no 1º de julho, último dia útil antes da renúncia de Guzmán (que aconteceu no sábado), a $268, em pouco mais de uma semana. 

O dólar paralelo tem maior flutuação em relação ao dólar oficial (mais barato, vendido em bancos e valor de referência para exportações); no entanto, ele é utilizado como valor de referência para a remarcação de preços dos produtos internos, o que impacta diretamente na vida da população na Argentina.