Três dias antes do primeiro turno das eleições legislativas, e enfrentando uma esquerda bem mobilizada, o presidente francês, Emmanuel Macron, não perdeu a oportunidade de fazer campanha nesta quinta-feira (09/06), pedindo aos franceses que lhe deem “uma maioria forte e clara” nas eleições legislativas que acontecem em 12 e 19 de junho.
Por ocasião de uma viagem ao departamento de Tarn, o chefe de Estado criticou os “extremos” que “propõem somar crise à crise voltando às grandes escolhas históricas da nossa Nação”. Diante do avanço nas pesquisas da aliança de esquerda Nupes em torno de Jean-Luc Mélenchon, Macron atacou indiretamente a coalizão e o Reunião Nacional, de Marine Le Pen, que querem, em sua opinião, “voltar atrás em alianças que, como a Otan, garantem a segurança coletiva e protegem os povos” no momento “em que falo com a Rússia, que está massacrando civis na Ucrânia”.
Do outro lado, em apoio à coalizão de esquerda Nupes, dezenas de economistas, incluindo Thomas Piketti, afirmam em um artigo de opinião publicado nesta quinta-feira no Journal du Dimanche, que “diante da precariedade endêmica, da guerra e da transição ecológica, alegar que não há alternativa às atuais políticas econômicas é enganoso e perigoso”.
O campo das pesquisas de intenção de votos não se mostra menos polarizado que o campo das ideias. Brice Teinturier, diretor da Ipsos Sopra Steria, explica que o até então “equilíbrio de forças” antecede com efeito “um início de dinâmica a favor da Nupes e uma erosão do Juntos! (coalizão formada pelos quatro principais partidos governistas)”.
Pior cenário para Macron
Uma pesquisa da Ipsos publicada nesta quinta-feira mostra que a Nupes, com leve alta de 28%, estaria à frente dos macronistas (27%) nas intenções de voto. Se a Juntos! é creditada com de 275 a 315 assentos da Assembleia Nacional, não há certeza de obter uma maioria absoluta de 289 assentos, enquanto a Nupes poderia ganhar de 175 a 215 assentos. Este seria o pior cenário para Macron e seus apoiadores, o que ainda não era cogitado há algumas semanas.
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Presidente Emmanuel Macron pediu aos franceses que lhe deem "uma maioria forte e clara" nas eleições legislativas
Teinturier, no entanto, enfatiza “a fragilidade” dessas projeções: “tudo depende das trocas” de votos entre os dois turnos, com de “40 a 50 cadeiras que podem migrar de um bloco para o outro”. Já a sondagem do instituto de pesquisa Harris aponta entre 285 e 335 assentos para o Juntos!, e o Ifop, entre 250 e 290 lugares.
No caso de uma maioria relativa, os partidários do chefe de Estado na Assembleia seriam obrigados a encontrar deputados da oposição inclinados a votarem os projetos de lei. Uma situação não necessariamente problemática, na opinião de um assessor do Executivo. “No caso de uma maioria relativa, caberá a nós nos reunirmos mais amplamente buscando a direita ou a esquerda republicana. E mesmo que sejam 30 parlamentares, vamos encontrá-los para a maioria dos projetos.”
De acordo com esta mesma fonte, “esta situação envolveria mais compromissos e uma pequena revisão do cronograma de votações”. As negociações podem, no entanto, levar mais tempo para reunir os parlamentares da oposição.
Negociação e diplomacia
Para alguns especialistas, existiria, por outro lado, um risco real para a maioria de se encontrar em uma situação de impasse, no caso de uma maioria relativa. Uma situação em que o governo não poderia realizar todas as reformas que pretende, exigindo uma postura de maior negociação e diplomacia.
Analistas políticos ainda mais otimistas veem no cenário a oportunidade de se criar uma cultura de compromisso parlamentar, ainda que a busca por estes deputados da oposição não seja uma tarefa tão simples.
Mas o que as diferentes projeções dos institutos parecem acordar é que a Nupes terá um grande contingente de deputados, o que deslocará o equilíbrio da Assembleia mais para a esquerda do que na gestão anterior, não desconsiderando a forte cultura de combate parlamentar por parte dos deputados da França Insubmissa, que devem se tornar mais numerosos depois do pleito, intensificando ainda mais os debates nos próximos cinco anos.