O racismo é onipresente na Alemanha: quase um em cada cinco habitantes do país já foi vítima desta forma de discriminação, revelou um estudo inédito divulgado nesta quarta-feira (11/01). De acordo com o primeiro relatório do governo alemão sobre racismo, 90% dos entrevistados reconheceram ainda que esse tipo de preconceito é um problema no país.
Ao divulgar o primeiro estudo oficial abrangente sobre o tema realizado no país, a comissária federal da Alemanha para o Antirracismo, Reem Alabali-Radovan, destacou a necessidade de se reconhecer o racismo estrutural existente na sociedade alemã e de melhorar o apoio destinado às vítimas.
“O racismo não é um conceito abstrato, mas uma realidade dolorosa para muitos em nossa sociedade”, afirmou Alabali-Radovan. “É uma grande ameaça à democracia, pois ataca a dignidade humana que é garantida pela Constituição”, acrescentou.
O relatório mostrou que 22% dos entrevistados afirmaram já ter sido vítima de racismo. O documento destacou ainda que, em 2022, as estatísticas oficiais mostram que, entre os 1.042 crimes de motivação política registrados, dois terços eram de natureza racista. O estudo pontua, porém, que serviços de aconselhamentos independentes receberam ao menos 1.391 denúncias de ataques físicos.
A comissária destacou, porém, que o racismo não se apresenta apenas como “ódio e violência”, mas também em micro agressões cotidianas, na exclusão sistemática no mercado de trabalho e imobiliário, na falta de representatividade nas estruturas de poder, na brutalidade policial e na discriminação na escola e em outros espaços.
Diferentes tipos de racismo
O documento reúne dados sobre o racismo em diferentes grupos populacionais. O relatório mostra, por exemplo, que um terço dos entrevistados afirmou que a imigração muçulmana deveria ser restrita na Alemanha, e que 27% disseram que já havia muitos muçulmanos morando no país europeu.
Já entre os negros que denunciaram a agressão sofrida, 74% afirmaram estar insatisfeitos como o caso foi tratado pelas autoridades. Muitas das vítimas precisam ultrapassar diversas barreiras para fazer a denúncia, como o medo de represálias, desdenho de agentes públicos e até mesmo o despreparo de algumas autoridades que não sabem que esse tipo de violência é crime.
Paul Zinken / DPA
A comissária federal da Alemanha para o Antirracismo, Reem Alabali-Radovan
O estudo também mostrou que a pandemia de covid-19 impulsionou o racismo contra alemães de origem asiática. Dos 700 entrevistados deste grupo, cerca da metade afirmou ter sofrido racismo devido à falsas percepções sobre a pandemia.
O grupo que enfrenta o maior preconceito, segundo o relatório, são os de origem Sinti e Roma. “Cerca de 29% dos habitantes da Alemanha admitem ter antipatia por esses grupos. Esse resultado é o mais alarmante, tendo em vista o genocídio contra Sinti e Roma [durante o Holocausto]”, destaca o documento.
Ano Novo
“O debate sobre a situação no Ano Novo mostra que mesmo em 2023 precisamos aprender a discutir questões sociais sem cair nos estereótipos racistas”, afirmou Alabali-Radovan. A comissária disse que se tornou um pretexto expressar suposições preconceituosas sobre as etnias daqueles quer teriam supostamente atacado policiais e bombeiros.
Alabali-Radovan anunciou ainda medidas para combater o racismo: como o fortalecimento de serviços comunitários de aconselhamento e a criação de um painel de especialista para políticas antirracistas, que deverá estabelecer uma definição legal de racismo e endurecer a legislação contra o discurso de ódio na internet, entre outros.
Sobre o relatório
Para o relatório, a equipe da comissária reuniu uma série de estudos representativos realizado sobre tema por organizações como o Monitor Nacional de Discriminação e Racismo (NaDiRa), que fez 5 mil entrevistas por telefone, além de dados da polícia.
Embora a Alemanha ainda não tenha uma definição legal padrão de racismo, o relatório usou a definição aplicada em 2021 num estudo sobre integração que considera que racismo “crenças e práticas baseadas na desvalorização sistemática e exclusão, bem como desvantagens de certos grupos populacionais aos quais são atribuídas características e comportamentos construídos biológica ou culturalmente, imutáveis e supostamente inferiores”.