Sem grandes compromissos, mas usando tom firme, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse hoje (17) que as relações com Cuba devem ter um novo começo. A afirmação é parte do discurso que Obama fez durante a abertura da 5ª Cúpula das Américas, realizada em Trinidad e Tobago.
“Podemos levar as relações entre Cuba e os Estados Unidos em uma nova direção. Os Estados Unidos procuram um novo começo com Cuba”, afirmou o presidente, em meio aos aplausos dos 34 líderes latino-americanos presentes. Cuba é a única nação latinoamericana que não participa da cúpula.
Obama chegou à capital de Trinidad e Tobago, Porto de Espanha, rodeado por fortes medidas de segurança e especulações sobre o futuro das relações de seu país com a ilha caribenha.
Nas últimas 24 horas, os dois países trocaram mensagens, algumas particulares e outras em público, nas quais – como nunca antes – manifestaram intenções de começar um diálogo comum.
Na madrugada de hoje, em Cumaná, Venezuela, o presidente cubano, Raúl Castro, afirmou estar disposto a conversar com os Estados Unidos sobre todos os temas possíveis, dentro de um ambiente de respeito mútuo.
Obama, logo depois, pela manhã, assinalou durante coletiva de imprensa na Cidade do México que um diálogo com Cuba parte da compreensão das características culturais de cada país.
Já em Trinidad, o presidente norte-americano acrescentou que o diálogo com Havana deve incluir, além dos temas relacionados com as liberdades individuais, assuntos como o narcotráfico, proteção de fronteiras, imigração, entre outros.
“Sei que temos uma longa jornada adiante, mas esta deve ser percorrida para deixar atrás décadas de desconfiança. Também temos de dar passos importantes par chegar a um novo dia”, disse Obama.
No entanto, “vamos ser claros. Não estou interessado em um diálogo apenas pelo prazer de conversar. Mas acredito que podemos elevar as relações entre os dois países a um outro nível”, acrescentou.
Mathew Cavanaugh/EFE
Reconciliação
Segundo Joe Garcia, ex-diretor do partido democrata em Miami e atual assessor de Obama para assuntos cubanos, o discurso do presidente “mostra, antes de mais nada, uma genuína intenção de reconciliação”.
“Obama mostrou uma visão pragmática, direta e real, sobre a situação entre os dois países. Esperamos agora que Cuba responda. Não sei quando, nem como, mas deve o fazer”, afirmou ao Opera Mundi.
Em termos gerais, acrescentou Garcia, “pela primeira vez em 50 anos os norte-americanos tomam a iniciativa”.
Inclusive entre a oposição cubana exilada, o discurso de Obama, provocou emoções. “Tenho muitos familiares que se enfrentaram em lados opostos na invasão da Baía dos Porcos [em 1961]. Sinceramente, não quero esse futuro para Cuba. Temos de nos entender”, afirmou o analista e escritor cubano exilado, Camilo Loret de Mola.
Na segunda-feira (13), Obama anunciou o levantamento total das restrições de viagens e envio de dinheiro, por parte dos cubano-americanos, a seus familiares na ilha.
Cuba respondeu inicialmente com cautela, mas na quarta-feira (15), o ex líder cubano Fidel Castro, apontou em um de seus artigos, que o gesto “era pequeno”, e lamentou que não incluia o fim do embargo econômico à ilha. Mas não rejeitou a oferta de diálogo.
Trecho do discurso em que Obama cita Cuba
América Latina
Obama também disse em seu discurso na Cúpula das Américas, que viajou à América Latina, “não para falar do passado, mas sim do futuro, baseado numa relação de respeito”.
E o presidente entrou no Centro de Convenções em Porto Espanha dando mostras dessa nova aproximação. Enquanto se dirigia à cadeira reservada para ele, Obama parou para cumprimentar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que lhe disse: “Com esta mesma mão, há oito anos, eu cumprimentei Bush. Quero ser seu amigo”. Segundo o governo venezuelano, Obama teria agradecido a saudação.
“Não há um parceiro maior e outro menor em nossas relações; simplesmente há uma implicação baseada em nosso respeito mútuo, nossos interesses comuns e nossos valores compartilhados. Estou aqui para lançar um novo capítulo de aproximação que continuará durante meu mandato”, assegurou Obama.
“Os Estados Unidos mudaram, não foi fácil. Mas os Estados Unidos admitem seus erros do passado”, disse o presidente.
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