O presidente eleito Barack Obama lançou hoje (8) um dramático apelo ao Congresso dos Estados Unidos para que aprove o seu pacote de medidas de auxílio financeiro. Caso contrário, na sua opinião, a recessão atual pode virar uma depressão econômica de consequencias imprevisíveis e que pode durar “anos”.
O pacote, que começou a ser desenhado logo que Obama ganhou as eleições, preve o gasto de US$ 775 bilhões (R$ 1,717 trilhões) nos próximos dois anos, entre injeções de subsídios a empresas, cortes orçamentários e redução de impostos. No discurso de hoje, Obama não deu detalhes de como pensa em aplicar o pacote financeiro nem resolver a questão da dívida interna, que ultrapassa US$ 1 trilhão (R$ 2,2 trilhões).
“Não acredito que seja tarde demais. Mas se não adotarmos as medidas contundentes e necessárias o mais depressa possível, não chegaremos a tempo”, disse o presidente eleito, num discurso na Universidade George Mason, en Fairfax, nos arredores de Washington.
“Neste momento, só o governo pode dar o impulso nacessário para que o país possa sair da crise”, enfatizou.
Obama assume a presidência em 12 dias. Desde que foi eleito, em novembro, tem evitado falar publicamente sobre a situação do país ou sua política externa, para não dar a ideia de que os Estados Unidos têm dois presidentes. Mas nos últimos quatro dias, quebrou essa regra.
“A muito curto prazo, esta situação ruim em que nos encontramos poderia ficar pior”, disse. Para ele, o Congresso “deve trabalhar 24 horas por dia, mesmo nos fins de semana se for preciso”.
Obama, que por momentos pareceu impaciente e claramente desejoso de que o seu apelo fosse escutado, recordou que o Congresso começou a funcionar ontem, com o novo desenho de maioria democrata, portanto tem pouco tempo para começar a aplicar seu plano.
A ideia do presidente eleito é começar a aplicar o pacote já no próximo dia 20. “Temos uma taxa de desemprego de 10% e a economia perdeu US$ 1 bilhão no último ano. É preciso trabalhar mais depressa”, afirmou.
Um indício da impaciencia de Obama é o fato de que enquanto discursava, seus principais assesores econômicos estavam reunidos com os congresistas e senadores democratas. Em seguida, o Comitê de Finanças do Senado se reuniu a porta fechada para analisar o assunto.
Obama responsabilizou diretamente pela situação financeira do país a administração Bush, que caracterizou como “uma era de irresponsabilidade profunda que abrangeu as diretorias das corporações financeiras e econômicas, assim como os corredores do poder em Washington”.
Obama descreveu os objetivos imediatos para ajudar a classe média. Voltou a prometer redução de mil dólares nos impostos para 95% das famílias norte-americanas, medida que, na sua opinião, “obrigará as pessoas a gastar mais e, assim, estimular a economia”.
No entanto, admitiu que o plano pode aumentar a curto prazo a dívida interna norte-americana. “Mas também é verdade que se fizessemos pouco ou nada, o déficit ainda seria maior”, disse. “Este plano não é só uma nova política, mas também uma nova forma de resolver os problemas”, acrescentou.
O discurso de Obama coincidiu com a divulgação de um estudo do Departamento do Trabalho que revela que o número de pessoas a pedir seguro-desemprego é o maior desde 1980. Em dezembro do ano passado, meio milhão de norte-americanos perderam o emprego, aumentando para 2,4 bilhões o número de pessoas que ficaram desempregadas em 2008.
Obama se vinga de Howard Dean
Horas depois do discurso, Obama cobrou uma velha dívida política e pessoal dentro do partido democrata: destituiu o diretor-geral da entidade, o ex-governador Howard Dean (Vermont). A decisão era previsível, porque Dean sempre se opôs à nomeção de Obama e fez todo o possível para a sabotar.
Em janeiro do ano passado, quando as delegações do partido na Flórida e em Michigan adiantaram as primárias locais, Dean decidiu que os delegados eleitos não participariam da convenção nacional do partido. Se isso tivesse acontecido, teria privado Obama de dois apoios capitais para chegar à Casa Branca. O problema foi resolvido dias antes da convenção, em setembro, quando o comitê nacional democrata se levantou em peso contra Dean.
Obama tem autoridade para despedir Dean porque desde que foi eleito presidente, transformou-se automaticamente em presidente do partido.
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