Barack Obama pediu por um “novo começo” das relações entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano hoje (4) durante esperado discurso no Egito, onde afirmou ainda que juntos, ambos podem enfrentar a violência do extremismo por todo o mundo e avançar na busca pela paz no Oriente Médio. Em uma ruptura clara com seu antecessor, George W. Bush, Obama também criticou a recusa do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em parar de expandir os assentamentos judaicos na Cisjordânia.
Palestinos assistem discurso de Obama, no Cairo – Abed Al Hashlamoun/EFE
O discurso no auditório da Universidade do Cairo, de quase uma hora de duração e um dos mais longos pronunciados pelo presidente em seu mandato, foi carregado de conteúdo, no qual Obama repassou as diversas áreas de tensão entre seu país e os muçulmanos, mas com fio principal na necessidade de “acabar com este ciclo de suspeita e discórdia”.
Mais que expor novas propostas, o presidente americano se concentrou em explicar sua política a um público que lotou o recinto, que interrompeu o presidente várias vezes e se despediu com gritos de “Obama, Obama”.
“Enquanto nossa relação for definida por nossas diferenças, estamos potencializando os que cultivam o ódio em lugar da paz, e os que promovem o conflito em vez da cooperação”, disse Obama. “O quanto antes os extremistas ficarem isolados e sem amparada nas comunidades muçulmanas, antes todos nós estaremos seguros”, completou.
Os Estados Unidos e o Islã “não precisam competir”, mas compartilham princípios como a justiça e a tolerância, afirmou o presidente, que se referiu a suas próprias experiências do Islã como uma criança criada na Indonésia – país com o maior número de muçulmanos no mundo – e à contribuição da cultura muçulmana nos Estados Unidos.
O líder norte-americano pediu que os muçulmanos superem seus preconceitos contra os Estados Unidos e enumerou uma série de áreas onde houve desencontros, do Iraque e Afeganistão ao conflito israelense-palestino ou aos direitos humanos.
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Israel e Palestina
Nem sempre foi uma mensagem fácil. Apesar de sublinhar a imediata interrupção de novos assentamentos, a chamada em defesa dos judeus ou do direito de Israel de existir foi recebida com silêncio na sala.
O presidente dos EUA destinou uma grande parte de seu discurso ao conflito no Oriente Médio que, segundo ele, só tem como solução possível a coexistência de um Estado israelense e outro palestino.
Obama lembrou que os palestinos têm a obrigação de colocar fim à violência e os israelenses, de melhorar as condições de vida de seus vizinhos e acabar com os assentamentos.
“Os fortes laços entre Israel e os Estados Unidos são bastante conhecidos. Este elo é inquebrantável. Está baseado em raízes históricas e culturais”, justificou.
Vendedor em Tel Aviv – Pavel Wolberg/EFE
O presidente americano também lembrou seu compromisso de retirar as tropas americanas do Iraque até 2011 e sua nova estratégia para o Afeganistão, onde disse que sua intenção não é manter tropas eternamente.
Irã
Obama também lançou uma chamada ao Irã para aceitar sua oferta de um novo começo sem condições prévias, no qual Teerã deve cumprir seus compromissos internacionais sobre seu programa nuclear para evitar uma escalada armamentista na região.
O presidente dos EUA fez também uma chamada aos países muçulmanos para um maior respeito aos direitos humanos e, precisamente, aos direitos da mulher, ao que foi aplaudido.
O líder americano concluiu seu discurso com citações da Bíblia, do Corão e da Torá judaica, para lançar uma chamada à harmonia entre religiões.
Este discurso de Obama foi dirigido à comunidade muçulmana mundial, de mais de 1,5 bilhão de pessoas.
Repercussão
Ahmad Yousuf, oficial sênior do Hamas, afirmou à rede Al Jazeera que o pronunciamento de Obama o lembrou do célebre discurso de Martin Luther King, “Eu tenho um sonho”.
A mensagem que os Estados Unidos não são uma ameaça ao mundo muçulmano foi um bom sinal, ressaltou. “Mas não houve qualquer menção ao direito de retorno dos milhares de palestinos, e isso é ruim”.
Para a ANP (Autoridade Nacional Palestina) o discurso foi um “bom começo” para uma nova política norte-americana no Oriente Médio, segundo Nabil Abu Rudeineh, porta voz de Mahmoud Abbas.
“Seu chamado para parar os assentamentos e para o estabelecimento de um Estado palestino, e sua referência ao sofrimento dos palestinos… é uma clara mensagem para Israel que uma paz justa deve ser construída sobre a fundação de um Estado palestino com Jerusalém como capital”, disse o porta voz.
O governo israelense emitiu uma nota em que saúda o discurso de Obama. “Israel está comprometido com a paz e fará todos os esforços para expandir o círculo da paz, protegendo seus interesses, especialmente quanto à segurança nacional”.
“O discurso foi histórico e importante, e refletiu uma direção positiva da nova administração [em Washington]”, disse Ali Al-Dabbagh, porta voz do governo iraquiano. “O uso de passagens do Corão tem um papel muito importante nessa mudança, mas permanece a necessidade de ação”.
O líder do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse algumas horas antes do discurso de Onama no Cairo que “mudanças devem ser feitas na prática, e não através de belos discursos para os muçulmanos do mundo”. Khameni também reiterou que as nações do Oriente Médio “odeiam profundamente” os Estados Unidos por suas políticas recentes, como “ataques militares, interferência política e discriminação”. “A nova administração dos Estados Unidos quer mudar esta imagem, mas eu lhes digo que isto não se tornará realidade apenas com de discursos”.
Comunicação
Para alcançar o maior público possível, a Casa Branca divulgou o discurso pela internet e através de redes sociais cibernéticas, enquanto o Departamento de Estado traduziu a mensagem para 13 idiomas diferentes e criou um site especial para receber alertas de texto em tempo real em quatro idiomas: inglês, árabe, urdu e farsi.Na rede de relacionamentos twitter, os verbetes mais citados nas mensagens, de acordo com o site, eram “cairo” e “cairo speech”.
(Com informações da EFE, The New York Times, BBC, Haaretz, Al Jazeera e Gaea News)
Atualizada às 12h12
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