Apesar de o retorno de Lula ao Palácio do Planalto vaticinar uma reaproximação do Brasil com os BRICS (bloco que inclui, além do país sul-americano, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul), que inclusive foi enfatizada pelo próprio presidente em seu discurso de posse, essa situação pode enfrentar obstáculos provocados pelos Estados Unidos.
A aposta é do acadêmico Pedro Costa Júnior, professor de relações internacionais das Faculdades de Campinas (Facamp) e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP).
Em entrevista ao site Sputnik News, Costa disse que a integração dos países da América Latina com outras potências mundiais não é vista com bons olhos pelos Estados Unidos de uma forma geral, mas o caso do Brasil e sua participação nos BRICS é considerado uma ameaça ainda maior.
“O grande inimigo externo dos Estados Unidos hoje é a China. E não só do governo Biden, essa é uma questão do Departamento de Estado, do Estado profundo, dos democratas e dos republicanos. Por isso os BRICS se tornam um problema direto, mais do que a integração latino-americana”, analisa o pesquisador.
Ricardo Stuckert
O vice-presidente da China, Wang Qishan, saúda Luiz Inácio Lula da Silva durante a cerimônia de posse, em Brasília
Costa acrescenta que a disposição de Lula de buscar o fortalecimento dos BRICS terá que superar tentativas de sabotagem de Washington. “Sendo o Brasil a liderança natural da América do Sul, o fato de o país estar nos BRICS sempre vai ser um problema para os Estados Unidos, que vão tentar dinamitar essa relação”, afirmou.
“Para os Estados Unidos, os BRICS são um problema central. É um problema de Estado […] A entrada da Rússia e da China no continente [América Latina] tem que ser combatida. Por isso eles não podem deixar que o Brasil continue fazendo parte dos BRICS”.
O acadêmico também comentou sobre o cenário regional, onde observa uma América Latina rachada entre a centro-esquerda e a extrema-direita. “Se não fosse a vitória de Lula [no Brasil], de Gabriel Boric [no Chile], de Alberto Fernández [na Argentina], seria a extrema-direita no poder”, avaliou.
“A polarização selvagem está presente em vários lugares do mundo, e também aqui. Para os Estados Unidos, não é interessante uma América Latina unida [por governos de esquerda], mas a outra opção, a da extrema-direita, também não. A extrema-direita está fora de controle, e isso se reflete em toda a América Latina. A integração sempre vai ser um problema, mas agora é um problema menor”, comentou o pesquisador da USP.