Em setembro de 2011, um grupo de manifestantes resolveu ocupar o parque Zuccotti, localizado no distrito financeiro de Wall Street, em Nova York, em protesto contra as corporações, acusadas pela crise financeira dos Estados Unidos. Ganhava vida ali o Occupy Wall Street (OWS), movimento inspirado na Primavera Árabe, e que ajudou a inspirar movimentos de ocupações no mundo inteiro.
O ativista norte-americano Justin Wedes era um dos que estavam no movimento desde o início. Ele fez parte da primeira equipe de mídia do OWS. “Meu objetivo era difundir a mensagem da ocupação para todo o mundo, investindo sobretudo nas redes sociais”, disse em entrevista a Opera Mundi.
João Ricardo Penteado/Opera Mundi
Justin Wedes, do OWS: “precisamos construir um 'exército de justiça social', que pratique a resistência não-violenta”
Wedes é graduado em física e linguística, além de ser ativista. Ele participou de evento em São Paulo nesta terça-feira (30/01) para promover o Fórum Social Mundial 2013, que neste ano acontecerá em Tunis, na Tunísia, de 26 a 30 de março.
Opera Mundi: Como você definiria o movimento OWS?
Justin Wedes: A definição é difícil e cada pessoa deve ter uma diferente. Para mim, o OWS tem a ver com o empoderamento das pessoas, para que elas possam enfrentar questões relativas à justiça social e à econômica em nosso país. Para que elas possam lutar por uma democracia real, por uma economia mais justa e humana e também por um mundo onde queiramos viver, crescer e criar nossas famílias.
OM: Quais foram as principais conquistas do movimento até agora?
JW: A primeira coisa que nós fizemos foi conseguir estabelecer um diálogo em nosso país que não existia antes. Esse diálogo era sobre justiça econômica, sobre o resgate financeiro concedido pelo governo aos bancos e como ele, o governo, e Wall Street, trabalharam juntos para fraudar e roubar dos 99%. Era um tempo em que se falava sobre o aumento ou a diminuição do teto da dívida, sobre a redução de serviços, a redução do orçamento, o fechamento de escolas e hospitais, e nós mudamos o foco desse debate para “justiça”. Queríamos nos certificar que todos somos responsáveis pelo bem estar do país, e que não só os mais pobres teriam que pagar pelos erros de Wall Street.
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OM: E quais foram as grandes falhas?
JW: Eu sou um otimista, então eu enxergo o que seriam “falhas” como desafios para o futuro. O desafio maior para mim no momento é fazer esse movimento ecoar e ser acessível para todos os trabalhadores. Nós começamos como um pequeno movimento de pessoas que não éramos diversas. Não representávamos os 99% dos quais falávamos a respeito. O que nós vemos acontecer no nosso segundo ano é que temos que enfrentar questões e causas que são importantes para os trabalhadores. Por exemplo, o furacão Sandy que atingiu Nova York. À época, nós fizemos o Occupy Sandy. Ajudamos as pessoas cujas casas foram tomadas por enchentes e as que foram despejadas de suas casas. Tentamos assistir quem está sofrendo com dívidas, muitas ilegítimas. Então eu acho que enfrentar essas causas é um grande desafio para nós, pois isso nos torna mais “aplicáveis” na vida das pessoas.
Wikicommons
Integrantes do Occupy Wall Street em manifestação no parque Zucotti, em Nova York. Movimento eclodiu em 2011
OM: Como está organizado o OWS agora?
JW: Ser despejado da praça foi uma grande reviravolta para o movimento, porque deixamos de nos focar em manter uma ocupação física. De fato, precisávamos criar nossa rede fora de Manhattan, e assim ir para as comunidades e construir o poder comunitário, com assembleias comunitárias organizadas de quarteirão em quarteirão, de cidade a cidade, por todo o país. Nos tornamos agora uma rede nacional e internacional — firme e muito solidária. Não há nenhuma chance no momento para os 99%. É um jogo injusto, e nós temos que nos organizar no nível mais básico, de uma casa a outra, para que consigamos realmente construir um “exército de justiça social”, que pratique a resistência não-violenta, para enfrentar esse governo injusto e esse sistema econômico perverso.
OM: Qual o principal legado do movimento?
JW: Eu acho que o nosso principal legado é a frase “Nós somos os 99%”. Essa frase tem sido o melhor legado do Occupy Wall Street porque é um chamado à ação. Não se trata de uma divisão entre os 99% e o 1%, mas uma união entre todas as pessoas que se importam com justiça, com igualdade, com pessoas pobres, com trabalhadores. Nós somos os 99%. Há muito mais de nós que deles.