A cobertura de alguns meios do Ocidente sobre próxima cúpula do Brics – programada para acontecer entre os dias 22 e 24 de agosto, na cidade sul-africana de Johanesburgo – tem causado polêmica, devido aos rumores a respeito de uma suposta discordância entre os membros do bloco sobre a aceitação das candidaturas de 22 países que desejam ser novos integrantes.
Meios de comunicação dos Estados Unidos e da Europa publicaram esta semana diferentes matérias sugerindo que o Brasil e a Índia seriam os dois principais focos de resistência à essa ideia dentro da entidade, que também é composta por China, Rússia e África do Sul – países que estariam de acordo com a expansão do Brics, segundo a narrativa ocidental.
A repercussão dessas notícias obrigou os governos brasileiro e indiano a difundirem desmentidos públicos sobre a versão ocidental.
No caso do Brasil, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi quem desmentiu as afirmações durante uma coletiva com correspondentes estrangeiros, enfatizando que o país é favorável à aceitação de novos membros, incluindo algumas das 22 candidaturas que serão avaliadas na cúpula, e que apenas deseja estabelecer um critério claro para definir quais serão aceitas e quais não.
Atualmente, o Brics conta com apenas cinco países membros – Brasíl, Rússia, Índia, China e África do Sul, cujos nomes em inglês formam, nessa ordem, a sigla que batizou o bloco –, mas a próxima cúpula terá como tema principal os 22 pedidos de países que desejam ser incorporados como novos integrantes da organização.
A região da América Latina e do Caribe é uma das que possui maior número de candidaturas, entre as quais estão Argentina, Bolívia, Cuba, Honduras, México e Venezuela. Outros pedidos destacados são os de Arábia Saudita, Argélia, Bielorrússia, Cazaquistão, Indonésia, Irã, Nigéria, Sérvia e Turquia.
Semeando a discórdia
Para o jornalista e analista de relações exteriores Adriel Kasonta, o relato ocidental sobre as supostas divergências dentro do Brics, especialmente sobre o tema da expansão do bloco, parecem ser uma tentativa de gerar divisão.
“A Índia é percebida pelo Ocidente como o elo mais fraco dentro desse grupo, porque está em uma competição aberta com a China quando se trata da hegemonia na Ásia. No caso do Brasil, transformaram uma ressalva de Lula em uma negativa, já que, na verdade, ele apenas defendeu a adoção de critérios para escolher os novos membros. Em ambos os casos, parece haver a intenção de semear a discórdia, criar uma situação para que certa decisão não seja tomada”, comentou Kasonta, em entrevista à Sputnik News.
O analista político também considera que “não se trata de um desacordo, porque o Brics já tomou a decisão de avançar em sua expansão, com a adesão de novos membros não apenas durante nesta cúpula, mas no futuro próximo”.
Novo Banco de Desenvolvimento Twitter
Edição de 2023 da Cúpula do Brics acontecerá na cidade de Johanesburgo, na África do Sul, entre os dias 22 e 24 de agosto
“Essas narrativas ocidentais são uma tentativa de destruir o bloco que representa uma séria ameaça para a hegemonia ocidental. O objetivo, portanto, é manter essa hegemonia no futuro”, acrescentou.
Kasonta concluiu sua análise dizendo que, para ele, “o derradeiro objetivo do Brics é ser o marco final no longo esforço dos líderes do Sul Global para romper com o neocolonialismo”.
Desmentidos de Índia e Brasil
Após a publicação de rumores sobre a suposta resistência de Nova Delhi à aceitação de novos membros no Brics, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Arindam Bagchi, classificou tais afirmações como “infundadas”.
“A Índia está disposta a abordar a questão (da inclusão de novos membros ao Brics) com a mente aberta e uma perspectiva positiva”, disse o diplomata indiano.
No caso do Brasil, o próprio presidente Lulada Silva se pronunciou a respeito, durante coletiva concedida na quarta-feira (02/08) a correspondentes estrangeiros, no Palácio do Planalto.
“Creio que é extremamente importante permitir que outros países possam aderir ao Brics. De um ponto de vista global, penso que o Brics pode desempenhar um papel excecional”, salientou o mandatário brasileiro, que acrescentou, como única ressalva, a necessidade de estabelecer um critério “claro e justo” para a aceitação ou não de uma candidatura.
Lula também defendeu a expansão do trabalho do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, por sua sigla em inglês), que é presidido atualmente pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff.
O mandatário petista disse que a entidade, também conhecida como Banco do Brics, deve ser “mais eficaz e mais generoso que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e servir ao desenvolvimento dos países, deve ter regras visando melhorar a vida dos países, e não para afundar os países, como muitas vezes acontece com os créditos do FMI”.
Com informações de Sputnik News, RT e Tass.