Em apenas três dias, a ofensiva da Turquia contra a minoria curda no nordeste da Síria levou cerca de 100 mil pessoas a abandonar suas casas, afirmou a ONU nesta sexta-feira (11/10).
“O impacto humanitário já está sendo sentido. Estima-se que 100 mil pessoas já deixaram suas casas”, disse a ONU num comunicado. “A maioria está abrigada em outras comunidades, mas aumenta o número daqueles que chegam a abrigos coletivos nas cidades de Al Hasakeh e Tal Tamr e muitos buscam refúgio em escolas”.
O êxodo é o mais recente na guerra da Síria que deixou deslocada metade da população do país, cerca de 11 milhões de pessoas. A Turquia criticou o alerta de crise humanitária iminente, que chamou de “fabricado para desacreditar os esforços antiterroristas do país”.
Na quarta-feira (08/10), o exército turco iniciou uma ofensiva aérea e terrestre no nordeste da Síria contra a milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG), considerada por Ancara uma organização terrorista.
No terceiro dia da ofensiva, forças turcas enfrentaram forte resistência de combatentes curdos, que eram aliados dos Estados Unidos. A Turquia disse que capturou mais um vilarejo na fronteira. Colunas de fumaça eram vistas na cidade síria de Tal Abyad, que foi alvo de um ataque aéreo. O município turco Suruc também foi atingindo por bombardeiros.
Segundo o Observatório Sírio para Direitos Humanos, 32 militantes curdos foram mortos desde o início do ataque, enquanto Ancara alega que matou 342 combatentes. Ao menos sete civis sírios, 17 civis turcos e três soldados turcos morreram.
“A operação está indo como o planejado. Estamos sendo extremamente cuidadosos para garantir que nenhum civil seja prejudicado”, disse o ministro turco da Defesa, Hulusi Akar.
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Exército turco iniciou uma ofensiva aérea e terrestre no nordeste da Síria contra a milícia curda
Trump prepara sanções
O presidente americano, Donald Trump, foi acusado de promover a ofensiva da Turquia contra os curdos ao tirar repentinamente as tropas americanas da região, abandonando os aliados curdos que tiveram um papel fundamental para a derrota dos terroristas do “Estado Islâmico” (EI).
A ação de Trump foi alvo de críticas tanto de democratas quanto de republicanos e de líderes internacionais. O Pentágono alertou que a retirada dos militares pode permitir que o EI volta a ganhar força na região.
Refletindo o medo internacional de que a ofensiva possa reviver o Estado Islâmico, o grupo reivindicou dois atentados com carros-bomba na cidade de Qamishli, um dos alvos da ofensiva do exército da Turquia. As explosões mataram quatro pessoas.
As forças curdas mantêm ainda mais de 10 mil integrantes do EI detidos na região, mas disseram que estão sendo obrigadas a abandonar algumas destas posições para combater a invasão turca.
Diante das críticas, Trump, ordenou nesta sexta-feira que sua equipe de governo prepare sanções “significativas” à Turquia. As sanções não serão aplicadas imediatamente e têm o objetivo de “dissuadir a Turquia de continuar com a ação militar”.
O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, ressaltou que o governo americano “espera não ter que usar” as sanções, que serão “primárias e secundárias”, ou seja, afetariam também quem negociar com pessoas e empresas sancionadas.
Mnuchin não esclareceu o que levaria Trump a implementar as sanções, mas garantiu que “o presidente está preocupado com a ofensiva militar em curso e a possibilidade de que afete civis, infraestrutura civil e minorias étnicas ou religiosas”.
Apesar das ameaças, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que não vai parar com os ataques. A Turquia alega que a operação visa estabelecer uma “zona de segurança” ao longo de sua fronteira.