Prejudicada pelas ondas de calor e pelo fenômeno climático La Niña, a safra argentina de milho deverá ser menor do que a inicialmente esperada para a colheita 2010/11, com início em fevereiro. A Bolsa de Cereais da Argentina, segundo maior produtor mundial de milho, revisou para baixo a estimativa da produção para 20,35 milhões de toneladas. O número frusta a previsão de 26 milhões de toneladas, safra recorde anunciada pelo governo em novembro, quando o plantio estava no início.
O subsecretário da Agricultura, Oscar Solis, declarou na semana passada que a produção “seguramente” ficará mais próxima de 20 milhões do que de 26 milhões de toneladas. “Vai haver uma queda de produtividade, que hoje é difícil mensurar”, afirmou Solis.
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Segundo ele, seria possível colher a quantidade prevista se tivesse chovido o esperado em dezembro, o que não aconteceu. Na atual fase do cultivo, as lavouras de milho precisam de 10 milímetros diários de chuvas.
O fenômeno climático La Niña que, ao contrário do El Niño, é o resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico, provocou inundações no norte da América do Sul e secas no centro e sul do continente. Com o início do verão, a situação na Argentina se agravou e o país começou a enfrentar fortes ondas de calor. Na província de Buenos Aires, foram registradas máximas superiores a 33 °C por nove dias consecutivos, o que não acontecia desde 1952.
Nos últimos dias, choveu em algumas regiões do país, o que ajudou os produtores, segundo a Bolsa de Cereais. Martin Fraguió, diretor executivo da Maizar (Associação de Produtores de Milho da Argentina), explicou, porém, que isso não é sinal de que as colheiras não serão prejudicadas.
“[A chuva tem] ajudado muitíssimo. Mas a situação é muito diferente em cada campo. Às vezes chove em um, e não no campo ao lado. Há também o tempo de semeadura, que é diferente”, disse em entrevista ao Opera Mundi. O milho só pode ser plantado durante o mês de novembro, deixando os produtores sem alternativas.
A previsão de Fraguió para a safra 2010/11 é mais otimista que a da Bolsa de Cereais: 23 milhões de toneladas de milho.
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Já Pablo Adreani, da consultora agrícola AgriPac, acredita que apenas um “milagre” poderia reverter a tendência de perdas nas colheitas. “As chuvas não chegaram em tempo oportuno. Choveu pouco na semana passada, e não foi em todas as lavouras. Uma situação muito complicada”, afirou. Para ele, o ideal é que chova na região produtora entre 100 e 130 milímetros de água. Na semana passada, algumas lavouras receberam apenas precipitações entre 20 e 50 milímetros.
O SMN (Serviço Meteorológico Nacional) prevê chuvas para os próximos dias, mas também altas temperaturas. “A maior parte da área agrícola nacional terá temperaturas máximas superiores a 35 °C, com focos superiores a 40°C”. Sem complicações com o clima, a colheita de milho 2009/10 chegou a 22,5 milhões de toneladas.
Outros grãos
A estiagem também prejudicará a produção de soja na Argentina. Em novembro, o governo projetava a colheita em 52 milhões de toneladas. Atualmente, a previsão fica em torno de 43 e 48 milhões, segundo Adreani. “Ainda falta semear 35% de soja da safra 2010/11, a soja tardia. Se não chover mais, nossa sugestão é diminuir ou tentar atrasar o plantio dessa soja tardia”, afirmou o analista da AgriPac.
O país é o terceiro exportador mundial de soja. Segundo a Bolsa de Cereais, a Argentina semeou até agora 75% dos 18,5 milhões de hectares destinados ao grão. No ano passado, neste mesmo período, foram semeados 86% do total.
Com suas duas principais lavouras prejudicadas pela estiagem, o desejo de ter a colheita recorde de 100 milhões de toneladas de grãos não será concretizado neste ano. No começo de novembro, o ministério da Agricultura havia estimado para 2010/2011 uma safra de 103 milhões de toneladas de grãos. Para o governo, o prejuízo deve ficar em torno de três bilhões de pesos (o equivalente a 1 bilhão e 270 milhões de reais) em 2011 devido à queda das receitas provenientes dos impostos sobre as exportações.
As previsões de redução na colheita argentina provocaram o aumento do preço da soja e do milho no mercado mundial. Em Chicago, a soja alcançou 13,87 dólares o bushel (o equivalente a 35 litros) para entrega em março, o nível mais alto desde agosto de 2008. Já o milho está sendo negociado a 6,07 dólares o bushel, com alta de 2%, o maior valor em 29 meses na Bolsa de Chicago.
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