A Human Rights Watch (HRW) denunciou a violência da polícia e dos serviços de inteligência de Angola. Segundo a ONG internacional de defesa dos direitos humanos, cerca de 15 militantes contrários ao governo foram mortos pelas forças de ordem do país africano desde janeiro deste ano.
A polícia e os serviços de segurança e inteligência do Estado “estão envolvidos nas mortes extrajudiciais de pelo menos quinze pessoas”, denunciou a ONG. As forças de segurança do país também são acusadas de terem realizado centenas de prisões arbitrárias, de acordo com o comunicado da ONG.
As detenções mais frequentes foram registradas na província petroleira de Cabinda (norte), enclave angolano situado entre o Congo e a República Democrática do Congo. Militantes políticos, artistas e organizadores de manifestações são os principais alvos das violações denunciadas.
O relatório da HRW se baseia em entrevistas realizadas nos últimos seis meses com mais de 30 pessoas, entre vítimas desses abusos ou seus familiares, além de testemunhas e outras fontes ligadas aos serviços de segurança.
Em um dos casos, homens que se apresentaram como membros do serviço de investigação criminal prenderam um grupo de jovens “cujos corpos foram encontrados três dias depois no necrotério de um hospital”, detalhou a ONG. Um amigo das vítimas, conhecido por seu envolvimento em protestos contra o governo, disse que a polícia já vinha monitorando o grupo.
Portal da Polícia Nacional de Angola
Forças de segurança do país também são acusadas de terem realizado centenas de prisões arbitrárias, de acordo com o comunicado da ONG
Governo rejeita acusações
“As autoridades angolanas devem agir de forma urgente para acabar com as práticas e políticas irregulares da polícia e garantir que as vítimas e suas famílias tenham justiça”, frisou Zenaida Machado, especialista da África na HRW.
O Movimento popular de liberação de Angola (MPLA), partido no poder no país africano, rejeitou as acusações, e afirma ter lançado investigações sobre as denúncias, como informou Rui Falcão, o porta-voz da legenda. “Mas achamos estranho que aqueles que pedem investigações já estejam formulando conclusões e julgamentos”, acrescentou à AFP.
Manifestantes pedem saída do presidente
Angola, país africano rico em petróleo, vive uma onda de manifestações desde a contestada decisão do governo, em junho, de cortar as subvenções aos combustíveis. A medida foi tomada visando reduzir os gastos públicos, em um contexto de queda da renda vinda do petróleo, que vem derrubando o valor do kwanza, a moeda nacional. O corte do subsídio provocou um aumento imediato do preço dos carburantes para os consumidores angolanos.
No sábado (05/08), milhares de manifestantes foram às ruas pedindo a demissão do presidente João Lourenço. O protesto, realizado na capital, foi organizado pela UNITA, o principal movimento de oposição do país.