A Assembleia Geral da ONU aprovou, mais uma vez, nesta quinta-feira (02/11) uma resolução pelo fim do embargo econômico norte-americano a Cuba, por uma ampla maioria de 187 votos a favor. O texto deste ano obteve dois votos favoráveis a mais do que em 2022, incluindo do Brasil, que se absteve no ano passado.
Os dois votos contrários foram dos Estados Unidos e de Israel, e a única abstenção veio da Ucrânia.
O documento foi apresentado na terça-feira (31/11) pelo ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez. O diplomata explicou os prejuízos que as sanções de Washington trazem à população cubana, incluindo a “privação da indústria agrícola de fundos para comprar ração animal, equipamentos industriais e outras necessidades para a produção de alimentos”.
Rodríguez também contextualizou o cenário do país em que as famílias “carecem de bens, existem longas filas, preços excessivamente elevados e o governo faz grandes esforços para alimentar a sua população”.
Segundo ele, entre março de 2022 e fevereiro de 2023, o bloqueio dos Estados Unidos causou danos significativos à economia: mais de 405 milhões de dólares por mês, 13 milhões de dólares por dia e 555 mil dólares por hora. Ele ainda acrescentou que, sem o bloqueio, o PIB da Cuba poderia ter crescido nove pontos percentuais em 2022.
O bloqueio também causou grandes impactos à saúde da população cubana. O ministro chamou os EUA de “mentirosos” uma vez que o governo norte-americano diz que as sanções não impedem a aquisição de medicamentos e insumos básicos. Exemplificou a situação sanitária durante a pandemia de covid-19, afirmando que a ilha foi impedida de adquirir ventiladores e outros meios sob o pretexto de que as empresas que produzem os equipamentos são subsidiárias de empresas norte-americanas.
“Não é legal nem ético que o governo de uma potência submeta uma pequena nação a um bloqueio implacável para mudar a sua ordem política e recuperar o controle dos seus recursos”, disse o chanceler, considerando o bloqueio “unilateral e injustificável”.
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Texto deste ano obteve dois votos favoráveis a mais do que em 2022
Brasil altera o voto
Antes da votação, o embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, já antecipou que o país, que se absteve de votar a resolução no ano passado, apoiaria o fim do embargo de Washington sobre a Cuba.
O diplomata ainda afirmou que “a rejeição do embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos contra Cuba desde 1962 é praticamente um consenso internacional”, acrescentando que intensificar as relações econômicas com Cuba é o caminho que países interessados em melhorar a condição de vida dos cidadãos cubanos devem seguir.
Estados Unidos se mantêm contra
Após a derrota, o representante dos Estados Unidos justificou que as sanções são “um conjunto de ferramentas” para encorajar Cuba a “promover a democracia, o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais”: “os Estados Unidos opõem-se a esta resolução”, reforçou.
A comunidade internacional, assim como nas sessões dos anos anteriores, deixou os Estados Unidos isolados ao considerar que sua guerra econômica contra a nação caribenha configura uma “violação dos direitos humanos do povo cubano, dificulta o desenvolvimento do país e, devido ao seu alcance extraterritorial, prejudica também outras nações”.
Desde 1992, ano após ano, o mais alto órgão deliberativo das Nações Unidas pede a Washington para que encerre as sanções a Cuba, mas o embargo sempre continuou em vigor. No ano passado, 185 Estados-membros votaram a favor, dois contra (Israel e os Estados Unidos), e dois se abstiveram (Brasil e Ucrânia).