Milhares de apoiadores do presidente deposto Manuel Zelaya caminhavam no domingo (27) pelas ruas de Tegucigalpa debaixo de forte sol, apesar da repressão dos dias anteriores. Até então, cerca de 20 pessoas já haviam morrido e uma centena estava presa – todas acusadas do crime de sedição, que enquadra revoltas, motins e perturbações da ordem pública e implica em penas de 10 a 15 anos.
Conforme seguia a marcha, um grupo de jornalistas, entre eles o correspondente do Opera Mundi, conversava com um dos advogados da frente de resistência, Nectalí Rodezno. Poucos minutos depois ele foi chamado às pressas, pois um militante do bairro de Centroamerica estava sendo detido pela polícia. Todos entraram nos carros e seguiram em carreata até o local.
(26/09/2009)
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Assim que os jornalistas e o advogado chegaram, não havia qualquer denúncia de detenção. Ninguém do bairro confirmava o fato. Pouco depois, Rodezno decidiu que seria melhor seguir até a delegacia mais próxima. Todos seguiram pelas vielas estreitas e tortuosas, como as montanhas que rodeiam Tegucigalpa.
Na delegacia, a presença de Rodezno não causou surpresa – era como se o estivessem esperando. Os oficiais o autorizaram a vistoriar as celas e o livro de registros, porém, a gentileza parecia exagerada.
De repente, diversos carros de polícia cercaram a pequena delegacia. Um dos jornalistas checou seu relógio e percebeu que faltavam somente 20 minutos para o começo do toque de recolher. Poucas horas antes, o estado de sítio havia sido decretado por Roberto Micheletti.
“É melhor irem embora”, advertiu uma mulher que vive no bairro. “Parece que estão à espera de vocês”, acrescentou, para logo depois correr para dentro de sua casa, assustada.
O que ela disse fazia sentido. Nas rádios e televisões, os apresentadores ressaltavam que, com o estado de sítio, o toque de recolher deveria ser cumprido também pelos jornalistas, inclusive os estrangeiros.
O advogado e os repórteres que o acompanhavam correram em direção aos carros, que avançaram rapidamente pelas avenidas de Tegucigalpa, evitando com êxito a detenção pelos militares.
Nada aconteceu, mas a chamada falsa deixou suspeitas de que uma grande armadilha estava sendo armada pelos golpistas para calar algumas vozes.
Atentado à mídia
No dia seguinte, a rádio Globo e o Canal 36 de TV foram fechadas pela ditadura em Honduras. Conforme relatou Marvin Ortiz, jornalista da Rádio Globo, os soldados golpearam e atiraram na porta do prédio, e o medo levou diversos jornalistas a saltarem do terceiro andar. O próprio diretor da Rádio Globo fraturou o braço e teve outros ferimentos ao fugir do local.
A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras denunciou o fechamento da rádio e da TV hondurenhas e criticou a repressão. “Até onde irá o governo golpista?”, perguntou a organização no comunicado. Para a RSF, Roberto Micheletti “ganha vantagem para figurar entre os depredadores da liberdade de imprensa”.
*Texto e foto
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