Os venezuelanos irão às urnas, neste domingo (8/12), nas primeiras eleições municipais realizadas após a morte do ex-presidente Hugo Chávez. Líderes opositores manifestaram, em diversas ocasiões nos últimos meses, considerar o pleito como um plebiscito para medir a popularidade do governo de Nicolás Maduro, por meio da quantidade total de votos e com a vitória nos principais centros urbanos do país.
“Não se trata somente de escolher os prefeitos e vereadores”, chegou a dizer sobre a votação de deste domingo Henrique Capriles, governador do estado de Miranda, derrotado por 1,5 ponto percentual nas eleições presidenciais de abril, das quais não reconheceu o resultado. “Vai mais além, trata-se de por um freio a esta crise, de começar a abrir portas para o futuro”, expressou, que incluiu a “crise econômica” entre seus argumentos durante atos de apoio a candidatos municipais.
A porcentagem de prefeituras conquistadas e a vitória em municípios emblemáticos, assim como o número de votos totais, são os principais resultados a serem interpretados, afirmou recentemente em artigo o presidente do instituto Datanálisis, Luis Vicente León, para quem a avaliação da gestão de Maduro é uma das variáveis que influenciarão nos resultados municipais, assim como a força dos candidatos locais. O chavismo já controla cerca de 80% dos governos das cidades.
Agência Efe
Chavismo controla cerca de 80% das prefeituras; oposição tenta tornar eleição plebiscito sobre governo Maduro (esq.)
Entre as 337 prefeituras – 335 cidades e duas regiões metropolitanas – em jogo neste domingo, as praças eleitorais consideradas mais emblemáticas são a prefeitura metropolitana de Caracas – que engloba cinco municípios -, onde o atual prefeito Antonio Ledezma, histórico opositor do chavismo, disputa com o ex-ministro de Comunicação de Chávez e Maduro, Ernesto Villegas; Maracaibo, capital do estado petrolífero de Zulia, onde a prefeita de oposição Eveling Trejo compete com o apresentador de TV Miguel Pérez Pirela; e, Libertador, que abriga o centro de Caracas, onde o governista Jorge Rodríguez mostra vantagem contra Ismael García, que passou do chavismo para a oposição. Sucre, Barquisimeto, Valencia, Puerto La Cruz e Maracay são, também, cobiçados por ambas as partes.
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O caráter de plebiscito do pleito, no entanto, é contestado por analistas consultados por Opera Mundi. Fazendo um histórico dos processos eleitorais, o diretor do instituto de pesquisa Consultores 30.11, Germán Campos, explica que até 1978, as listas de candidatos de cada partido para prefeito, deputados e vereadores eram únicas. Com o mesmo voto do eleitor, todos os eram automaticamente escolhidos.
Com a diferenciação das listas, explica, “os cidadãos começaram, gradualmente, a diferenciar o nacional do regional e municipal”. “Hoje essa diferença está clara, o que explica como em alguns estados Chávez nunca perdeu as presidenciais, mas não ganhava as regionais”, afirma, ressaltando que hoje o papel das lideranças municipais e regionais têm peso para o votante.
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“Em todos os estudos que fizemos nesses últimos meses em função dos municípios, aparecia que 70% dos cidadãos diziam que se fixavam muito mais nas lideranças e propostas do que na orientação do candidato”, complementa. De acordo com ele, no entanto, a polarização política no país faz com que setores dos eleitorados chavista e opositor votem por candidatos de acordo com a afiliação política, sem considerar avaliação de desempenho, principalmente nos grandes centros urbanos.
Discussão local
Nestas, que são as primeiras eleições unicamente municipais realizadas nos quase 15 anos de gestão chavista, os candidatos tiveram que enfatizar a discussão em nível local, com foto em propostas baseadas no cotidiano do município, segundo o analista. “Talvez, se Chávez estivesse vivo, esse debate local teria menos força”, explica, reconhecendo que o chavismo colocava a lealdade ao projeto governista como questão também nos pleitos municipais.
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“Lealdade” foi tema de controvérsia durante a campanha eleitoral. Como neste 8 de dezembro, cumpre-se um ano desde que Chávez se pronunciou publicamente pela última vez, antes de voltar a Cuba para tratamento médico, Maduro decretou a data como o “Dia de Lealdade a Chávez”. A decisão gerou polêmica e a presidente do órgão eleitoral venezuelano, Tibisay Lucena, teve que se pronunciar, ressaltando que atos públicos, concentrações e proselitismo são proibidos no dia do pleito.
Um dos casos que ressaltaram a ênfase na discussão local foi o do candidato à prefeitura de Maracaibo, Pérez Pirela. Em algumas edições do programa que conduzia na televisão estatal venezuelana, o chavista debateu a questão da coleta de lixo na cidade, segunda em população do país. Segundo Campos, o chavista tem grandes possibilidades de vitória devido, entre outros fatores, à apresentação de um discurso “com sentido de modernidade, que conecta principalmente um setor jovem da população”.
“O tema plebiscitário foi considerado inicialmente pela oposição, provavelmente para dar seguimento à sua atuação de 14 de abril, quando não reconheceu os resultados eleitorais, para dizer que eles tinham razão. Tem uma armadilha no argumento muito forte, porque não considera que os venezuelanos diferenciam eleições nacionais de municipais. Mas, agora, a oposição já não fala tanto nisso, porque já entenderam que os resultados podem não ser exatamente os que esperavam”, afirma.
Lenín Morales/Prensa Henrique Capriles
Henrique Capriles, que perdeu as presidenciais por 1,5 ponto percentual; para analista, houve erro de avalição da oposição
Para o politólogo Alberto Aranguibel, em vez de tratar a votação municipal como um plebiscito, a oposição deveria ter fortalecido suas possibilidades individuais de vitória em cada município. “Aqui não está em jogo a presidência, ele [Henrique Capriles] cometeu o erro de tentar levar isso como um tema plebiscitário. Capriles vai se ver derrotado no dia seguinte à eleição, aconteça o que acontecer, por ter considerado isso. Como os líderes que eles colocam à frente da oposição não servem para os triunfos que eles aspiram, ele tenta capitalizar como um triunfo pessoal”, afirma.
Segundo ele, os eleitores sabem que os candidatos representam diferentes posições políticas, mas isso não significa que as lideranças opositora ou do governo estejam em jogo. “As pessoas sabem que precisam escolher prefeitos que encarnem uma solução para os problemas locais imediatos. Mas, Capriles desconsiderou isso”, acredita.
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Sobre inscrição de esportistas e artistas como candidatos chavistas para prefeituras – como a do famoso locutor, ator de novelas venezuelanas e apresentador de programas de TV Winston Vallenilla, para o município de Baruta, e do ex-jogador de baseball e cantor de reggaeton Antonio “El Potro” Álvarez, para Sucre – Aranguibel considera a decisão acertada, apesar da resistência inicial e críticas tanto da oposição como de setores chavistas.