Atualizada às 12h20
Soam fogos de artifício no bairro de 23 de Janeiro, localizado no oeste de Caracas e um dos principais bastiões do chavismo. Aqui é onde Hugo Chávez votava e um dos centros políticos mais efervescentes do país. Mas, ao contrário das outras 19 eleições ganhas pela Revolução Bolivariana, dessa vez a vitória não é roja, rojita. A oposição agora é quem comanda a Assembleia Nacional venezuelana e seus apoiadores no 23, e no resto do país, celebram o que parecia ser impossível.
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EFE
Oposição foi para as ruas da capital, Caracas
A partir de 5 de janeiro de 2016, a casa legislativa venezuelana será completamente diferente. Hoje, a bancada chavista reúne 100 deputados, conquistados nas eleições de setembro de 2010 — as primeiras parlamentares das quais a oposição participou desde a nova Constituição. Agora, pelo menos 99 deputados legislarão pela MUD (Mesa da Unidade Democrática, coalizão de partidos opositores) e 46 pelo Grande Polo Patriótico, liderado pelo PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela).
Até o momento, a oposição venezuelana tem maioria simples, ou seja, possui mais da metade dos deputados. E pode impulsionar e aprovar diversas iniciativas políticas, como emendas à Constituição e o orçamento anual, assim como aprovar ou não a saída do presidente para viagens internacionais. Também, investigações sobre denúncias de corrupção.
Caso ultrapasse a barreira de 100 deputados, a MUD terá uma das modalidades de maioria qualificada, que decide a aprovação de Lei Habilitante para o presidente, além de poder emitir um voto de censura ao vice-presidente e aos ministros. Se conseguir mais de 111 deputados, pode convocar uma Constituinte.
Chavismo
“A pior coisa que poderia ter acontecido conosco, a morte de Chávez, já aconteceu”, diz um dos que recebem a notícia da vitória opositora em uma casa no 23 de Janeiro. “Superamos desafios maiores nessa revolução e dessa vez não será diferente”, complementa.
EFE
Grupo de personas celebram a vitória da coalizão opositora Mesa de Unidad Democrática (MUD) em Caracas
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A análise do atual momento se faz urgente para os chavistas, apesar do impacto do golpe ainda estar fresco. Guerra econômica, inflação, violência e outros motivos são levantados nas conversas. Em sua primeira fala após o anúncio dos resultados, o presidente Nicolás Maduro admitiu que o momento se trata de uma “bofetada” no chavismo.
E dessa forma foi sentida por aqueles que apoiam esse processo. “Nós viemos com nossa moral e com nossa ética a reconhecer estes resultados adversos, a reconhecê-los e a dizer à nossa Venezuela que triunfou nossa Constituição e democracia”, afirmou.
Oposição
Os seguidores da MUD, por sua vez, celebravam o triunfo na noite deste domingo (06/12). Muitos fogos e celebração foram vistos nas ruas do leste de Caracas, conhecido por reunir o grosso do voto opositor. Localidades como Altamira e Chacao foram palco de comemoração.
“Começou a mudança Venezuela, hoje temos razões para comemorar, o país pedia uma mudança, essa mudança começou hoje”, disse o secretário-executivo da MUD, Jesús Torrealba, após o anúncio da vitória. “Sempre dissemos que esse era o caminho”, afirmou Henrique Capriles, derrotado duas vezes pelo chavismo nas presidenciais.
A Venezuela governada pelo chavismo amanhece com a notícia de que terá um Legislativo dominado pela oposição, um cenário que poucos imaginavam ver. As próximas semanas devem ser decisivas para entender como essa nova configuração afetará os rumos da chamada Revolução Bolivariana.