A organização Judeus pela Democracia de São Paulo condenou por meio de um manifesto os “ataques sistemáticos” que a educação no Brasil sofre nos últimos meses.
O texto publicado na última sexta-feira (10/05) enfatizou a importância da escola e da educação, e trouxe um recorte histórico sobre as perseguições que a “cultura dos livros” sofreu e que esteve ligada à perseguição aos judeus.
“Nos últimos meses estamos assistindo a um ataque sistemático à universidade pública, à educação básica, a professores e a pesquisadores, com incentivo a perseguições e ameaças de sufocamento orçamentário”, diz o manifesto rechaçando as medidas tomadas pelo Ministério da Educação.
O grupo ainda condenou o decreto do presidente Jair Bolsonaro para facilitar o porte de armas no país.
Leia o manifesto na íntegra:
Manifesto em defesa da educação
“Onde se queima livros, acaba-se queimando pessoas” Heinrich Heine (poeta judeu-alemão, 1797-1856).
A tradição judaica nos ensinou que desde o final do séc. I da era comum nós tínhamos por obrigação ensinar nossos filhos nas escolas e ajudar aqueles que a elas não tinham acesso, ou por viverem distante ou por dificuldade econômica, a chegar até elas. A educação escolar tornava-se inseparável da figura do estudante. Ao longo dos séculos pensadores tão distintos como Saadia Gaon, Maimônides, Baruch Espinosa, Albert Einstein, Hannah Arendt ou Clarice Lispector, criaram livros que nos nutrem da alegria do pensar e nos distanciam do ódio e da intolerância.
É na contramão dessa tradição que, desde a Inquisição, a perseguição à cultura dos livros andou de mãos dadas com a perseguição aos judeus. Mas foi no caso Dreyfus que veio à tona a sua versão moderna. Foi quando homens de letras, filósofos, professores e alunos universitários assinaram a carta de Émile Zola, J'accuse, em defesa de Alfred Dreyfuz e denunciaram a sua injusta condenação pelos militares franceses, que aqueles que gritavam “morte aos judeus” passaram a utilizar o termo “os intelectuais” para designar os homens de letras que lutavam contra as injustiças proferidas por um poder perverso, num primeiro movimento explicitamente anti-intelectual. Entre o caso Dreyfus e nós, hoje, passamos pelo nazismo, o qual não fazia reservas em rir enquanto expunha seu antissemitismo e seu anti-intelectualismo queimando livros e obras de arte, fechando escolas e faculdades, para, em seguida, queimar os corpos da diferença.
Nos últimos meses estamos assistindo a um ataque sistemático à universidade pública, à educação básica, a professores e a pesquisadores, com incentivo a perseguições e ameaças de sufocamento orçamentário, ao mesmo tempo em que o presidente realiza a maior liberação de porte de armas da história do país, pondo em risco toda a população.
Diante disso e por conhecermos nossa tradição e nossa história, nós, Judeus pela Democracia SP, condenamos enfaticamente as atuais medidas do governo, e iremos nos somar aos estudantes, professores e demais profissionais da área de educação, nas mobilizações pela educação e pela cultura que vão acontecer no próximo dia 15 de maio.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou bloqueio orçamentários às universidades federias.