No dia em que o mundo político argentino faz as últimas negociações para a votação do megaprojeto de lei ultraliberal do governo Javier Milei, marcada para começar nesta quarta-feira (31/01) no Congresso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para baixo sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) do país em 2024.
Se a previsão anterior era de um crescimento de 2,8%, agora é de queda dos mesmos 2,8%. Essa redução drástica de 5,6 pontos percentuais, anunciada nesta terça por meio do relatório Perspectiva Econômica Global, é resultado das medidas econômicas já impostas pelo governo, por meio do decreto DNU, e também das mudanças que ele pretende implementar caso conseguir aprovar seu projeto de lei, conhecido como Ônibus, no Congresso.
“A revisão das alterações (para América Latina e Caribe) em 2024 reflete a contração na Argentina no contexto de ajustes significativos para restaurar a estabilidade macroeconômica”, indicou o FMI. Por causa da revisão para a Argentina, a previsão de crescimento da América Latina e Caribe também foi revisada para baixo: crescimento de 1,9%, 0,4 ponto percentual abaixo da estimativa de outubro.
A revisão do FMI pode servir de combustível para a oposição, que já anunciou que votará contra o projeto de lei, e para os movimentos sociais, que prometem realizar novas manifestações.
Propina?
O presidente do bloco União pela Pátria na Câmara dos Deputados, German Martínez, confirmou que sua bancada manifestará “uma expressão de eliminação porque o bloco está confirmado do modelo de país” que o peronismo propôs aos argentinos durante a campanha eleitoral do ano passado, na Qual seu candidato Sergio Massa foi derrotado por Javier Milei.
O deputado criticou as publicações feitas pelo presidente Javier Milei em suas redes sociais. “É muito difícil trabalhar politicamente lendo as curtidas e os retuítes do presidente. É complicado quando ele fala dos legisladores como subornadores, idiotas úteis e diz que cometem atos de extorsão”, afirmou em declarações às rádios locais.
A última manifestação via redes sociais do governo, nesta terça-feira, serviu para desmentir que um ministro do seu gabinete (Guillermo Francos, do Interior) concordasse em repassar parte do imposto Pais (recolhido sobre compras com cartão de crédito no exterior) aos governos provinciais como parte do acordo para conseguir a aprovação da Lei Ônibus no Congresso.
Depois do desmentido de Milei, o porta-voz presidencial ratificou que a Casa Rosada não vai oferecer a coparticipação do imposto aos governadores e disse que essa proposta nunca foi feita, apesar de políticos que se reuniram com Francos confirmarem que a proposta existia, o que poderia configurar uma tentativa de compra de apoio.
Fernanda Paixão/Opera Mundi
Milei foi alvo de várias manifestações populares em Buenos Aires durante o mês de janeiro
Dialogistas vão dialogar e votar
O deputado Rodrigo de Loredo, líder do bloco radical, da chamada oposição 'dialoguista', confirmou que sua bancada proporcionará o quórum para possibilitar o debate da Lei Ônibus e que votem a favor. “Entendemos a responsabilidade da hora e as urgências do país”, disse.
O líder da bancada governista A Liberdade Avança, Oscar Zago, garantiu que haveria sessão na Câmara para tratar do projeto de Lei e avisou aos legisladores de outros grupos políticos “que não continuam puxando a corda porque ela pode se cortar”.
Povo na rua
Os movimentos sociais voltam às ruas esta semana, em protesto contra o governo Milei. A Frente de Luta Piqueteira adiantou que, quando os deputados começarem a deliberar sobre a Lei Ônibus, nesta quarta-feira ou no dia em que isso acontecer, vão marchar até a praça do Congresso, em Buenos Aires, com partidos de esquerda e comissões gremiais . Uma de suas preocupações é o capítulo sobre segurança, porque aumenta as penas habitualmente aplicadas contra manifestantes.
A UTEP (União de Trabalhadores e Trabalhadoras da Economia Popular) vai levar petições aos supermercados de todo o país, e em Buenos Aires vai se concentrar em frente ao prédio da Copal, cooperativa que reúne as empresas produtoras de alimentos. A falta de insumos com intenção social vem gerando manifestações contínuas, porque o governo não só não envia alimentos às organizações de bairro como não recebe seus representantes.
“Desde que este governo foi herdeiro, não houve assistência alimentar para os comedores e merendeiros populares. Dezenas de milhares de comedores estão passando por situações de colapso. Vamos pedir doações aos supermercados, diante da recusa do governo em nos dar resposta”, explicou Daniel Menéndez , do Somos Bairro em Pé. Ele acrescentou que sua organização solicitou cinco audiências com o presidente Javier Milei e a ministra da Capital Humana, Sandra Pettovello, mas foi ignorada.