A missão permanente de observação do estado da Palestina condenou em carta enviada ao Conselho de Segurança da ONU nesta sexta-feira (25/07) o bombardeio israelense contra uma escola administrada pela UNRWA (agência de ONU para refugiados palestinos) no norte da Faixa de Gaza.
“Mais uma vez, as forças da ocupação israelense atingiram uma escola da UNRWA, causando mais mortes e feridos entre os já traumatizados civis, deslocados de suas casas e abrigados na escola, incluídos muitos dos quais a potência ocupante tinha exigido previamente que abandonassem suas residências”, afirmou a carta.
Agência Efe
Reunião do Conselho de Segurança da ONU no dia 21 de julho.
O documento cita testemunhas que indicam que bombardeios da artilharia israelense atingiram a escola controlada pela agência da ONU para o Socorro dos Refugiados Palestinos (UNRWA) em Beit Hanoun. O ataque deixou 17 pessoas mortas e mais de 200 feridos.
“Esta é a quarta vez em dois dias que as forças de ocupação israelense bombardearam escolas que servem de refúgio na sitiada Faixa de Gaza”, denunciou o comunicado. O texto ressaltou que mais de 148 mil palestinos estão refugiados em escolas da UNRWA em Gaza, onde tentam escapar dos contínuos bombardeios do exército israelense contra o território.
A Palestina, reconhecida como Estado observador não membro da ONU em 2012, exigiu uma investigação imediata, imparcial e global sobre esse fato, “para se apurar responsabilidades e levar os autores do crime perante a justiça”.
“Este tipo de grave violação do direito humanitário internacional e da inviolabilidade de premissas da ONU não deve ficar sem castigo”, disse o texto.
De acordo com a versão de Israel, a área da escola tinha se transformado nos últimos dias em um “campo de batalha, o que levou o exército a insistir para o que estivessem no local evacuassem a zona”.
As Forças Armadas israelenses, que há oito dias realizam uma operação militar por terra em Gaza, informaram que tinham autorizado uma janela humanitária de quatro horas para que toda a área fosse evacuada e acusou o grupo islamita Hamas de impedir a saída dos civis.
Em comunicado, Israel reiterou que vários foguetes foram disparados pelo Hamas da zona e caíram em Beit Hanoun e que uma investigação preliminar sobre o incidente indica que “durante intensos combates na área, milicianos abriram fogo contra soldados israelenses da área da escola”.
“Para eliminar a ameaça contra suas vidas, responderam com fogo em direção ao lugar de origem dos disparos”, concluiu o exército israelense, que ainda continua analisando o caso.
Corredor humanitário
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu nesta sexta-feira a abertura de um corredor humanitário em Gaza para evacuar os feridos e levar remédios essenciais à população. “O corredor humanitário deve ser criado para proteger o trânsito seguro de pacientes rumo a pontos de saída de Gaza e para que recebam tratamento médico”, expressou a organização em uma declaração. Paralelamente, “o transporte de ajuda essencial deve ser facilitado nos pontos de passagem entre Gaza e Israel e os países vizinhos”, acrescentou.
Quatro hospitais do território palestino sofreram danos desde o início da ofensiva militar, no último dia 8, confirmou a OMS, que assinalou que o número de feridos pelos bombardeios aéreos e a incursão terrestre do Exército israelense aumentam dia a dia.
O hospital de al-Aqsa foi o último dessa lista, foi “alvo de um tiro direto que resultou em mortos e feridos, com um prejuízo severo às áreas cirúrgicas, de terapia intensiva e do equipamento para salvar vidas”. O local contava com uma centena de camas e era o principal hospital no centro de Gaza.
Além disso, 12 clínicas, dez ambulâncias, um centro especializado para pessoas incapacitadas e duas estações de desalinização de água foram destruídos. “A cada dia, mais hospitais, clínicas e ambulâncias são danificadas e destruídas, reduzindo mais e mais a capacidade do sistema sanitário para atender o crescente número de feridos”, precisou a OMS.
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Por sua parte, o Programa Mundial de Alimentos, outra agência especializada da ONU, assinalou que conseguiu fornecer alimentos de emergência a 160 mil pessoas em Gaza, além das 285 mil às quais habitualmente atende. O primeiro número implica em um aumento de 50 mil rações em dois dias, disse a porta-voz da agência em Genebra, Elizabeth Byrs.
A Unicef, agência encarregada da proteção da infância, denunciou, enquanto isso, que dez crianças palestinas foram assassinados nas últimas 24 últimas horas por ataque militares israelenses, que causaram no total uma centena de mortos no mesmo lapso.
Mortos e feridos
O Ministério da Saúde em Gaza elevou o número de mortos na operação militar de Israel, que já dura 18 dias, para 813, enquanto os feridos chegam a 5.237. As residências de dirigentes e membros de facções armadas foram os alvos dos últimos ataques das Forças de Defesa de Israel (IDF, sigla em inglês) no território palestino.
Segundo o porta-voz do Ministério da Saúde em Gaza, Ashraf al Quedra, entre os mortos nos últimos ataques está o líder local da Jihad Islâmica, Abu Ahmed Abu Hasanin, e dois de seus filhos, depois que sua casa na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, foi atingida por mísseis disparados de caças israelenses, um ataque que também deixou dez feridos.
Agência Efe
Bombeiros palestinos tentam apagar um incêndio causado por um ataque aéreo israelense em Gaza.
Abu Hasanin era membro do braço armado do grupo, os “Batalhões Saraya al-Quds”, do qual era o porta-voz, informou a imprensa local. Além disso, caças-bombardeiros israelenses dispararam vários mísseis contra a residência do destacado dirigente do Hamas, Salah al Bardawil, ao leste da cidade de Khan Yunes, no extremo sul do território palestino, mas sem deixar feridos.
O Exército israelense confirmou que atacou nas últimas horas as casas de vários dirigentes em Gaza, de acordo com a rádio pública israelense. O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, sigla em inglês) apontou em um relatório que pelo menos 578 civis estão entre os mortos em Gaza nos 18 dias da operação israelense, entre eles 185 crianças e 93 mulheres.
A OCHA detalhou que mais de 40 famílias na Faixa de Gaza perderam ao menos três membros e que 149 mil deslocados buscaram refúgio em 83 escolas da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos. Além disso, o organismo relatou que a única usina de eletricidade da Faixa de Gaza foi alvo de três bombardeios e o último deles provocou seu fechamento.
Diplomacia
Israel lamentou ontem a decisão do Brasil de chamar para consultas seu embaixador em Tel Aviv, uma decisão que segundo o governo do país “não contribui para garantir a calma e a estabilidade na região”.
“O que estes passos fazem é dar um apoio ao terrorismo, e naturalmente afetam a capacidade do Brasil de influenciar (a região do Oriente Médio)”, segundo uma nota oficial. Para Israel, o retorno do embaixador “não reflete o nível das relações entre os dois países e ignora o direito de Israel e se defender”.
Ainda mais crítico do que a declaração oficial do Itamaraty, foram os comentários de Marco Aurélio Garcia, chefe da Assessoria Especial da Presidência da República. Em entrevista à emissora SBT, classificou como “genocídio” o conflito israelo-palestino. No entanto, Garcia não defendeu uma intervenção da ONU na região: “Se nós fizéssemos essa opção, não passaria pelo Conselho de Segurança e nós respeitamos o conselho”.
Cronologia das tensões
A escalada de violência israelense ocorreu após a morte de três adolescentes israelenses na Cisjordânia no final de junho. Como “vingança”, um jovem palestino foi queimado vivo e assassinado em Jerusalém.
Logo após a descoberta dos corpos dos três jovens, Israel iniciou uma ofensiva contra o Hamas. Aviões de guerra passaram a bombardear Gaza destruindo casas e instituições e foram realizadas execuções extrajudiciais. Até agora, quase 600 palestinos foram sequestrados e presos.
A tensão aumentou na região após anúncio, no começo de junho, do fim da cisão entre o Fatah e o Hamas, que controlam a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, respectivamente. Israel considera o Hamas um grupo terrorista e por isso suspendeu as conversas de paz que vinham sendo desenvolvidas com os palestinos com a mediação do secretário de Estado norte-americano, John Kerry.
(*) Com informações da Agência Efe