O Comitê de Ética da Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou nesta terça-feira (12/08) o uso de tratamentos experimentais nas vítimas do atual surto do ebola na África Ocidental, embora sua eficácia não tenha sido comprovada.
“Nas circunstâncias particulares deste surto e se forem cumpridas certas condições, o Comitê definiu que é ético oferecer intervenções cuja eficácia não está comprovada e com efeitos secundários ainda desconhecidos, como potencial tratamento ou prevenção”, informou a OMS em nota.
Agência Efe
Enfermeiros enterram corpo de vítima do ebola na Libéria
A África Ocidental vivencia o maior, mais severo e complexo surto de ebola desde que a doença foi descoberta em 1976, com a grande maioria das vítimas registradas em três países: Guiné, Libéria e Serra Leoa, e com a atenção posta na evolução da situação na Nigéria, onde inúmeros casos foram confirmados.
Diante da gravidade do surto e da elevada taxa de mortalidade (em torno de 55%), as autoridades locais passaram a defender a utilização de tratamentos experimentais para deter a propagação da doença infecciosa, que causou mais de mil mortos nos quatro países citados.
A alarmante situação fez com que a OMS convocasse um grupo de especialistas em ética médica para analisar e se pronunciar sobre esta questão. Em suas conclusões, os especialistas consideraram que as circunstâncias são excepcionais e que o uso de remédios que ainda estão em desenvolvimento nos laboratórios pode ser justificada, sempre e quando seguir critérios éticos.
Entre os mais essenciais estão “a transparência sobre todos os aspectos” do tratamento, o “consentimento informado” e com liberdade de escolha, o respeito da confidencialidade, a preservação da dignidade do afetado e o envolvimento da comunidade.
Um soro contra o ebola é usado desde a última semana em dois voluntários americanos que foram infectados na Libéria e, na sequência, foram repatriados aos EUA, que hoje anunciou que enviará ao país africano um número indeterminado de medicamentos experimentais.
Além das intervenções pontuais, o Comitê de Ética da OMS sustentou que existe a “obrigação moral” de colher e compartilhar toda a informação científica em relação ao uso de fármacos em teste.
Após deliberar por teleconferência ontem, os analistas elaboraram e emitiram hoje sua declaração, que também assinala que existe o “dever moral” de avaliar as intervenções que são realizadas com tais remédios – inclusive em tratamentos de modo preventivo – nos melhores testes clínicos possíveis.
Neste caso, a ideia era comprovar, de forma definitiva, sua segurança e eficácia ou, ao contrário, reunir evidências para deter seu uso. Uma área que requer uma análise mais profunda, segundo os cientistas, é determinar o critério ético que deve guiar uma distribuição justa do remédio ou vacina entre as comunidades e países.
Em todos os casos, os analistas também advertem que a demanda gerada não poderá ser coberta, já que, embora haja vários experimentos sendo realizados com diferentes produtos contra o ebola, as mostras disponíveis são mínimas e não seriam suficientes.
Morte de religioso espanhol
O religioso espanhol Miguel Pajares, contagiado pelo ebola na Libéria, morreu nesta terça-feira em um hospital de Madri, onde era tratado com um soro experimental utilizado também nos Estados Unidos. Pajares, de 75 anos, foi o primeiro espanhol e europeu afetado por esta doença, para a qual, por enquanto, não existe vacina.
O missionário era tratado em Madri com o citado soro experimental, denominado ZMapp, e que também é administrado a dois cidadãos americanos com a mesma patologia. O religioso espanhol foi transferido no dia 7 de agosto desde Monróvia, onde foi contagiado pelo vírus, para ser tratado no Hospital Carlos III da capital espanhola.
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Fontes do pessoal que atendeu o religioso explicaram que o paciente, que estava em seu quinto dia de internação hospitalar, estava em “condições críticas” e que, durante as últimas horas, experimentou uma “redução das funções vitais”.
Apesar dos médicos “terem usado medicação em uma tentativa de estabilizá-lo”, a câmera e os monitores com os quais era observado “mostravam que tinha problemas para respirar” até que o doente deixou de “mostrar atividade” esta manhã.
Agência Efe
Religioso espanhol faleceu nesta terça-feira em Madri
Seu corpo “será selado e incinerado”, sem praticar a autópsia para evitar a propagação da doença, de acordo com o regulamento das autoridades de saúde de Madri. O contato com o corpo deve ser realizado “por pessoal treinado” e não se procede, nestes casos, a nenhuma preparação do corpo do morto, informaram as mesmas fontes.
No dia 4 de agosto foi divulgado que o religioso espanhol permanecia isolado no hospital San José de Monróvia junto a outros trabalhadores do centro de saúde, após a morte por ebola de seu diretor, Patrick Nshamdze, de quem o sacerdote espanhol cuidou.
Mais de mil mortos
O surto de ebola na África Ocidental causou até o momento a morte de 1.013 pessoas, ou seja, 52 mais em relação à apuração divulgada na sexta-feira passada, informou a Organização Mundial da Saúde (OMS). A instituição indicou que o total de casos detectados aumentou para 1.848, o que representa 69 mais desde então.
No período que cobre do dia 7 a 9 de agosto, o maior número de novos infectados e mortos foi registrado na Libéria com 45 e 29, respectivamente; seguida de Serra Leoa, com 13 e 17; e Guiné com 11 e 6. De maneira global, a Guiné é o país com a mortalidade mais elevada, com 373 pessoas em relação aos 506 casos.
A Libéria, que nos próximos dias receberá dos Estados Unidos tratamentos experimentais contra o ebola para utilizá-los em pessoal médico infectado, registrou 323 mortes e 599 casos. Em Serra Leoa, as vítimas fatais chegam a 315 e se constataram 730 casos, e na Nigéria há 13 casos e 2 falecidos.
(*) Com informações da Agência Efe