O mapa da França vai mudar. O presidente François Hollande anunciou nesta semana a transformação das 22 regiões do país em apenas 14, fundindo duas ou mais delas entre si. Com a medida, se espera uma economia de até 10 bilhões de euros (aproximadamente 31 bilhões de reais) entre cinco a dez anos. “Nossa organização territorial envelheceu. (…) Os meios de comunicação, as mutações econômicas, os modos de vida apagaram os limites administrativos”, disse Hollande em comunicado.
Amanda Lourenço/Opera Mundi
A França é dividida em diversas camadas administrativas territoriais e as regiões são a segunda na linha hierárquica, logo depois do Estado. Apesar do poder sempre ter sido bastante concentrado no Estado, houve um esforço nas últimas décadas para descentralizá-lo. Desta forma, atualmente as regiões são responsáveis pelo transporte ferroviário, pela educação, pela formação profissional, entre outras competências.
Com a reforma territorial, as regiões terão ainda mais poder e serão melhor distribuídas, evitando que uma seja muito mais forte que outra. Segundo Hollande, as novas regiões terão um tamanho do padrão europeu e serão “capazes de construir estratégias territoriais”.
O presidente pretende ainda que as novas regiões disponham “de meios financeiros próprios e dinâmicos” e que sejam “administradas por assembleias de tamanho razoável” e com menos cargos públicos. A unificação, teoricamente, levaria em conta a vontade de cooperação entre os territórios.
Fortalecimento das regiões
A Ilha de França, região da capital Paris, será uma das sete que não sofrerá modificação. A Bretanha até o momento também está imutável, mas seus habitantes, conhecidos pelo regionalismo, querem a anexação de uma parte da região vizinha do País do Loire, com sua capital Nantes.
Efe (27/05/2014)
Hollande: novas regiões devem ter “meios financeiros próprios e dinâmicos” e serem “administradas por assembleias de tamanho razoável”
Jean-Marc Ayrault, ex-primeiro-ministro francês e prefeito de Nantes durante 15 anos, se manifestou no Twitter dizendo que é a favor de uma fusão entre as duas regiões, mas o assunto está longe de ser uma unanimidade. Com uma certa tradição separatista, o temor é que a Bretanha se fortaleça regionalmente.
Já Poitou-Charentes, Centro e Limousino formam o único caso de união de três regiões em uma só. A Alsácia e a Lorena, disputadas durante muito tempo entre França e Alemanha e velhas conhecidas dos livros de história, também se fundirão.
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As divisões ainda não são definitivas, podem ser modificadas e aperfeiçoadas durante o processo de aprovação na assembleia até o final do ano. Há também a possibilidade de modificações mesmo depois da implementação da medida, dependendo da avaliação dos interessados a médio prazo.
Oposição
Opositores criticaram que certas redivisões foram feitas sem estudo profundo ou qualquer consulta com os políticos regionais. Dominique Bussereau, presidente do Conselho Geral de Charente-Maritime, departamento de Poitou Charentes, acredita que sua região deveria ter sido unificada com a Aquitânia, mais próxima geografica e culturalmente. “Bordeaux é naturalmente nossa metrópole”, afirmou o político para a imprensa local, fazendo referência à maior cidade da Aquitânia.
Algumas regiões, por outro lado, ficaram satisfeitas com a parceria, como a Alta e Baixa Normandia, que historicamente têm a mesma identidade cultural. O Franco-Condado e a Borgonha também aceitaram bem a união, pois ambas são pequenas regiões com pouca população que ficarão mais fortes juntas e podendo inclusive dividir custos.
Há quem acuse Hollande de querer desviar a atenção com uma medida polêmica em um momento difícil de seu governo, já que sua avaliação popular vem batendo recordes de impopularidade. No entanto, a reforma já estava prevista há muitos anos e mesmo a direita já havia cogitado a possibilidade de realizar algo parecido.
A diminuição do número de regiões também não influenciará no sistema eleitoral, já que a contagem de votos não é feita por regiões ou estados, como nos Estados Unidos, mas por circunscrições. O novo mapa deverá ser debatido ainda este mês no parlamento e implementado até o final do ano.