Cerca de 4,7 milhões de paraguaias e paraguaios irão às urnas neste domingo (30/04) para eleger quem, entre os 13 candidatos em disputa, será o presidente que governará o país pelos próximos cinco anos, até meados de 2028.
A principal particularidade das eleições no Paraguai é que até mesmo o pleito presidencial se dará em turno único. Ou seja, quem tiver mais votos neste domingo será eleito, mesmo que tenha menos de 40% do total [como aconteceu em 2003, quando Nicanor Duarte foi eleito com apenas 37,18% dos votos].
Para tornar o cenário ainda mais complexo, as pesquisas vêm mostrando panoramas muito díspares, o que torna quase impossível fazer previsões sobre favoritismos.
De acordo com as diferentes sondagens, há três candidatos que aparecem com alguma chance de terminar o dia como presidente eleito do Paraguai.
Um deles é o governista Santiago Peña, que defende uma hegemonia de 75 anos do Partido Colorado. Desde a posse de Juan Natalicio González, em agosto de 1948, a legenda conservadora quase nunca perdeu o poder no país, entre mandatos democráticos e o período ditatorial liderado pelo general Alfredo Stroessner (1954-1989).
Economista de 44 anos, Peña está mais ligado ao ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), pois foi ministro da Fazenda durante o seu mandato, do que ao atual mandatário, Abdo Benítez. O candidato, inclusive, chegou a criticar a falta de apoio do governo à sua campanha.
Durante quase toda a campanha, seu principal adversário foi o liberal Efraín Alegre, advogado de 60 anos que foi ministro de Obras Públicas do governo de Fernando Lugo e que conseguiu restabelecer a aliança entre o seu Partido Liberal e a progressista Frente Guasú do ex-presidente.
O único período presidencial no Paraguai que não foi liderado pelos colorados aconteceu entre 2008 e 2013, quando Lugo venceu as eleições e governou até 2012, ano em que foi vítima de um golpe de Estado parlamentar orquestrado pelo Partido Liberal, do seu então vice Federico Franco, que governou durante o último ano de mandato.
Alegre foi um dos poucos membros do setor golpista que se colocou contra o impeachment de Lugo, e se recusou a conformar o ministério de Franco. No ano seguinte, passou a liderar a reconfigurada aliança entre os liberais e a Frente Guasú, o que levou a ser segundo colocado nas duas últimas eleições presidenciais paraguaias [perdeu para Cartes, em 2013, e para Benítez, em 2018].
A terceira candidatura com chances é a de Paraguayo Cubas, ou simplesmente Payo Cubas, como é conhecido no país. Ultranacionalista até no nome, Payo é um ex-membro do Partido Colorado que fundou seu próprio partido em 2018, o Cruzada Nacional, pelo qual concorre à presidência este ano.
TSJE Paraguai
Cerca de 4,7 milhões de pessoas estão habilitadas para votar, para eleger o presidente do Paraguai pelos próximos cinco anos
Em 2018, Payo foi eleito senador com um discurso de extrema direita alinhado com outros movimentos similares que surgiam na América Latina naquele então [como o que levou o brasileiro Jair Bolsonaro a ser eleito presidente do Brasil no mesmo ano].
Seu mandato, no entanto, durou apenas um ano. Foi cassado em novembro de 2019 por falta de decoro. Entre suas muitas declarações polêmicas em sessões do Congresso paraguaio, está uma em que defendeu o assassinato de brasileiros que vivem no país.
“Temos bandidos brasileiros em nosso país. Invasores que estão agora desmatando o país! Tem que matar pelo menos uns 100 mil brasileiros bandidos. Quantos brasileiros tem aqui? Dois milhões? Ao menos 100 mil são bandidos”, afirmou na ocasião.
Pesquisas discordantes
As pesquisas de opinião no Paraguai mostram cenários muito contrastantes entre si. Algumas preveem uma vitória relativamente tranquila do governista Peña, enquanto outras indicam que Alegre possui uma pequena vantagem, dentro da margem de erro.
Uma das últimas pesquisas publicadas pela imprensa paraguaia é a da Fasac Consultoria, divulgada em 20 de abril, que mostra Peña com 43,4% contra 37,1% de Alegre. Uma vantagem de 6% que está acima da margem de erro, mas que apresenta queda [era de 9% na medição de março].
A última sondagem conhecida, no entanto, favorece levemente a candidatura da oposição. Segundo a medição difundida pelo instituto Atlas Intel na terça-feira (25/04), Alegre tem 34,3% das intenções de voto, enquanto Peña possui 32,8%. A diferença entre os dois está dentro da margem de erro que é de 2,5%.
Entretanto, essa mesma pesquisa Atlas Intel mostra números favoráveis a Payo Cubas, já que, em comparação à medição anterior [de 2 de abril], ele teve um salto de oito pontos e meio, passando de 14,5% para 23,1%, enquanto Alegre e Peña perderam quatro pontos cada um, o que mostra um crescimento importante da sua candidatura na reta final.
Há inclusive uma pesquisa em que Payo aparece em segundo lugar. Na medição da consultora MultiTarget, o candidato da extrema direita teria 24,7%, superando Alegre, que aparece com 20,6%, e ficando atrás de Peña, que tem 34,9%.
Sobre as eleições paraguaias
Além do cargo majoritário, a cidadania paraguaia deverá eleger também os 45 senadores e 80 deputados que vão compor o Congresso, e os 17 governadores de províncias.
A votação acontecerá por meio de urnas eletrônicas, razão pela qual o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral do Paraguai (TSJE) prevê que o anúncio do presidente eleito ocorrerá ainda neste domingo.