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Noam Shalit, pai do soldado sequestrado pelo Hamas, pede para que a justiça não cancele o acordo
Antes de a lista de prisioneiros palestinos, que serão libertados em troca do soldado israelense Gilad Shalir, ser divulgada neste final de semana, já era sabida a opinião de parte da sociedade israelense com relação ao acordo entre o Hamas e Tel Aviv. Uma pesquisa apontou que a maioria apóia a decisão. Porém, os parentes das vítimas dos ataques da resistência armada palestina não apenas se opuseram às libertações como entraram com pedidos, na Suprema Corte israelense, para a anulação ou adiamento do acordo.
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Um dos recursos foi apresentado por Meir Schijveschuurder, que perdeu os pais e três irmãos no atentado suicida cometido em 2001 na pizzaria Sbarro, em Jerusalém. O atentado deixou 15 mortos, incluindo o brasileiro Giora Balazs, de 68 anos. A associação Almagor – que representa algumas famílias de vítimas de atentados – e o advogado Zeev Dasberg, que perdeu sua irmã em um ataque em 1996, também entraram com recursos.
Os ânimos estão exaltados. Domingo (16/10) pela manhã, representantes da extrema-direita de Israel conseguiram passar pela segurança da casa do ministro da Justiça, Yaakov Neeman, e protestaram contra a libertação dos palestinos em sua porta. Outros militantes se manifestaram em frente à casa do presidente, Shimon Peres.
“Eles temem novos ataques do que denominam ‘terroristas palestinos’”, comentou Narmin Yanen, 54, moradora de Rammalah. “Talvez não saibam, mas as vítimas palestinas do terrorismo sionista são milhares de vezes maiores”, afirmou. Segundo levantamento do B’Tselem, centro de informações israelense para os direitos humanos na Palestina, Israel matou 4.836 civis palestinos entre 2000 e 2009, enquanto as vítimas israelenses somaram 482 – em sua maioria (243) militares.
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Professora e pesquisadora da Universidade Hebraica de Jerusalém, Nurit Peled-Elhanan também viveu situações extremas. O pai, Matti Peled, foi um general famoso, que se tornou pacifista após deixar o exército israelense e sofreu perseguições por isso. Uma das filhas, Samarder, foi morta em 1997, aos 13 anos, em um ataque em Jerusalém. Nurit não responsabilizou o homem-bomba pela morte de Samarder e sim o “terrorismo” do governo de Israel e a ocupação “opressiva e assassina”, capazes, segundo ela, de provocar reações-limite. Para ajudar outras mães, na maioria palestinas cujos filhos foram assassinados por soldados sionistas, Nurit fundou uma organização, a Bereaved Families for Peace [Famílias enlutadas pela paz].
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Ao contrário dos parentes de israelenses mortos em ataques semelhantes, que censuram o acordo e decidiram contestá-lo na Suprema Corte, Nurit defende que todos os detentos palestinos, cerca de seis mil, deveriam deixar as prisões. “Trata-se de um cinismo, como o filósofo esloveno Slavoj Zizek definiu (‘eles sabem o que fazem e ainda assim continuam fazendo’). É espantoso. O objetivo é enfraquecer [Mahmoud] Abbas e perdê-lo como interlocutor das negociações de paz, por um lado, e por outro tirar poder de Avigdor Lieberman [ministro das Relações Exteriores de Israel, um dos principais líderes da extrema-direita sionista]. Não há nenhum gesto humanitário nesse acordo, ao contrário do que as autoridades querem fazer crer”, opinou.
Apesar de sentir-se feliz com o fato de Shalit e de mais de mil palestinos voltarem para casa, Nurit tem pena do provável destino deles. Do soldado, pelos interrogatórios duros que o governo israelense irá fazer; dos palestinos, porque muitos serão extraditados e porque correm o risco de retornar à prisão depois de libertados.
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