Atualizada às 11h18
A Assembleia Nacional da Coreia do Sul apresentou nesta quinta-feira (08/12) uma moção para destituir a presidente do país, Park Geun-hye, envolvida em um escândalo de tráfico de influência. O texto deve ser votado nesta sexta (09/12) e a oposição é majoritária no parlamento.
A votação dos 300 membros do parlamento será anônima, e são necessários dois terços deste total – o que seria atingido com todos os votos da oposição mais 28 do partido do governo, que pode vir de dissidentes. A iniciativa dá o aval para começar um processo de cassação de Park, enfraquecida pelo maior escândalo político dos últimos anos.
Se a moção for aprovada, Park é afastada por até 180 dias até que o Tribunal Constitucional referende ou não o texto. Caso seis dos nove juízes votem a favor, ela é formalmente destituída.
A primeira mulher presidente da Coreia do Sul poderia, portanto, se tornar a primeira chefe de Estado a ser destituída, já que o impeachment contra o ex-presidente Roh Moo-hyun, em 2004, foi rejeitado pelo Constitucional.
Agência Efe
Park pode ser destuída provisoriamente da Presidência da Coreia do Sul nesta sexta
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Escândalo
O escândalo foi revelado em outubro, quando surgiram rumores de que Park seria aconselhada por Choi Soon-sil, sua amiga há quase quatro décadas. Choi, mesmo não exercendo nenhum cargo público, opinava em decisões que variavam da cor das roupas que a presidente usava até discursos e grandes decisões políticas, tendo, segundo denúncias, até acesso a informações confidenciais. Ela teria, inclusive, criado uma espécie de “clã” para auxiliar a presidente, o grupo das “Oito Fadas”.
Os rumores foram confirmados no mesmo mês, quando Park veio a público admitir ter recebido aconselhamento de Choi Soon-sil. A mandatária se desculpou durante uma entrevista coletiva de imprensa, afirmando ter agido sempre “com um coração puro”.
No entanto, de acordo com Park, Choi a teria aconselhado, editando seus discursos, apenas em 2012, durante sua campanha presidencial, e em 2013, pouco após a hoje presidente assumir o cargo.
Choi, por sua vez, negou ter criado as “Oito Fadas”, mas confirmou ter auxiliado Park. Disse, porém, não saber que havia tratado de assuntos confidenciais por não possuir nenhum cargo no governo.
A crise política na Coreia do Sul levou milhares de pessoas às ruas, insatisfeitas com a disparidade entre a elite político-empresarial do país e o resto da população. Os depoentes do caso têm sido recebidos por gritos de “prendam todos” na porta da Assembleia Nacional.
Empresários
Grandes grupos empresariais do país, tais como Samsung, LG e Hyundai, estão sendo investigados por doações feitas a uma fundação controlada por Choi, o que levanta suspeitas sobre a extensão da influência dela no governo de Park. A “Rasputina” coreana, como ficou conhecida a amiga da presidente, desviaria, inclusive, parte deste dinheiro.
Os depoimentos dos empresários são transmitidos pela televisão, ao vivo. As confissões dos empresários poderiam esclarecer se a presidente e sua amiga os extorquiram sob ameaças ou concederam favores em troca das doações.
Os olhares estão focados principalmente no vice-presidente da Samsung, Lee Jae-yong, no presidente do grupo Hyundai Motor, Chung Mong-koo, e no presidente da Lotte, Shin Dong-bin.
A Samsung , por exemplo, deu 25 bilhões de wons (cerca de US$ 20,5 milhões) para as fundações, dos quais uma parte foi transferida diretamente para pagas aulas de hipismo para a filha de Choi. Questionado por um deputado sobre se sabia de algo, o vice-presidente da Samsung afirmou desconhecer o fato. Perguntado se concordava com o fato de que as empresas estavam em “conluio” com Choi, Lee respondeu ter “tantas fraquezas” e disse que a corporação tinha “coisas a corrigir”.
“A crise me fez perceber que é preciso mudar para atender às expectativas do público, prosseguiu Lee. Um deputado, em resposta, pediu para que ele parasse com “respostas e desculpas ridículas”.