O parlamento do Senegal anunciou uma reunião extraordinária nesta segunda-feira (05/02) para debater uma possível nova data das eleições presidenciais.
O pleito estava originalmente previsto para acontecer no dia 25 de fevereiro, mas foi adiado por tempo indeterminado, após o Conselho Constitucional ter excluído dezenas de nomes da lista de candidatos. O adiamento foi anunciado no sábado (03/02) pelo presidente Macky Sall, de centro-direita.
Entre os candidatos excluídos pelo Conselho Constitucional estão as duas figuras mais destacadas da oposição a Sall: Karim Wade e Ousmane Sonko.
O caso de Sonko é o mais chamativo, já que o seu Partido Patriotas pelo Trabalho, Ética e Fraternidade (conhecido pela sigla Pastef) é apontado por pesquisas de institutos locais como principal ameaça ao partido governista Aliança Pela República nas eleições deste ano.
Segundo a rádio francesa RFI, meios senegaleses especulam que a mais provável nova data para as eleições é o dia 25 de agosto. Porém, no caso de ser confirmada essa informação, o pleito poderia acontecer em um cenário adverso, pois se trata, de acordo com os especialistas, de um período em que país costuma sofrer com chuvas fortes e inundações, que geralmente tornam algumas estradas inacessíveis, o que pode dificultar a mobilidade de cidadãos para o processo das votações.
O meio francês também relata o temor da oposição de que as dificuldades técnicas associadas ao adiamento levem à prorrogação do mandato de Sall até ao final do ano. Alguns líderes partidários acusaram o mandatário de tentar estender seu mandato “por tempo indeterminado”.
Twitter/ Présidence Sénégal
Parlamento do Senegal busca nova data de eleições após pressão popular
Neste domingo (04/02), manifestantes contrários ao adiamento das eleições se realizaram protestos em frente à Assembleia Nacional, localizada na capital de Dacar. O ato resultou em confronto direto entre manifestantes e policiais.
“As máscaras estão caindo. Ele (Sall) está tentando fazer um bloqueio eleitoral. Isso é um golpe constitucional e não vamos aceitar”, afirmou a candidata presidencial Anta Babacar Ngom, presidente do Movimento Alternativo para Novos Cidadãos, de acordo com o portal Africa News.
Ainda no domingo, a União Africana (UA) expressou preocupação em relação ao cenário de incerteza envolvendo as eleições. Em comunicado, o presidente da Comissão Africana (principal órgão da UA), Moussa Fakhi Mahamat, apelou ao governo do Senegal para que se estipule uma nova data e que ela seja “o mais breve possível” e que o pleito ocorra “com transparência, paz e harmonia nacional”.
Prisão de Ousmane Sonko
Quem protagoniza a oposição do atual governo senegalês é o ex-promotor Ousmane Sonko, considerado nacionalista de esquerda, que não está autorizado a participar das eleições por estar preso, desde julho de 2023.
Sendo uma das principais ameaças do presidente em exercício, Sonko foi acusado de cometer oito crimes relacionados com sua suposta responsabilidade em organizar protestos contra o governo.
Isso associado à dissolução de sua legenda, o Partido Patriotas pelo Trabalho, Ética e Fraternidade (Pastef), que foi também acusado de “promover atos violentos no país” – em referência aos protestos ocorridos desde maio contra as medidas econômicas de centro-direita tomadas por Sall.
Os advogados de Sonko consideraram a prisão como um atentado contra a democracia e que teria motivos eleitorais, já que o então candidato aparecia liderando a maioria das pesquisas para as eleições que, na ocasião, estavam programadas para ocorrer neste mês.