Com a credibilidade abalada entre os eleitores espanhóis devido ao polêmico caso de contabilidade paralela revelado pelo ex-tesoureiro Luís Bárcenas, os dirigentes do governista PP (Partido Popular) discutem uma renovação dentro do partido. Até o momento, porém, não há consenso e os políticos se dividem em dois setores: o que pede a remodelação moderada e o que deseja uma reforma radical.
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O grupo “radical” do partido considera que chegou o momento de promover uma renovação completa na formação da organização política. Entretanto, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, acusado de envolvimento no financiamento ilegal do PP denunciado por Bárcenas, continuaria sendo o principal dirigente, porque “não se questiona sua liderança”.
Agência Efe
Mariano Rajoy, presidente do governo espanhol e líder do Partido Popular. Ele nega envolvimento no financiamento ilegal
“Não basta uma convenção como a que está prevista para outubro para fazer as mudanças, é necessário um congresso extraordinário onde haja um executivo completamente novo liderado por Rajoy”, disse um dos dirigentes. Segundo ele, a necessidade é enfrentar o novo tempo após o escândalo de Bárcenas com uma equipe “sem máculas”. “Seria outro PP, um partido que busque a conexão com os cidadãos através de novas caras”, concluiu.
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Já o setor definido como “moderado” também defende uma reforma, que, entretanto, atingiria apenas uma parte da cúpula do partido e teria a secretária-geral do PP, María Dolores de Cospedal, à frente, rodeada de pessoas de confiança.
“Tudo que se relacione com Bárcenas deve acabar e Cospedal não pode ser vítima, porque sua relação com o ex-tesoureiro é nula”, defendem os moderados. Eles também apóiam uma “segunda parte” do escândalo, com uma nova gestão voltada à recuperação da confiança. A continuidade da secretária-geral seria importante nesse âmbito, porque “sua destituição criaria uma imagem muito negativa do partido e da gestão do caso”.
Nesta quarta-feira (14/08), María Dolores de Cospedal prestou depoimento sobre o caso Bárcenas e negou com veemência que estivesse envolvida na contabilidade paralela ou mesmo que soubesse do financiamento ilegal. Ela admitiu absoluta falta de controle sobre as contas da cúpula do partido e também insistiu que Rajoy fica à margem de qualquer decisão econômica da organização.
A última decisão sobre os novos rumos do PP cabe a Rajoy, que se recusou categoricamente a renunciar ao cargo de presidente do governo e convocar eleições antecipadas. Enquanto uma medida não é anunciada, partidos de oposição insistem na culpa do presidente do governo e na mudança da dirigência de todo o país.
“Deixemos a Justiça trabalhar e que se saiba no Parlamento a verdade sobre mais de 20 anos de financiamento irregular”, declarou Alfredo Pérez Rubalcaba, o secretário-geral do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), depois de dois ex-secretários-gerais do PP terem negado no tribunal participar de um caixa 2 no partido.