A Comissão Eleitoral Nacional Independente da Nigéria anunciou que Bola Tinubu será o novo presidente do país após as eleições realizadas no sábado (25/02). O resultado anunciado nesta quarta-feira (01/03) não é reconhecido pelos partidos que ficaram em segundo e terceiro lugar no pleito, que acusam fraude.
Tinubu é do patido Congresso de Todos os Progressistas, o mesmo do atual presidente Muhammadu Buhari, que deixa o poder após dois mandatos. Ele recebeu 8,8 milhões de votos. Atiku Abubakar, do Partido Democrático Popular, teve 6,9 milhões de votos e Peter Obi, do Partido Trabalhista, foi escolhido por 6,1 milhões de pessoas.
O país tem 92 milhões de eleitores cadastrados e as regras determinam que, para ser presidente em apenas um turno, um candidato precisa de ao menos 25% dos votos em pelo menos 24 dos 36 estados.
Obi foi a novidade da eleição, já que os partidos do atual presidente e de Abubakar dominam a política da nação mais populosa da África desde que a Nigéria deixou de ser uma ditadura em 1999. O presidenciável do Partido Trabalhista venceu Tinubu no estado de Lagos, sede da capital do país que foi governada pelo presidente eleito entre 1999 e 2007.
Suspeitas
Antes do resultado final ser declarado, o Partido Democrático Popular e o Partido Trabalhista já levantaram suspeitas sobre a lisura do processo, alegando a manipulação dos resultados. O pleito teve registros de filas e atrasos na divulgação de resultados, mas a autoridade eleitoral afirma que a eleição foi “limpa e justa”.
Twitter/Muhammadu Buhari
Atual presidente Muhammadu Buhari [à direita] parabeniza Bola Tinubu [à esquerda]pela vitória nas eleições nigerianas
“A eleição está irremediavelmente comprometida e perdemos totalmente a fé em todo o processo”, disse o presidente do Partido Trabalhista, Julius Abure, ao lado de representantes do partido de Abubakar. “Exigimos que essa farsa de eleição seja imediatamente cancelada”, disse.
“Peço aos meus colegas competidores que façamos um time. É a única nação que temos. É um país que devemos construir juntos”, disse o presidente eleito em seu discurso de vitória.
“Eleições delicadas”
Segundo especialistas, existem fatores geopolíticos que forçaram o mundo a olhar com mais atenção para as eleições nigerianas, como a crise energética europeia, o crescimento de grupos extremistas islâmicos em países vizinhos e as incertezas que pairam sobre o resultado do pleito.
Orlando Muhongo, licenciado em relações internacionais pela Universidade Privada de Angola (Upra), e Eduardo Ernesto Filippi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em entrevista à Sputnik Brasil, afirmam que após a Europa cortar sua demanda por gás russo, a Nigéria como o maior fornecedor de gás no continente africano “passou a ser observada de perto”.
Muhongo ainda enfatizou que “se a maior economia do continente africano passar por uma crise, qualquer instabilidade afetará os demais países”. Segundo ele, a Nigéria é hoje um dos países mais importantes geopoliticamente, “porque figura como uma possível substituta para o gás e o petróleo de Moscou na Europa”.
Além disso, como ocorreu em outros países africanos, organizações extremistas, como o notório Boko Haram (grupo terrorista proibido na Rússia), ameaçam jogar o país africano em uma crise de segurança. No último ano, segundo a ONG Portas Abertas, houve mais de 4 mil casos violentos na Nigéria, como ataques a bomba e a tiros, que deixaram quase 11,4 mil mortos no país.
(*) Com Brasil de Fato