O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, afirmou nesta terça-feira (13/08) que os Estados Unidos devem parar com as “práticas que atentam contra a soberania”, referindo-se à espionagem global promovida pelos norte-americanos. A declaração foi feita em entrevista coletiva conjunta com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em visita ao Brasil.
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Patriota disse também que, se não houver respostas para as denúncias de espionagem norte-americana no Brasil, feitas pelo jornal O Globo há um mês, existe o risco de se formar uma “sombra na relação bilateral”, que ele qualificou como “excelente”. Segundo ele, a “interceptação eletrônica” seria um “novo desafio” para essas relações e “não bastam as explicações”: os EUA devem “acabar com essas práticas”.
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O ministro lembrou que, após a revelação da espionagem, o governo brasileiro abriu “canais técnicos e políticos de comunicação” com os norte-americanos e que “esclarecimentos estão sendo solicitados, mas os esclarecimentos não são um fim em si mesmo. Os esclarecimentos não significam aceitar o status quo”.
Agência Efe
Kerry e Patriota durante entrevista coletiva de hoje. O secretário dos EUA ainda deve se encontrar com Dilma Rousseff
“Precisamos descontinuar práticas atentatórias à soberania, à relação de confiança entre os Estados, e violatória das liberdades individuais que nossos países tanto prezam”, afirmou o chanceler brasileiro, que também citou o protesto do Mercosul (Mercado Comum do Sul) perante a ONU, feito na semana passada. “Tudo isso reflete uma preocupação legítima da região e da comunidade internacional”, sustentou.
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Kerry, por sua vez, informou que os EUA pretendem continuar com a prática de espionagem, a despeito dos pedidos de Patriota e outros representantes internacionais de “descontinuidade” da ação. O argumento é o de que isso vai garantir a segurança dos cidadãos norte-americanos e do resto do mundo.
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“Nós discutimos muito diretamente com o governo brasileiro. Vamos continuar esse diálogo para ter certeza de que o seu governo entenda perfeitamente, para garantir não só a segurança dos norte-americanos, mas da população em geral”, afirmou o secretário de Estado.
“Não posso discutir aqui questões operacionais, mas posso dizer que o Congresso dos EUA aprovou uma lei depois do [atentado de] 11 de Setembro [de 2011], depois que fomos atacados pela Al Qaeda. [Uma lei] que respeitava os nosso padrões legais, e depois o programa foi implementado sob a supervisão do judiciário”, explicou Kerry, em referência ao “Patriot Act”, legislação aprovada pelo governo de George W. Bush.
Segundo ele, não são só os EUA que “recolhem inteligência estrangeira” e afirmou que essa coleta ajudou seu país a se “proteger de muitas ameaças, e a outros povos do mundo, como o brasileiro”.
No começo de julho, uma matéria assinada pelo jornalista norte-americano Glenn Greenwald, o mesmo que recebeu milhares de documentos secretos do ex-analista da CIA Edward Snowden, revelou que os EUA haviam espionado milhões de e-mails e telefonemas brasileiros. Desde então, o governo da presidente Dilma Rousseff tem exigido esclarecimentos sobre a prática e programou uma viagem diplomática para os EUA no próximo mês de outubro.
Kerry iniciou sua primeira visita oficial à América do Sul ontem (12), quando chegou à Colômbia, de onde veio para o Brasil. Segundo ele, foram escolhidos os dois maiores aliados dos EUA na região para a viagem. Ele ainda deve se reunir com Dilma antes de deixar o país.