A Argentina viveu neste domingo (11/06) uma nova jornada de eleições regionais, com duas províncias elegendo seus governadores: San Luis, na Região Central do país, e Tucumán, no Noroeste argentino.
O saldo foi menos positivo para a coalizão governista Frente de Todos, em comparação com o registrado em 14 de maio, quando venceu em três províncias estrategicamente importantes (Salta, La Pampa e Tucumán).
Desta vez, a aliança que representa a união de diferentes setores do peronismo (incluindo o kirchnerismo, sua vertente mais progressista, mas também outras correntes moderadas e até algumas de direita) perdeu na província de San Luis, onde Jorge Fernández, aliado do atual governador peronista Alberto Rodríguez Saá (ambos do setor mais à direita do peronismo), perdeu contra Claudio Poggi, do partido macrista Proposta Republicana (PRO), figura próxima ao prefeito de Buenos Aires e pré-candidato presidencial Horacio Rodríguez Larreta (direita liberal).
Poggi teve 52,9% dos votos, pouco mais de 151 mil votos no total, enquanto Fernández, com seus 127 mil votos, alcançou os 44,3%.
No entanto, na província de Tucumán, muito mais populosa e estratégica, a vitória foi sim governista, e de uma figura de centro, ligada ao presidente Alberto Fernández (centro-esquerda): Osvaldo Jaldo, governador desde setembro de 2021, venceu as eleições com 540 mil votos, ou 56,3% do total. O candidato do PRO, Roberto Sánchez, ficou com 327 mil votos, equivalentes a 34,1%.
A disputa em Tucumán encerrou uma disputa judicial de semanas. O pleito estava marcado para acontecer junto com a jornada eleitoral do mês anterior, em 14 de maio, mas foi travado por uma liminar na Suprema Corte de Justiça com a qual partidos de direita tentaram impugnar a candidatura de Jaldo.
A manobra opositora surtiu efeito por algumas semanas, até que as liminares foram derrubadas e a autoridade eleitoral acabou agendando uma nova data para realização do pleito.
Twitter / Alberto Fernández
Presidente argentino comemorou vitória peronista nas eleições regionais de Tucumán, província eleitoralmente estratégica no país
Nesta segunda-feira, o presidente Fernández publicou mensagens nas redes sociais felicitando as vitórias de Poggi e Jaldo.
As eleições regionais são uma prévida da disputa a nível nacional, as eleições presidenciais, cujo primeiro turno acontecerá em 22 de outubro (um possível segundo turno se´ria em 19 de novembro) e na qual o mandatário já anunciou que não irá concorrer à reeleição.
¡Felicitaciones @OsvaldoJaldo! El camino construido con @JuanManzurOK y tu voluntad inquebrantable por seguir mejorando la calidad de vida de las y los tucumanos ha sido retribuida. pic.twitter.com/WEBmhAweeR
— Alberto Fernández (@alferdez) June 12, 2023
Extrema direita volta a fracassar no interior
Tanto em San Luis quanto em Tucumán, os pequenos movimentos ligados ao candidato de extrema direita Javier Milei e seu partido Liberdade Avança voltaram a mostrar que não possuem no interior da Argentina a mesma força que demonstram na capital.
Em San Luis, o candidato do Liberdade Avança, Bartolomé Abdala, acabou desistindo e não apoiou ninguém entre os adversários que seguiram na disputa.
Já em Tucumán, o partido autodenominado “libertário” (e que na verdade defende uma espécie de ultraliberalismo mesclado com autoritarismo e apologia a antigas ditaduras argentinas) concorreu com Ricardo Bussi, que obteve pouco mais de 37 mil votos, 3,9% do total.
Bussi é um dos elos entre a “defesa da liberdade” pregada pelo discurso de Milei e sua sintonia com apologistas dos períodos de autoritarismo militar na Argentina durante a segunda metade do Século XX: o candidato é filho do falecido general Antonio Bussi, que foi interventor da província de Tucumán durante a última ditadura do país, entre março de 1976 e dezembro de 1977, condenado a prisão perpétua em 2008 por assassinato de opositores do regime e outros crimes contra a humanidade, e morto três anos depois, em novembro de 2011, quando estava na prisão.
Apesar desses fracassos, na capital Buenos Aires e na Província de Buenos Aires (que inclui os 135 municípios da Região Metropolitana que ficam ao redor do distrito federal argentino), as duas regiões que mais populosas do país, com quase metade do eleitorado total (juntas, elas têm cerca de 20 milhões, dos 45,8 milhões de habitantes da Argentina), Milei e seu partido aparecem com mais de 20% das intenções de voto em todas as pesquisas de opinião publicadas desde o mês de março.