Dezenas de ex-ministros do Peru denunciaram uma “violação da ordem democrática” após o Congresso aprovar o impeachment do ex-presidente Martín Vizcarra e pediram que a Organização dos Estados Americanos (OEA) envie uma missão especial para acompanhar a crise política no país.
Em documento assinado por 42 ex-ministros publicado nesta sexta-feira (13/11), os autores declararam que não estão defendendo Vizcarra, mas sim expondo a crise política e denunciando uma “decisão arbitrária” do Congresso.
“A decisão arbitrária do Congresso de aprovar a vacância do presidente da República por incapacidade moral gerou uma gravíssima crise política, afetando a ordem constitucional e obrigando a população a sair às ruas”, afirmam.
Os ex-ministros ainda chamaram o governo de Manuel Merino, recém-empossado após o impeachment, de “ilegítimo” e disseram que “os grupos de poder que fomentaram a vacância da presidência” querem se apropriar de recursos destinados às próximas eleições no país.
O documento ainda pede que “a comunidade internacional siga acompanhando esses feitos delicados que machucam o regime constitucional e democrático” e que o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, convoque “o Conselho Permanente para realizar uma apreciação coletiva da situação e o envio de uma missão especial ao país”.
Comparto pronunciamiento de 42 exministros, incluyendo 5 exprimeros ministros sobre la crisis política y los hechos de represión a jóvenes en manifestaciones, solicitando un pronunciamiento claro del Tribunal Constitucional y solicitando aplicación de la Carta Democrática de OEA pic.twitter.com/RzCObRGEXp
— Juan F Jimenez Mayor (@JuaJimenezMayor) November 13, 2020
Fotos Públicas
42 ex-ministros classificaram governo de Manuel Merino como ‘ilegítimo’
Sobre a violência policial e a repressão contra os últimos protestos que ocorreram em diversas cidades peruanas, os ex-ministros pedem à Justiça que responsabilize os policiais autores de atos violentos.
“O uso desproporcional da força produziu feridos graves, o que nos faz exigir que se atenham à aplicação dos direitos humanos dos cidadãos e se determinem responsáveis por esses atos condenáveis de abuso da força”, afirmam.
O Congresso do Peru aprovou na última segunda-feira (09/11) o impeachment do presidente Martín Vizcarra por “incapacidade moral”. O chefe do Congresso peruano, Manuel Merino, assumiu de forma interina a presidência na terça-feira e exercerá o cargo até a data prevista para o final do mandato de Vizcarra, em 28 de julho de 2021.
Novos protestos convocados
Diversos atos e manifestações foram convocadas para a tarde deste sábado (14/11) marcando o 6º dia consecutivo de protestos no Peru desde a destituição de Vizcarra.
As manifestações estão previstas para começarem em diversas cidades do país a partir das 15h (17h no horário de Brasília) e são puxadas por palavras de ordem como “Fora Merino”, “Congresso golpista” e “Contra a Violência Policial”.
Desde a última terça, manifestantes têm sido duramente reprimidos por autoridades peruanas. Até o momento, foram contabilizados mais de 30 feridos em 5 dias de marchas.
O Instituto de Imprensa e Sociedade informou que dois jornalistas ficaram feridos enquanto cobriam as manifestações da noite da última quinta-feira (12/11). “A polícia atira em jornalistas e manifestantes diretamente”, disse o IPYS em um tweet.
A Defensoria Pública do Peru exigiu que as forças de segurança “cessem imediatamente o uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os cidadãos que exercem seu direito de manifestação. Os excessos podem constituir crimes graves”, disse o órgão.