O governo do Peru oficializou nesta quarta-feira (31/05), um decreto pelo qual se autoriza a entrada no país de membros da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF, por sua sigla em inglês) e da Força Militar Especial dos Estados Unidos (USSF).
A partir desta quinta-feira (01/06), e até dezembro deste ano, o país deve receber milhares de oficiais militares norte-americanos, que deverão participar, segundo o governo peruano, de atividades de treinamento com efetivos das Forças Armadas e da Polícia Nacional do Peru.
Segundo comunicado do Palácio Pizarro, sede do Executivo peruano, “o programa é parte de um acordo para realizar atividades de cooperação e treinamento, incluindo diversas rotinas associadas ao Exercício Militar Internacional Resolute Sentinel 2023”.
O decreto assinado pela presidente Dina Boluarte também permite que os militares norte-americanos entrem com suas armas em território peruano, e que gozem de imunidade diplomática enquanto estiverem participando das atividades previstas no acordo.
“O programa trará diferentes grupos de oficiais estrangeiros, que chegarão em diferentes datas, com cada grupo permanecendo por um prazo não maior de três meses”, acrescentou o decreto.
Reação da oposição de esquerda
O decreto da presidente Boluarte foi fortemente repudiado pelos partidos de esquerda, que fazem oposição ao governo no Congresso peruano.
Presidência do Peru
Presidente peruana Dina Boluarte assinou decreto que permite ingresso de militares norte-americanos no país até dezembro de 2023
Segundo o líder do partido Peru Livre, Vladimir Cerrón, “a intromissão estrangeira não é admissível em um Estado soberano”, e que a medida “atenta contra a segurança interna” do país.
O político opositor questionou alguns detalhes do decreto, especialmente a justificativa de que os militares norte-americanos participação de simples “exercícios de treinamento”.
Além disso, Cerrón disse que as atividades previstas no decreto indicam que esses exercícios ocorrerão em regiões como Callao, Junín, Cusco e Ayacucho, algumas das que mais têm registrado manifestações contra o governo de Boluarte desde a sua posse, em dezembro de 2022.
“O governo deveria esclarecer as reais intenções desse programa e essa coincidência de realizar atividades nas mesmas regiões onde há mais ação dos movimentos sociais. Mas este é um governo que já mostrou que não se importa com os direitos humanos daqueles que se manifestam contra suas arbitrariedades”, protestou Cerrón, fazendo alusão às mais de 70 mortes registradas durante as mobilizações ocorridas no Peru nos últimos meses.
Outro que criticou o decreto foi o parlamentar Jaime Quito, também do partido Peru Livre, que acusou o governo de Boluarte de querer “introduzir a doutrina da Otan no país”, em referência à Organização do Tratado do Atlântico Norte, entidade à qual a nação sul-americana não faz parte.
Em seu discurso no Congresso, Quito frisou que “tanto falamos em soberania nesta casa, e agora permitimos a entrada de exércitos estrangeiros, de militares vindos de um país que já invadiu povos da Ásia, da África, das Américas, de tantos lugares do mundo”.