Mais de dez mil pessoas protestaram nesta sexta-feira (19) nas ruas de Trujillo, a terceira maior cidade do Peru, para pedir mais segurança. A manifestação, convocada pelo arcebispo Miguel Cabrejos, contou com a participação de autoridades políticas e civis locais. Partiu de um pedido de ajuda feito pelos cidadãos, mediante o enfrentamento entre quadrilhas, extorsão e denúncias de existência de um esquadrão da morte, segundo os jornais El Comercio (Peru) e El Pais (Espanha).
Trujillo, cidade comercial que possui um centro turístico localizado na costa peruana, 600 quilômetros ao norte de Lima, enfrenta o crescimento da violência, que já atinge um dos maiores índices do país. O prefeito César Acuña Peralta pediu com urgência um reforço de pelo menos dez mil policiais para a cidade, que possui 747 mil habitantes.
Nos últimos meses, a violência aumentou e uma das razões, segundo as denúncias feitas por jornais locais e por organizações governamentais, é que a polícia tem formado esquadrões da morte para assassinar criminosos da cidade. As autoridades do país negam que isso esteja acontecendo. A polícia trujillana foi amparada recentemente por um decreto legislativo que exime de responsabilidade penal os efetivos que usam suas armas em enfrentamentos com criminosos.
Pelo menos nove casos de tiroteios provocados por policiais estão sendo investigados pela promotoria, que aponta o coronel Elidio Espinoza Quispe como o líder dos supostos esquadrões. Segundo o Ministério Público, 64 policiais foram denunciados nos últimos dois anos, acusados de assassinar supostos criminosos. A maioria desses casos foi arquivada sob a justificativa de que os agentes atuaram em cumprimento da lei.
Medo
Um dos principais problemas relacionados à violência é a extorsão. Pelo menos 20 quadrilhas dedicadas a esta atividade operam na cidade, de acordo com a polícia. É cobrada uma tarifa, chamada de taxa de proteção, no valor de um sol (equivalente a 0,60 real) por dia, dos mototaxistas, por exemplo. De acordo com a Câmara de Comércio da região, sete de cada dez comerciantes pagam taxas que chegam a até três mil soles por mês (1.814 reais).
Por medo de represálias, poucos procuram a polícia para fazer denúncias. Pela falta de queixas, as quadrilhas conseguem praticar o crime e ficar impunes. Em Trujillo, foram criados adesivos para serem pregados nos veículos, avisando que estão sob proteção. Nos últimos meses, porém, os enfrentamentos entre essas quadrilhas deixaram pelos menos 30 mortos.
O governo nega os abusos policiais, mas afirmou que as denúncias serão investigadas. “Não podemos acabar com a criminalidade nas instituições ligadas ao Estado”, declarou o ministro do interior, Octavio Salazar, diante da comissão de segurança do Congresso, como resposta às acusações de responsabilidade policial.
Salazar falou com os parlamentares acompanhado do diretor geral da polícia, o coronel Quispe Espinoza. Terminada a reunião, o ministro anunciou que a polícia destinará mais efetivos para a cidade de Trujillo, atendendo à solicitação do prefeito.
O presidente do Peru, Alan Garcia, nega a existência de abusos policiais. “Não existe um esquadrão que mate assassinos ou que extermine criminosos. São seres humanos e, ainda que destruam a vida de outros seres humanos, não podemos reagir igualmente. Não haverá nenhum esquadrão da morte, nem se violará o direito de nenhum delinquente por pior que seja o seu crime”, declarou em entrevista coletiva concedida no dia 4 de dezembro deste ano.
NULL
NULL
NULL